De alguns anos aesta parte, temos assistido a um fenómeno cada vez mais emergente: a partilhade fotografias de comida nas redes sociais. Partilhar o que se come, onde secome e como se come é cada vez mais uma forma de autoexpressão, um pouco portodo o mundo. O relatório “The Waitrose Food & Drink 2016” da FundaçãoWaitrose confirma isso mesmo: as redes sociais mudaram a nossa relação com acomida.
Navegar pelas redes sociais atualmente, sobretudo se pensarmos de forma mais específica no Facebook e Instagram, é certamente observar fotografias de comida. Fenómenos como o brunch ou o sushi são, em parte, difundidos pelas redes sociais. Existem até plataformas, como a Zomato, dedicadas exclusivamente à alimentação. Estamos cada vez mais a expressar-nos através da comida, seja ela consumida dentro ou fora de casa.
Anexar a estas fotografias as conhecidas hashtags como #InstaFood ou #FoodPorn é também prática comum. Ao pesquisar estas mesmas hashtags no Instagram, é possível encontrar mais de 205 milhões de fotografias partilhadas. A prática é tão comum que até podemos encontrar no Twitter comentários, em jeito de apreciação, do conceituado e mundialmente reconhecido chef Gordon Ramsay aos pratos cozinhados por centenas de utilizadores da rede.
Não existindo (ainda) dados específicos de Portugal, o estudo realizado em Inglaterra pela Fundação Waitrose é um magnífico exemplo desta explosão de comida online. Para a realização do “The Waitrose Food & Drink 2016”, a fundação inquiriu duas mil pessoas de todas as faixas etárias. Apresentando vários indicadores, o relatório aponta a necessidade, por parte das marcas e dos restaurantes, de compreenderem os interesses dos utilizadores e as tendências, locais ou globais, que se fazem sentir. Desta forma, a “fome de partilhar” pode ser usada por parte das marcas e estabelecimentos de restauração como uma ferramenta impulsionadora do negócio. Algo que, em Portugal, se pode já observar com os restaurantes a incentivarem esta partilha. Seja com apresentações visualmente mais fotografáveis ou mesmo com a criação de uma hashtag específica para o local e, assim, gerar mais buzz em torno do negócio.
Autoexpressão
Cada vez mais consumidores veem a alimentação como parte da sua identidade e querem mostrar o que comem, como comem e onde comem. Também dentro de portas, as pessoas estão mais envolvidas na cozinha com o propósito de partilhar, dar a conhecer e “agradar” aos seus seguidores nas redes sociais. Segundo o relatório, um em cada cinco cidadãos britânicos publicou uma fotografia de comida nas redes sociais ou enviou a um amigo, através do Snapchat. Este número é ainda mais impressionante se pensarmos que um em cada cinco britânicos equivale a cerca de nove milhões de pessoas.
Apesar de ser uma moda transversal a todas as idades, a faixa etária entre os 18 e os 24 anos é a mais ativa a partilhar as suas refeições. À data do estudo, mais de 2% dos britânicos disseram ter partilhado uma fotografia de comida nas últimas 24 horas. 39% dos inquiridos admitem que prestam agora mais atenção à forma como preparam e apresentam a comida do que há cinco anos. Ao passo que 44% dos consumidores preparam mais cuidadosamente as suas refeições, de forma a ser visualmente mais atraentes, quando pensam em publicar uma fotografia das mesmas.
Se, como referido anteriormente, esta tendência de partilha pode ser uma oportunidade de negócio, sobretudo para a restauração, outros negócios podem estar a ser igualmente impulsionados. A venda de taças decoradas com padrões originais e coloridos aumentou 12% no último ano, com os consumidores a procurarem loiça mais atrativa e “instagram-friendly” para partilharem as suas refeições caseiras naquela rede social.
Outro negócio daqui emergente é a proliferação de blogs especializados, sobretudo direcionados para a alimentação saudável. É cada vez maior a partilha de fotografias acompanhadas de receitas de culinária saudáveis, que causam posteriormente um forte impacto nas vendas dos ingredientes usados. Segundo a Waitrose, existe uma correlação entre os “pratos estrela” das redes sociais e o aumento das vendas de determinados produtos na cadeia de supermercados. Quase 75% dos utilizadores de redes sociais dizem que as refeições saudáveis que preparam são comuns na sua vida quotidiana. 60% escolhe mais alimentos frescos e bebidas mais saudáveis, existindo uma crescente procura de ingredientes como farinha de coco, grãos e sementes e legumes.
Partilhar receitas e fotografar os pratos do dia-a-dia é uma realidade cada vez maior e com mais adeptos. Aproveitar esta tendência em favor do negócio parece ser a oportunidade, e o desafio, que se coloca. Numa sociedade cada vez mais de imagem e de partilha online, a comida nas redes sociais veio para ficar. Até porque, como diz o ditado português, “os olhos também comem”.
Este artigo foi publicado na edição 45 da Grande Consumo.