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Conflito Rússia-Ucrânia terá impacto no ambiente empresarial global

Foto Shutterstock

O impacto económico do conflito Rússia-Ucrânia não se limita apenas à Ucrânia, Rússia ou Europa, é generalizado em todo o mundo. A GlobalData enumera várias empresas globais que tiveram os seus negócios perturbados pelo conflito, devido à sua presença nestes dois países.

Kadempally Abhinay Goud, Business Fundamentals Analyst da GlobalData, considera que as empresas não devem esperar um regresso rápido à normalidade. “Desde os encerramentos até à suspensão de potenciais investimentos e projetos em curso, tais como o gasoduto Nord Stream 2, as perturbações são frequentes e levarão algum tempo a resolver-se. De acordo com a base de dados Sentiments da GlobalData, que indica quão positiva ou negativamente as empresas estão a falar sobre vários mercados, o sentimento empresarial global, em relação à Ucrânia ,diminuiu cerca de um terço, no primeiro trimestre, em comparação com o mesmo período de 2021, o que provoca uma profunda incerteza. Entretanto, o sentimento em relação à Rússia diminuiu cerca de 18%“.

Num cenário de conflito em curso, as estimativas da GlobalData para o crescimento real do Produto Interno bruto (PIB) da Europa de Leste foram, em março, revistas em baixa em 5,1 pontos percentuais. “Prevê-se que tanto a Ucrânia como a Rússia contraiam em cerca de 10%, em 2022. Uma perspetiva económica como esta desempenhará um papel importante nas decisões comerciais das empresas“.

 

Consumo e bebidas

A GlobalData analisa os impactos em vários sectores, dos quais o consumo e bebidas. A Coca-Cola fechou a sua fábrica na Ucrânia, assim como a Carlsberg. Entretanto, a Unilever e a Nestlé limitaram as suas operações na Ucrânia.

No entender de Cloe Legrand, Consumer Analyst da GlobalData, o impacto negativo da crise Rússia-Ucrânia forçará os fabricantes de bebidas alcoólicas, como a Carlsberg, a concentrarem a sua estratégia em diferentes regiões que experimentaram um crescimento constante na indústria . “Com a Heineken e a Carlsberg ainda a recuperarem do impacto da Covid-19, 2022 está a revelar-se um ano desafiante. As perturbações nas cadeias de abastecimento e as elevadas taxas de inflação continuarão a ser áreas de interesse para estas empresas. No entanto, ao concentrarem-se em marcas locais e em regiões que têm vindo a mostrar potencial de crescimento, como a Ásia, estas grandes cervejeiras estarão melhor posicionadas para mitigar a sua perda de receitas no mercado da Europa de Leste“.

 

Sector automóvel

Os fabricantes de equipamento original (OEMs), como a Volvo Cars, a Ford, a Jaguar-Land Rover, a General Motors, a BMW, a Daimler Trucks, a AB Volvo Trucks e a fabricante de motociclos Harley Davidson, cessaram todas as operações de exportação para a Rússia, tendo a Ford confirmado a suspensão da joint-venture russa Ford-Sollers, com efeito imediato, em resposta à invasão.

Bakar Sadik Agwan, Automotive Analyst da GlobalData, nota que “atores do sector automóvel ,em todo o mundo, responderam à agressão russa, com condenação e ações que irão isolar, ainda mais, o país. A Renault continua a ser um dos OEM mais expostos ao conflito Rússia-Ucrânia, tendo cinco locais de produção e uma capacidade total de 1,5 milhões de unidades. A GlobalData estima um impacto no volume de produção de 81.100 unidades para a Renault. Além disso, a AvtoVAZ, a empresa-mãe da principal empresa automóvel da Rússia, a Lada, é propriedade de, aproximadamente, 68% do Groupe Renault. O parceiro russo poderia enfrentar dificuldades significativas se o seu sócio francês se retirasse“.

 

Sector financeiro

A União Europeia, os Estados Unidos da América, o Reino Unido e o Canadá comprometeram-se a retirar os bancos russos do sistema financeiro SWIFT, nomeadamente, VTB, Bank Otkritie, Novikombank, Promsvyazbank PJSC, Sovcombank PJSC e VEB.RF. “Banir a Rússia do SWIFT terá um impacto negativo na economia russa, uma vez que será difícil completar quaisquer transações internacionais. Embora a proibição da Rússia não a impeça completamente de realizar transações transfronteiriças com os seus parceiros internacionais, tornará o processo mais caro, menos seguro e mais difícil, o que deverá abrandar o crescimento da sua economia”, destaca Chris Dinga, Banking Analyst da GlobalData.

O último país a ser banido da SWIFT foi o Irão, em 2012, devido aos seus mísseis e programa nuclear. Para contornar a proibição, ligou diretamente o seu sistema bancário à Rússia. “Poderemos ver um movimento semelhante, por parte da Rússia, uma vez que este país poderia ligar o seu sistema bancário ao da China“.

Visa, Mastercard e Paypal suspenderam, também, as suas operações comerciais no país. “A decisão da Visa, Mastercard e Paypal de suspenderem as suas operações na Rússia cortou-a das transferências internacionais e forçou-a a considerar soluções alternativas. Uma das quais é a emissão de cartões bancários por bancos russos, utilizando a rede Mir do próprio esquema de pagamento russo, em conjunto com a China UnionPay“.

 

Vestuário

Na área do vestuário, Inditex, H&M, IKEA, Nike, Puma, Prada, Levi Strauss & Co suspenderam também as suas operações na Rússia. “A grande maioria das principais empresas de vestuário suspenderam agora a totalidade ou parte das suas operações na Rússia, na sequência do início da guerra na Ucrânia, o que será particularmente prejudicial para o mercado de vestuário russo. A maioria das empresas foi motivada  por questões operacionais, e não por razões éticas, uma vez que lutam para garantir a entrega de stock“, refere Darcey Jupp, Apparel Analyst da GlobalData.

Embora a Rússia possa ser responsável por uma pequena proporção das vendas de algumas das principais empresas mundiais de vestuário, a Inditex está a preparar-se para ser duramente atingida, após ter anunciado, na sua última atualização comercial ,que o mercado russo representava anteriormente cerca de 8,5% do seu lucro operacional. “Contudo, o seu promissor desempenho recente, impulsionado pela elevada procura da sua jovem base de consumidores, sugere que os danos poderiam ser amplamente atenuados por um forte desempenho noutras regiões“.

 

Tecnologia

Por sua vez, gigantes da tecnologia, como Netflix, Google, Meta, Apple, Microsoft e Samsung Electronics, pararam ou reduziram as suas operações na Rússia. “As reações das empresas tecnológicas ao conflito Rússia-Ucrânia são o epítome das questões ambientais, sociais e de governança (ESG). Nenhuma empresa pode afirmar estar a fazer tudo por questões sociais ou de governança e continuar a fazer negócios num país que tenha incitado ao conflito e onde a sua tecnologia possa ser utilizada para difundir informações erradas”, afirma Elizabeth Read, Thematic Analyst da GlobalData. “O mercado russo constitui uma pequena parte das receitas totais para muitas empresas (mesmo gigantes tecnológicos como Netflix, Google,+ e Meta), uma vez que enfrentam a concorrência sob a forma de super app Yandex. Mas não é fácil para as empresas de tecnologia retirarem-se da Rússia“.

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