O impacto da pandemia na África subsaariana gerou uma contração regional sem precedentes, devido à interrupção do comércio, às restrições ao turismo e à queda da procura e dos preços das matérias-primas.
Os governos africanos, que atuaram com determinação para conter a propagação do vírus, evitaram uma crise sanitária, mas as medidas aplicadas tiveram um grande impacto nas economias de mercados muito endividados que carecem de capacidade para responder com pacotes de estímulo fiscal semelhantes aos das economias desenvolvidas.
A Crédito y Caución prevê uma profunda recessão das maiores economias da região – Nigéria, África do Sul e Angola -, e uma recuperação lenta que limitará o crescimento a médio prazo.
Uma possível recuperação económica, em 2021, está rodeada de um nível elevado de incerteza, que é invulgar, sem que se possa afastar uma crise da dívida soberana. Os países com um alto nível de dívida denominada em moeda estrangeira, como a Zâmbia ou Angola, são particularmente vulneráveis. O apoio financeiro de instituições multilaterais, como o FMI ou o Banco Mundial, será fundamental para ajudar a região a mitigar os efeitos negativos da pandemia nas suas economias e sociedades.
Turismo e exportações
Os países mais afetados pela severa recessão são aqueles que dependem do turismo, das exportações de petróleo e da volatilidade dos fluxos financeiros. Os países onde o turismo representa mais de 25% das receitas de exportação, como a Tanzânia, Maurícia e Cabo Verde, são particularmente vulneráveis ao colapso do turismo mundial.
Os exportadores de metais, como a África do Sul, o Botsuana e a Zâmbia, sentiram uma forte diminuição das suas receitas. O choque é ainda maior na República do Congo e em Angola, onde o petróleo representa mais de 90% das exportações.
Outros países da região, com economias mais diversificadas, sofreram um impacto menor. O Quénia sentirá uma pequena contração e na Etiópia e no Ruanda as taxas de crescimento vão manter-se ligeiramente positivas. O Senegal, a Costa do Marfim e o Uganda vão recuperar com maior força em 2021.
A pandemia desencadeou grandes movimentos nas taxas de câmbio. A África do Sul, a economia da região mais integrada nos mercados financeiros globais, sofreu uma brusca desvalorização da sua moeda devido à saída de capitais. Além disso, o choque sem precedentes na economia mundial antecipa uma perda de remessas, uma fonte importante de financiamento estrangeiro para países como a Nigéria, o Gana, o Quénia e o Senegal.