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Pandemia faz recuar lucros da Jerónimo Martins em 2020

Vendas crescem 3,5%

Crescer é o nosso negócio”, assim o afirmou Pedro Soares dos Santos, presidente e administrador delegado do Grupo Jerónimo Martins, no anúncio dos resultados referentes ao exercício de 2020. Ano marcado pela pandemia, de muita imprevisibilidade e em que a gestão de, pelo menos, cinco meses foi feita de forma completamente atípica.

Todas essas condicionantes se refletiram nos resultados do grupo. Se excluída a aplicação da norma IFRS16, os lucros atingiram os 361 milhões de euros, 16,6% abaixo do ano anterior. Com a IFRS16, os resultados líquidos cifraram-se em 312 milhões de euros, 19,9% abaixo do período homólogo.

O EBITDA do grupo, excluindo a IFRS16, cifrou-se em 1.024 milhões de euros. Com a IFRS16, o EBITDA registou uma redução de 1% (mais 1,9% a taxas de câmbio constantes) para 1.423 milhões de euros. No quarto trimestre, este indicador cresceu 1,6% (6,2% a taxas de câmbio constantes), para 394 milhões de euros.

No que se refere às vendas consolidadas, estas cresceram, em 2020, 3,5%, para os 19,3 milhões de euros (6,7% a taxas de câmbio constantes). Numa base comparável, o crescimento foi de 3,5%. No quarto trimestre, as vendas cresceram 2,4%, para os 5,1 mil milhões de euros (6,8% a taxas de câmbio constantes). As vendas comparáveis também aumentaram 3,5%.

 

Portugal

Em Portugal, o ambiente de consumo foi pressionado pelos efeitos das medidas implementadasPingo Doce para controlar a pandemia. O Pingo Doce esteve particularmente exposto à redução da circulação de pessoas, quer pelo seu histórico de elevada densidade de vendas e número de visitas, quer pelo impacto que a ausência de tráfego tem nos restaurantes, cafés e na categoria de take-away da insígnia, a que se juntou, a partir de novembro, o encerramento das lojas nas tardes dos dias de fim-de-semana.

Como tal, as vendas da insígnia reduziram-se em 1,9%, para os 3,9 mil milhões de euros, incluindo um “like for like” (excluindo combustível) de menos 2,2%. No quarto trimestre, as vendas caíram 0,8%, com um “like for like” (excluindo combustível) também de menos 2%.

Detetando uma necessidade das famílias de comprar produtos de primeira necessidade e em promoção, atendendo o contexto económico – que Pedro Soares dos Santos acredita poder vir a ser reforçada no futuro -, o Pingo Doce manteve a forte dinâmica promocional que o caracteriza, refletida no lançamento de mais de 180 campanhas, e colocou no mercado 259 novos produtos de marca própria, tendo ainda realizado 20 reformulações, com o objetivo de reduzir sal, açúcar e gorduras. A promoção de uma alimentação saudável foi, ainda, reforçada com o lançamento de um conjunto de ações, receitas e produtos sob a marca Juliana, no âmbito de um projeto de homenagem e incentivo à adoção da dieta mediterrânica à portuguesa.

Já o Recheio viu a atividade muito afetada pela queda registada no canal Horeca, que representava mais de 35% das suas vendas. Para além do impacto das medidas de confinamento, que forçou, em determinados períodos, o encerramento de hotéis, restaurantes e cafés, acresce o facto de o consumo alimentar fora de casa, que, em Portugal, é em grande parte suportado pelo turismo, ter sofrido também em resultado da retração da procura dos consumidores locais.

O Recheio registou vendas de 847 milhões de euros, uma redução de 15,9% em relação a 2019, com o “like for like” a cifrar-se em menos 15,8%. No quarto trimestre, as vendas caíram 16,7%, com um “like for like” de menos 16,2%.

 

Polónia

Na Polónia, em 2020, as vendas da Biedronka cresceram 6,7% (10,4% em moeda local), para os 13,5 mil milhões de euros. Numa base comparável, o crescimento foi de 7,1%, incluindo uma inflação no cabaz de cerca de 2%. No último trimestre do ano, a insígnia cresceu vendas em 5,1% (10,4% em moeda local), para os 3,6 mil milhões de euros, com um “like for like” de 6,9%, que incorporou uma inflação quase nula no cabaz.

Já a Hebe sofreu um impacto relevante nas vendas, decorrente dos efeitos das medidas restritivas que levaram ao encerramento, em parte de março e nos meses de abril e de novembro, dos centros comerciais, onde tem quase metade das suas lojas. Estas, embora permanecendo abertas, sofreram com a ausência de tráfego resultante da redução de circulação de pessoas. Também a forte redução de atividades sociais impactou as vendas de produtos da área de cosmética. As vendas atingiram 245 milhões de euros, uma redução de 5,4% em relação ao ano anterior. Em moeda local, as vendas reduziram-se em 2,2%, com um “like for like” de menos 10,3%. No quarto trimestre, com os centros comerciais fechados em novembro, as vendas caíram 13,9% (menos 18% em euros), com o “like for like” a fixar-se em menos 12,5%.

 

Colômbia

Na Colômbia, a Ara registou um crescimento das vendas de 8,9% (24,4% em moeda local), para os 854 milhões de euros, com um “like for like” de 10,2%. No quarto trimestre, as vendas, em moeda local, aumentaram 22,8% (6,6% em euros), com um “like for like” de 11,1%.

 

5 meses de gestão atípica

No entender de Pedro Soares dos Santos, 2020 foi um “ano muito difícil, com, pelo menos, cinco meses a gerir de forma atípica”. O presidente e administrador delegado do Grupo Jerónimo Martins reiterou que, num exercício marcado pela imprevisibilidade, a prioridade foi dada à proteção dos negócios e das pessoas. Como tal, foram distribuídos, pelos colaboradores, cerca de 189 milhões de euros, como forma de premiar quem se manteve na linha da frente, durante o período pandémico.

Perante este cenário, a aposta da Jerónimo Martins no mercado romeno foi adiada. “Havia que proteger o que se tinha e não arrancar para novas aventuras. Iremos avaliá-lo no futuro”, garantiu.

O chairman da Jerónimo Martins perspetiva que a retoma aconteça no segundo semestre deste ano, no caso da Polónia, mas que em Portugal se deverá ter de aguardar, pelo menos, até à segunda metade de 2022. “O governo polaco protegeu o consumo e a economia e, assim que a vacinação traga estabilidade, a retoma poderá ser mais rápida”, analisou.

No entender de Pedro Soares dos Santos, quanto maior for a incerteza, mais importante é o rigor do planeamento. Como tal, o grupo anunciou já um investimento previsto de 700 milhões de euros, dos quais, 100 milhões de euros para Portugal, incluindo a abertura de 10 novas lojas e a remodelação de outras 15.

O ano passado o grupo investiu 470 milhões de euros, dos quais mais de 64% foram alocados à Biedronka. O Pingo Doce absorveu 91 milhões e o Recheio 10 milhões.

No que se refere às vendas online, catalisadas pela pandemia, o grupo sentiu a necessidade de acelerar alguns projetos, mas, ressalvou Pedro Soares dos Santos, “quando houve folga, as pessoas voltaram às lojas, pelo que, algures no tempo, vai haver reequilíbrio deste negócio, que claramente veio para ficar”.

 

Aposta no agroalimentar

No agroalimentar, a Jerónimo Martins arrancou com um projeto de produção de uvas sem grainha, em parceria com o produtor Vale da Rosa, no montante de sete milhões de euros. As primeiras vindimas estão previstas para 2024.

Outras das parcerias neste âmbito dizem respeito a 150 toneladas de laranja biológica do Alentejo, com o parceiro local, e um investimento em borregos biológicos, no Fundão, também com um parceiro local, projeto que se prevê arrancar neste mês de março.

Fora de Portugal, assinala-se a compra de 66,68% do capital social da Mediterranean Aquafarm, aquisição que dá corpo a uma parceria em Marrocos e que permitirá à Jerónimo Martins continuar a desenvolver a sua rede de aquacultura para produção, em jaulas colocadas em alto mar, de robalo, dourada e corvina. “Mas mais importante é o que vamos fazer ao largo de Vila Real de Santo António, nessa matéria”, assinalou o presidente do grupo, destacando os licenciamentos para produção de aquacultura no Algarve, Alentejo, Madeira e costa leste de Marrocos. “Se nos derem mais licenças, será para a produção de salmão em Aveiro”.

Com 120 milhões de euros já investidos, à data de hoje, no sector agroalimentar, para 2021, a Jerónimo Martins prevê alocar mais 15 a 20 milhões de euros.

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