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Portugueses olham com pessimismo para 2024

Economia e ambiente motivam maiores preocupações

Foto Shutterstock

De acordo com o estudo Global Predictions da Ipsos, os portugueses olham com pessimismo para o novo ano. Economia e, sobretudo, ambiente são as áreas que motivam maiores preocupações.

A par do fim da situação de emergência sanitária devido à Covid-19 e do agudizar dos conflitos em território europeu, o ano de 2023 ficou marcado pelo aumento das temperaturas médias e a ocorrência de uma série de catástrofes naturais um pouco por todo o mundo. Estes acontecimentos ajudam a explicar a avaliação pessimista de 2023 expressa no Global Predictions.

Os cidadãos dos 34 países que participaram no estudo da Ipsos, consideram, em média, que 2023 foi pior para o seu país (70%) do que para si ou a sua família (53%). Apesar destes valores representarem uma melhoria de três pontos percentuais em relação à edição de 2022, ainda há um caminho a percorrer até o sentimento mundial retornar aos níveis pré-Covid.

Na estreia de Portugal no estudo, oito em cada 10 inquiridos consideram que 2023 foi mau para o país. Porém, o desagrado nacional decresce de modo expressivo (46%) quando está em causa o impacto no próprio inquirido ou na sua família.

2024: pessimismo nacional

Quanto ao novo ano, 70% dos inquiridos a nível global acredita que será melhor do que 2023. É um valor cinco pontos acima do de 2022, ano que registou o nível mais baixo de confiança mundial na última década.

A confiança em relação ao futuro aumentou especialmente nos países europeus, sobretudo na Polónia, Espanha, Grã-Bretanha (todos com mais 11 pontos percentuais) e Suécia (mais 12 pontos percentuais). Estes resultados refletem os sinais de recuperação económica observados na Europa durante 2023.

Em contrapartida, os portugueses mostram-se mais céticos do que a média em relação ao que 2024 reserva (66% versus 70%). Esta relativa descrença no futuro não é acompanhada por inércia individual, já que quase nove em cada 10 inquiridos manifestam o desejo de realizar ações específicas para si ou para outras pessoas.

 

Economia

Há sinais de otimismo global em relação às perspetivas económicas mundiais. Em comparação com os resultados da edição de 2022, metade dos inquiridos acredita que a economia global terá um desempenho mais robusto em 2024 (mais quatro pontos percentuais). Apesar deste indicador positivo, 70% dos inquiridos não descarta a hipótese da inflação e das taxas de juro aumentarem nos seus países. A confiança na atividade económica persiste nos mercados asiáticos, como a Indonésia, a Índia e a China, onde mais de 80% dos inquiridos considera que a economia terá bons desempenhos.

Verifica-se igualmente uma melhoria das perceções de algumas opiniões públicas europeias sobre a economia mundial, em especial na Polónia (mais 20 pontos percentuais), Hungria (mais 15 pontos percentuais), Países Baixos (mais 12 pontos percentuais) e Grã-Bretanha (mais 11 pontos percentuais). Em sentido contrário, encontra-se Portugal, dos países mais pessimistas em matéria económica (33%), apenas suplantado pelo Japão (30%). Os portugueses são dos que mais receiam o aumento dos preços mais rapidamente do que os rendimentos (90%), as taxas de juro altas (79%) e o desemprego (78%). Embora haja países que se mostrem mais apreensivos, há uma percentagem expressiva de portugueses (70%) que teme a subida da inflação em 2024.

 

Ambiente

Em comparação com 2022, subiu a percentagem de inquiridos (mais 12 pontos percentuais) que acreditam que os acontecimentos climáticos extremos serão mais frequentes e até colocam a hipótese do seu país ser atingido por uma grande catástrofe natural.

A esse respeito, os portugueses são os mais preocupados: quase nove em cada 10 considera provável que um episódio meteorológico extremo aconteça em Portugal. A unanimidade é quebrada quanto à execução de medidas para prevenir as alterações climáticas. Dois exemplos: 59% acredita que o Governo estabelecerá metas mais exigentes para reduzir mais rapidamente as emissões de carbono e 67% espera a introdução de restrições para reduzir a quantidade de carros.

Há outro indicador que mostra a expectativa generalizada de que os episódios extremos ligados ao clima são a antecâmera do colapso climático. A nível mundial, 81% dos inquiridos prevê que as temperaturas médias globais aumentem em 2024. Portugal destaca-se com 93% dos inquiridos a dar como certo o aumento das temperaturas.

 

Sociedade

Os resultados globais mostram que 71% dos inquiridos conta com um aumento da imigração para os seus países. Este consenso sobre a questão migratória pode ser explicado pelos recentes acontecimentos geopolíticos e as deslocações provocadas pela crise climática e conflitos armados.

Portugal lidera a lista de países que considera que o número de imigrantes vai aumentar (87%), seguido de perto por Turquia e Singapura (ambos com 82%).

O pessimismo português manifesta-se uma vez mais, agora em questões relacionadas com a igualdade de género e tolerância. Quando questionados sobre se as mulheres receberão o mesmo salário que os homens pelo mesmo trabalho, apenas 31% acredita que tal possa vir a acontecer. Uma série de países europeus — Suécia, Hungria, Alemanha e França — acompanha a desconfiança portuguesa nos progressos da equidade laboral.

 

Segurança mundial

No plano internacional, o ano de 2024 nasce sob o signo da incerteza. A possibilidade da reeleição de Donald Trump e o prolongamento dos conflitos na Ucrânia e em Gaza são acontecimentos com potencial para aumentar a tensão geopolítica.No que toca às eleições presidenciais norte-americanas, 36% dos portugueses julga que Donald Trump será o novo inquilino da Casa Branca. Com alguma surpresa, apenas 35% dos inquiridos americanos partilha da mesma opinião.

A guerra da Ucrânia, que se arrasta há quase dois anos, deverá continuar a marcar a atualidade em 2024. Quase metade dos inquiridos do estudo (47%) não acredita que o conflito acabe tão cedo. O pessimismo é mais evidente nos países europeus, destacando-se a Suécia (menos 25 pontos percentuais face a 2022), a Polónia (menos 18 pontos percentuais) e a Espanha (menos 17 pontos percentuais). A rondar os 60%, Portugal é dos mais céticos sobre o desfecho iminente do conflito. Em sentido contrário, encontram-se países geograficamente distantes do palco das operações militares, como China (58%), Filipinas (56%) e Indonésia (55%).

 

Tecnologia

O mundo da tecnologia deu muito que falar em 2023, graças aos avanços que protagonizou. Isso em muito se deveu ao lançamento do ChatGPT pela OpenAI e à adesão generalizada da ferramenta. O chat conversacional foi crucial para moldar a perceção pública sobre a utilização da inteligência artificial e o modo como se interage com a tecnologia.

De acordo com o Global Predictions, a opinião pública mundial está dividida quanto aos contributos da inteligência artificial. Por um lado, 64% dos inquiridos acredita que esta tecnologia leve à perda de postos de trabalho. Por outro, 56% considera provável que os médicos passem a recorrer à inteligência artificial para decidir sobre o tratamento dos pacientes, um aumento de 18 pontos face aos valores da edição de 2019.

Há, no entanto, diferenças regionais a assinalar neste equilíbrio entre o fascínio e a preocupação com as potencialidades da inteligência artificial. Os países asiáticos, conhecidos pelo seu crescimento impulsionado pela tecnologia, reconhecem tanto o potencial criador como destrutivo. Na China, por exemplo, enquanto 74% dos inquiridos diz que a inteligência artificial pode levar à criação de novos postos de trabalho, 70% acredita no oposto.

Portugal inclina-se mais para uma avaliação negativa da inteligência artificial: 71% acredita que destruirá postos de trabalho, em contraponto com 31% que pensa o contrário. Esta preocupação com os efeitos da tecnologia também se alastra ao receio de cerca de 60% dos portugueses de ver os seus dados pessoais expostos na Internet.

A par da França, Portugal é o país europeu onde os inquiridos mais manifestam a intenção de reduzir o uso de redes sociais este ano (47%). De resto, é um resultado em linha com uma tendência global de afastamento das plataformas de social media. Esta atitude pode estar relacionada com a crescente consciencialização dos efeitos negativos para a saúde mental do uso excessivo de redes sociais.

 

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