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Trânsito de navios pelo Canal do Suez baixou 30% em janeiro

Foto Shuterstock

A navegação comercial pelo Canal de Suez, que liga os mares Vermelho e Mediterrâneo, diminuiu 30% em janeiro, devido aos ataques cruzados entre os rebeldes houthis iemenitas e os Estados Unidos da América, avança a Lusa.

Em declarações a televisões egípcias, o chefe da Autoridade do Canal do Suez, almirante Osama Rabie, acrescentou que, na primeira quinzena do mês, a tonelagem e as receitas baixaram 41%.

A queda acentuou-se depois de Estados Unidos da América e Reino Unido terem começado a bombardear as posições houthis no Iémen, na madrugada de sexta-feira, 12 de janeiro. As forças norte-americanas e britânicas responderam aos ataques iemenitas contra navios no Mar Vermelho, mas os ataques continuaram. Os líderes iemenitas emitiram declarações, ameaçando retaliar e comprometendo-se a tomar novas medidas contra o transporte marítimo. Estas declarações associaram explicitamente os ataques ao conflito em Gaza. Desde então, novos ataques houthis atingiram navios mercantes, como o M/V Gibraltar Eagle, propriedade dos Estados Unidos, e navios de guerra, como o USS Laboon.

O Canal de Suez está atualmente aberto, em ambos os sentidos, no entanto, o número de navios que por ele transitam diminuiu drasticamente. Grandes companhias de navegação, incluindo Hapag-Lloyd, Maersk e MSC, desviaram o tráfego da rota Mar Vermelho/Canal de Suez através do Cabo da Boa Esperança. Tal aumentará a duração das viagens em 10 a 12 dias e o custo do combustível, especialmente se os navios tiverem de viajar mais rapidamente para minimizar os tempos de viagem.

 

Aumento dos custos de transporte

Apesar dos ataques dos Estados Unidos e do Reino Unido, as milícias iemenitas continuam a ser capazes de atacar uma via de navegação crítica, utilizada por uma grande proporção do tráfego global de mercadorias. Recorde-se que a Rota Mercantil do Mar Vermelho abriga cerca de 15% do comércio marítimo mundial e aproximadamente 30% do volume global de navios porta-contentores.

Perante isto, “é surpreendente que os ataques ao transporte marítimo não tenham criado mais perturbações – os mercados de combustíveis fósseis mantêm-se bastante calmos, de momento, talvez porque a oferta global continua a ser suficiente”, nota a consultora britânica IGD. “No entanto, os custos de transporte mais elevados para os combustíveis fósseis e para outros bens acabarão por exercer alguma pressão inflacionista sobre os compradores em todo o mundo”.

A Aecoc, a maior associação patronal espanhola de fabricantes e distribuidores de grande consumo, já alertou que tanto o custo do frete quanto o dos seguros estão a aumentar acentuadamente, o que está a catalisar a inflação. O preço dos contentores triplicou, passando de mil euros por contentor para três mil euros. Além disso, com a chegada do Ano Novo Lunar Chinês, a 10 de fevereiro, e o tradicional aumento da procura associado a este período, o custo do transporte poderá aumentar ainda mais, levando a uma nova subida nos preços do frete nas próximas semanas.

 

Disrupção no mercado

A situação atual está a ter um impacto significativo nas principais empresas dedicadas ao fabrico e distribuição de sectores de consumo fundamentais, como a alimentação, têxteis e moda, hardware e bricolage, bens de consumo tecnológicos, entre outros. A Aecoc nota que estes sectores começam a sentir preocupação com o aumento de custos que já estão a sofrer e que, a persistirem ao longo do tempo, poderão ter um impacto direto no preço final do produto. Por outro lado, as empresas começam a ter dificuldades em fornecer determinadas matérias-primas e mesmo produtos acabados, como têxteis e mobiliário.

A situação na rota do Mar Vermelho também tem consequências ambientais, uma vez que o desvio de navios mercantes através da rota da África Austral aumenta significativamente as emissões do transporte marítimo na União Europeia, destaca a patronal espanhola. Este facto adquire especial relevância após a entrada em vigor, em janeiro deste ano, do ETS, novo regime de direitos de emissão, nos portos europeus.

Esta disrupção vem adicionar-se aos problemas no canal do Panamá, onde a seca associada às alterações climáticas e a mudança no padrão das chuvas devido ao El Niño causaram a queda do nível da água. “Enquanto isso, na Europa, o tempo chuvoso significa que o nível do Reno, uma rota de navegação fundamental para os fabricantes alemães, é muito alto. E com as próximas eleições em Taiwan a apresentarem um risco de repetição dos exercícios militares chineses que interromperam as rotas marítimas asiáticas em 2022, parece que as cadeias de abastecimento globais enfrentam uma tempestade perfeita de riscos”, destaca David Rees, Senior Emerging Markets Economist da Schroders. “Tudo isso evoca memórias dolorosas dos problemas da cadeia de abastecimento que eclodiram durante a pandemia de Covid-19. Estes fatores contribuíram para o recente surto de inflação elevada que, em última análise, obrigou os bancos centrais mundiais a aumentarem agressivamente as taxas de juro”.

 

Inflação

Tudo isto levanta a questão de saber se novos problemas na cadeia de abastecimento poderão aumentar a inflação, forçando a reavaliar perspetivas. De acordo com a Schroders, tal dependerá da duração das disrupções, mas é pouco provável que aconteça, não só porque a procura é agora mais suave, como também porque os padrões de consumo são mais equilibrados do que no período de confinamento e porque a própria cadeia de abastecimento está mais fortalecida.

David Rees considera que um risco mais imediato para a inflação mundial seria se as tensões no Médio Oriente começassem a afetar a oferta de matérias-primas, particularmente os preços da energia. Uma maior tensão na região pode potencialmente fazer subir os preços do petróleo para 120 dólares o barril, com os modelos da Schroders a apontarem uma economia global estagflacionária, com os preços da energia a catalisarem a inflação e o risco de efeitos secundários a pesarem sobre o crescimento, forçando os bancos centrais a inverter os cortes nos juros e, quiçá, a aumentá-los ainda mais. “Até agora, porém, os preços do petróleo têm-se mantido, com o Brent praticamente inalterado em pouco menos de 80 dólares por barril”, sublinha David Rees.

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