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“Queremos ser o ‘Google Maps’ da informação dos produtos”

Em plena era da economia digital, a GS1 Portugal está a priorizar a implementação dos standards contidos no Sistema GS1 no mercado nacional, como é o caso do código de barras, num número alargado de empresas e a alcançar novos sectores de atividade. O sector da saúde está em número um, afirma João de Castro Guimarães, diretor executivo da GS1, numa entrevista à Grande Consumo, que assinala ainda, como atuais áreas-alvo da organização, os sectores da banca e da defesa, assim como a entrada no universo das startups. Trata-se de uma evolução que vem no sentido de apresentar a GS1 Portugal às empresas portuguesas como parceiro de confiança e, principalmente, permitir manter-se como o agente neutro facilitador da unidade de ação no mercado.

Grande Consumo – O código de barras foi primeiro recurso de automatização dos espaços de retalho. Que novos desafios enfrenta o sector de codificação e marcação no novo contexto do mercado digital?
João de Castro Guimarães
A pedido da GS1, a Capgemini e o Consumer Goods Forum fizeram um estudo sobre a cadeia de abastecimento para os próximos anos, onde foi definido um conjunto de macrotendências, com quatro claramente definidas: sustentabilidade, saúde e bem-estar, segurança alimentar e o “end-to-end value chain”.
Nestas macrotendências, o papel do consumidor é central. Perante as mesmas, a GS1 define um conjunto de prioridades. A transparência para o consumidor, em primeiro lugar, porque este é um consumidor que sabe o que quer e quer fazer a melhor escolha. O envolvimento e a fidelização do consumidor, porque este é cada vez mais informado e analisa custos, atenta nas questões da pegada do carbono e escolhe a proposta de valor que mais lhe interessa. Associada à segurança alimentar, queremos assegurar ao consumidor a rastreabilidade, uma atividade na qual os nossos códigos são vitais para que se possa reconstituir por onde o produto passou. Já dentro da cadeia de valor, do “end-to-end supply chain”, há que privilegiar e discriminar positivamente a última milha.
O maior desafio é saber dar resposta à transparência que o consumidor exige, ao envolvimento e à fidelização que o cliente deseja ter e, também, como é que podemos ajudar as marcas e os retalhistas a trabalhar esta área. A rastreabilidade passa de elemento da segurança alimentar para elemento de segurança do consumidor, porque o sector da saúde é um nos quais estamos atualmente a investir.

GC – A extensão do uso das normas GS1 é muito superior em sectores como os bens de consumo e o retalho. A que se deve esta diferença?
JCG –
Há 32 anos, o sector do retalho e bens de consumo fundou a CODIPOR – Associação Portuguesa de Identificação e Codificação de Produtos. Os códigos de barras ajudaram a criar um novo modelo de negócio, que veio substituir os merceeiros que tinham uma dimensão muito menor. Sem uma codificação como a nossa, seria impossível ter-se lojas com 100 caixas de saída porque as filas seriam imensas.
A nossa base associativa são mais de oito mil empresas, das quais mais de 50% são do sector alimentar e cerca de 65% são do sector do retalho e bens de consumo. Somos já uma “commodity” para o sector da distribuição moderna, permitindo medir e gerir os inventários com uma maior visibilidade.

GC – Quais são os benefícios, em particular, para as pequenas, médias e micro empresas dos sectores da distribuição e retalho?
JCG –
A diretiva europeia 11/69, dentro do ato único para a promoção do comércio eletrónico, diz, entre outras coisas, que só poderá vender online quem tiver publicado online um conjunto de requisitos. Nomeadamente, para a área alimentar, o doseamento, a forma do doseamento, alegações nutricionais, modo de preparação, composição, entre outros. Este conjunto de requisitos está contemplado na nossa plataforma 5PT. Assim, permitimos que as pequenas, médias e micro empresas não saiam deste tipo de comércio, mantendo essa informação publicada na nossa ferramenta, muitas vezes, através do papel indiscutivelmente importante dos retalhistas que os conduzem nesse sentido.
Entendemos que as pequenas, médias e micro empresas precisam de ser apoiadas. Criámos uma ferramenta nova de formação, os Webinars GS1, que vai permitir-nos chegar a “casa” dos nossos associados sem que eles se desloquem a Lisboa. A criarmos esta ferramenta, que teve um grande sucesso no ano passado, estamos também a abrir uma via de comunicação, de diálogo e de formação que está a ser bem aceite pelas pequenas, médias e micro empresas.
No apoio às micro empresas, temos outro papel importante. Junto com um parceiro tecnológico, oferecemos a fatura eletrónica, ou seja, a desmaterialização dos documentos para aquelas empresas que são muito pequenas e que, até aqui, não tinham este tipo de apoio. Sem praticamente qualquer divulgação nem nenhuma publicidade, todos os anos temos tido uma adesão constante, com entre 100 a 200 empresas a entrarem. E, acima de tudo, sensibilizamos essas empresas para a importância da desmaterialização e das novas tecnologias para a transformação digital. De uma forma ligeira, estamos a chamar à atenção que há uma outra maneira de fazer as coisas, que é necessário inovar.

GC – Como é que a GS1 apoia as marcas na sua resposta às exigências acrescidas de transparência e envolvimento dos consumidores de hoje?
JCG
Um dos sectores mais voltado para o futuro da GS1 Global, e consequentemente onde a GS1 Portugal também pretende vir a desenvolver as suas atividades, é a banca, que é um sector que necessita de transparência. A presença de códigos, como existem atualmente no retalho, permite rastrear os produtos de uma forma que o sector da banca não tem. Queremos transmitir para os consumidores, utilizadores e toda uma rede de valor a transparência necessária para se saber de onde o produto vem, para onde vai, se não é um produto falso.
Outro sector de futuro é a saúde, onde, a partir de 2019, vai ser obrigatória a utilização dos códigos que o retalho e bens de consumo utilizam há 32 anos. A GS1 Portugal tem aqui um papel muito importante, desde que a Comissão Europeia fez sair a Diretiva Europeia dos Medicamentos Falsificados, em 2016. A utilização dos nossos códigos vai ser a forma de dar transparência suficiente para que se possa impedir a entrada de produtos de um negócio obscuro, como é o dos medicamentos falsificados. O sistema de standards e códigos GS1 foi selecionado para ser introduzido e, a partir de 2019, teremos códigos de barras, tal como existem no retalho, na área da saúde.
As grandes elites da ciência estão agora a sentir que aquilo que foi feito pelo sector do retalho e bens de consumo, na matéria de codificação, veio a confirmar-se como muito útil neste momento de transformação digital. Para nós, é gratificante sermos os representantes dessas “commodity”.

GC – A GS1 Portugal tem planos para alargar a implementação das Normas GS1? Que novos sectores de atividade querem alcançar?
JCG –
O sector da saúde está em número um. Mas, neste momento, queremos ser conhecidos, para que nos usem. Em Portugal, estamos a olhar para a inovação feita pelo mundo das startups. Contamos com a ajuda do engenheiro João Vasconcelos, ex-secretário de Estado que fomentou o crescimento destas startups e que organizou o primeiro webinar de uma maneira extraordinária. Juntos, tentamos aproximarmo-nos do mundo das startups. Queremos fazer FabLabs e entrar no universo das incubadoras de startups, no sentido de trazer essas empresas para dentro da GS1, para que vejam como é que os códigos as podem ajudar. Mas também para que nos ajudem a inovar dentro da codificação, de forma a conquistar novos sectores.
Juntamente com a COTEC, fazemos parte do Comité Estratégico da Plataforma Portugal Indústria 4.0. Este é um sector novo de atividade e é transversal a muitos sectores, onde, sem dúvida, os nossos códigos têm um papel notável.
Outro sector, por exemplo, é o sector público. Com a desmaterialização dos documentos, a GS1 Portugal preside à comissão técnica de normalização da fatura eletrónica, onde a sintaxe utilizada com esse tipo de fatura desmaterializada pode ou não ser da GS1, mas tendemos, junto do sector público, como gerador de eficiências e transparências.
Em Portugal, também estamos a tentar entrar no sector da banca, porque aí, claramente, podemos ajudar a dar maior visibilidade, assim como permitir rastreabilidade das aplicações financeiras. Podemos dar visibilidade a um sector que não tem sido muito visível. No sector da defesa na
cional, temos uma parceria com a Marinha, onde, seja por radiofrequência ou codificações, podemos ajudar a gerir os inventários.

GC – Anteriormente referiu que querem ser o “Google Maps” da informação dos produtos. Hoje, estão mais perto de isso se tornar uma realidade?
JCG –
Sim, julgo que estamos mais perto de isso ser realidade. Aqui há alguns anos, a GS1 foi declarada a “Personalidade do Ano”, sendo o prémio dado pela primeira vez a uma organização, por ter sido uma organização neutra. Pugnamos por uma neutralidade e temos conseguido manter uma posição neutra que julgo que é vital. Isto faz parte do ADN da GS1 Global, que deve ser implementado em todos os países.
Todos os anos, temos, em Bruxelas, uma reunião de uma semana onde se encontram cerca de 900 pessoas, de mais de 90 nacionalidades. Todos participam e não há lá semente de discórdia. É inspirador ver tanta diferença num ambiente de neutralidade. Quando dizemos que queremos ser o “Google Maps” da informação dos produtos, significa que queremos ter uma plataforma global onde seja possível pesquisar qualquer produto. E na próxima reunião, a GS1 vai discutir a GS1 Cloud, uma plataforma aberta que quer ser a maior fonte de dados de confiança. Neste momento, contamos com mais de 60 milhões de produtos para colocar nessa Cloud.
Ainda há muitas questões a definir, nomeadamente, como se vai compaginar essa Cloud com as plataformas de cada um dos países, como é que se vai defender, preservar e melhorar a qualidade dos dados dos produtos, quando sabemos que a grande maioria dos dados necessita de uma intervenção cuidada.
O papel da GS1 vai ser tentar cuidar da qualidade desses mesmos dados. Algo indispensável para o futuro é atentarmos na qualidade dos dados que circulam na web. Por isso é que criámos o selo de qualidade GS1, que indica que verificamos e validamos a informação relativa ao produto.

Esta entrevista foi publicada na edição n.º 49 da Grande Consumo.

Veja aqui a galeria de imagens da entrevista.

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