Agroalimentar 4.0

O desenvolvimento histórico da indústria agroalimentar é indissociável da modernização, do progresso social e da melhoria da qualidade de vida das populações, muito por via dos notáveis incrementos ao nível da higiene e segurança alimentar.

Tendo como ponto de partida a mecanização da agricultura, conhece o início da sua verdadeira expansão com a introdução da produção em massa, acabando mesmo por ter um papel decisivo em toda a evolução industrial registada desde então, pois permitiu dar resposta à necessidade de alimentar de uma população crescente, mais concentrada nas zonas urbanas e, consequentemente, mais afastada da produção.

A diversidade cultural, a riqueza gastronómica e a variedade de matérias-primas levaram a uma rápida atomização desta indústria e à sua ligação a métodos de produção e conservação tradicionais. Esta especificidade não impediu, no entanto, a progressiva aplicação da eletrónica e das tecnologias de informação ao sistema produtivo, com resultados visíveis ao nível da modernização das fábricas e das redes de distribuição.

De forma acelerada e ambiciosa, o nosso tempo está a trazer-nos a confluência de tecnologias digitais disruptivas, que estão já a alterar o sector produtivo e a revolucionar o modelo industrial, alicerçadas num espantoso aumento do volume de dados, no poder computacional, na conectividade, na capacidade analítica, na interação entre humanos e máquinas e na transferência de instruções digitais para o ambiente físico.

Apesar de muito aliciante, este não será de forma alguma um desafio fácil para o nosso tecido empresarial, requerendo mudanças importantes ao nível das organizações. Numa perspetiva vertical, a primeira grande alteração terá de se registar ao nível da cultura da empresa e partir, de forma ponderada e inclusiva, da gestão de topo. O segundo desafio prende-se com a educação, formação e reconversão dos recursos humanos e com a capacidade de gerir e articular internamente diferenças geracionais cada vez mais acentuadas. Paralelamente, o terceiro elemento reside no planeamento dos investimentos na modernização e inovação tecnológica.

Na vertente horizontal, encontram-se as desafiantes tarefas de interligar os vários elos da cadeia de valor numa perspetiva do “prado ao prato” e de promover a cooperação tecnológica e a inovação colaborativa, o que requer uma adaptação do relacionamento entre empresas, universidades e politécnicos, centros tecnológicos e estruturas associativas. No âmbito desta dinâmica, importa sublinhar o papel relevante que está reservado às startups e aos investidores, como alavancas para o processo de inovação. Outros aspetos fundamentais passam pela adaptação e adoção de standards e pelo reforço da proteção dos sistemas e dos dados.

Mas, afinal, quais são as verdadeiras oportunidades desta nova era? Os principais impactos deverão sentir-se, por um lado, ao nível da otimização dos recursos e dos processos e da melhor rentabilização dos ativos. Outra vertente de enorme relevância passa pelo assumir de uma nova tipologia de relacionamento laboral. Os benefícios aparecerão igualmente ao nível dos inventários, dos sistemas de gestão da qualidade, ambiente e segurança, do confronto entre oferta e procura e da redução do “time-to-market”.

Apesar de tudo, este não deixa de ser um caminho com várias incógnitas e diversos riscos, mas as nossas empresas saberão construir o seu caminho de sucesso e afirmar a indústria agroalimentar como exemplo da transformação digital.

Opinião de Pedro Queiroz, diretor geral da FIPA – Federação das Indústrias Portuguesas Agroalimentares, publicada na edição 45 da Grande Consumo.

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Montiqueijo sócia fundadora do Loures INOVA