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Herdade de Maria da Guarda exporta quase 100% da produção de azeite

Com uma produção de dois milhões de quilogramas, na campanha de 2017, a Herdade de Maria da Guarda, nas imediações de Serpa, no Alentejo, é um dos maiores produtores particulares de azeite do país. De facto, a herdade é responsável por cerca de 3% da produção nacional. Contudo, muito pouco do azeite aí produzido entra nas casas dos consumidores portugueses. A exploração agrícola, administrada por João Cortez de Lobão, e que desde 2005 se dedica à produção de azeite, exporta quase 100% daquilo que produz, principalmente para o mercado italiano.

A Herdade de Maria da Guarda, cuja verdadeira idade se perdeu na história, não produziu sempre azeite. Foi sob a gestão de João Cortez de Lobão, ex-administrador de fundos de investimento do BCP, que decidiu abraçar o negócio de família em 2005, que a exploração redefiniu a sua estratégia e desistiu do cereal, optando por plantar 60 hectares com olival em sebe. Hoje, é um dos três maiores produtores portugueses de azeite, com uma propriedade que abrange 700 hectares todos plantados com 1,3 milhões de oliveiras e um lagar com uma capacidade para moer diariamente um máximo de 900 toneladas de azeitona.

Num ano bastante afetado pela seca, a campanha de 2017 foi marcada por uma forte quebra na produção mundial de azeite. Mas o sector nacional conseguiu aumentar a produção em relação às décadas anteriores e a Herdade de Maria da Guarda não foi exceção, alcançando uma produção de dois milhões de quilogramas de azeite, um novo recorde absoluto de produção. “A maior parte dos olivais em Portugal, Espanha, Itália e Grécia ainda são de sequeiro, ou seja, não regados. Como temos a sorte, no Alentejo, do Alqueva estar já a funcionar e a cobrir uma área grande de agricultura, os olivais regados conseguiram compensar a seca e, portanto, não perderam produção. Pelo contrário, até melhoraram a produção”, esclarece João Cortez de Lobão. “Com a pressão da procura e a diminuição da oferta devido à seca, os olivais regados conseguiram beneficiar porque o preço do azeite manteve-se relativamente alto”.

Exportação
A Herdade de Maria da Guarda exporta cerca de 100% da sua produção, mas o responsável garante que “não porque é uma opção estratégica”. Deve-se, sim, ao facto dos embaladores internacionais fazerem propostas mais elevadas do que os portugueses para comprar o azeite a granel. Além disso, comenta, “não temos custos adicionais de transporte, porque os embaladores vêm à porta do lagar, carregam e levam. Não temos qualquer responsabilidade no transporte e não temos que fazer seguros, pois são esses compradores que se encarregam de tudo isso. É um posicionamento no mercado que acabou por ser natural sem ser estratégico”.

Entre os mercados internacionais, a Herdade de Maria da Guarda destina praticamente todo o azeite que produz ao mercado italiano, país que é um dos maiores produtores de azeite do mundo. De acordo com João Cortez de Lobão, os grandes embaladores italianos vêm, cada vez mais, procurar azeite de qualidade superior em Portugal, “porque sabem que o melhor azeite, desde há muitos séculos, é o azeite da Lusitânia. Já no tempo de Império Romano que o azeite da Lusitânia era normalmente o mais valorizado. A história acaba por se repetir outra vez. Os embaladores italianos sabem a qualidade do azeite que vem desta região, por isso, pagam acima do preço de mercado normal”.

Uma menor parte destina-se ao mercado espanhol, que tem também alguma capacidade de penetração internacional com o azeite embalado. Mas a herdade não desconta a hipótese de entrar em novos mercados internacionais, nomeadamente os Estados Unidos da América, que descobriram o azeite recentemente. “Os Estados Unidos da América são um país com um grande poder de compra. O azeite ainda é um produto considerado relativamente caro, mas o poder de compra dos norte-americanos consegue absorver isso com muita mais facilidade do que, por exemplo, a China. Os Estados Unidos da América têm visto o seu consumo aumentar de uma forma consistente e são um dos países que vão, na próxima década, ter uma presença grande no consumo”, explica o administrador que, no entanto, não atribui urgência à aposta em novos mercados. “Quando temos um negócio a correr tão bem com os italianos, não queremos, só para ganhar um novo mercado, perder margem ou aumentar o risco de cobrança. Estamos atentos aos mercados norte-americano e chinês. Não temos nada contra em fazer negócio com embaladores de outros países, desde que se acomodem àquilo que são os nossos hábitos e procedimentos de negócio”.

Quanto ao mercado nacional, a realidade resume-se a negócios pontuais com dois grandes embaladores nacionais, designadamente a Oliveira da Serra e a Gallo.

Preço do azeite
No futuro, os investimentos da Herdade de Maria da Guarda vão focar-se na melhoria da eficiência, “para que continue a produzir um azeite de primeira qualidade, ao mais baixo custo possível, porque sabemos que vai continuar a pressão do mercado, no longo prazo, para que o preço do azeite baixe”. Para João Cortez de Lobão, o objetivo é continuar a produzir o azeite a um preço cada vez mais baixo. “Hoje em dia, o azeite está a um preço muito mais barato do que há 50 anos e não tenho dúvida que, daqui a 50 anos, o azeite tem que estar muito mais barato do que está hoje em termos reais. Porque é a única maneira de conseguir ganhar, outra vez, mercados”.

Um movimento que acredita ser sustentável, devido ao avanço da tecnologia ao nível da agricultura e da transformação da azeitona, nomeadamente da mecanização, da rega, das novas técnicas de plantação. “Nos últimos 20 anos, mudou mais na paisagem do olival do que nos dois séculos anteriores. Hoje, por exemplo, este sistema de olival em sebe baixa o custo de produção e aumenta os quilos de azeite que se podem produzir num hectare plantado. Além disso, tem havido muita experiência e seleção de variedades mais produtivas, adaptadas a determinadas regiões, e esse trabalho, que é lento, vai continuar. Portugal tem variedades muito boas, mas que são ainda muito sensíveis porque ainda não houve uma seleção – um darwinismo acelerado – de escolher aquelas variedades que são mais resistentes. Há um caminho ainda a percorrer de seleção de oliveiras que são mais eficientes para cada região, que promete uma baixa de preço. Antigamente, um olival produzia o correspondente a 100 quilos de azeite por hectare e hoje, no mesmo terreno, conseguimos fazer dois mil quilos de azeite, por causa de variedades que são muito resistentes, muito boas técnicas de plantação e água disponível para compensar as necessidades da oliveira”.

Este artigo foi publicado na edição n.º 49 da Grande Consumo.

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