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Gelpeixe entra na armação em parceria com a Sea Harvest

A Gelpeixe celebrou uma parceria com a Sea Harvest, armador sul-africano, que irá permitir à empresa portuguesa entrar na armação em águas da África do Sul. Mas não só, já que da combinação da capacidade instalada da marca nacional e do acesso na origem a diferentes espécies de pescado, a abordagem aos vários mercados onde se faz representar pode ser feita de modo distinto. Na seleção do produto, do corte ou formato a disponibilizar, ajustando portfólio e necessidades. Um passo significativo para a Gelpeixe no ano em que celebra 40 anos. Manuel Tarré, administrador da Gelpeixe, e Konrad Geldenhuys, Sales & Marketing Director da Sea Harvest Corporation, levantam o véu sobre a parceria recentemente estabelecida.

Grande Consumo – Qual é a posição da Sea Harvest na África do Sul?
Konrad Geldenhuys –
A Sea Harvest é uma empresa de pesca que foi fundada em 1964, numa vila piscatória chamada Saldanha, na costa oeste da corrente do Benguela. A nossa principal operação é a colheita, ou a pesca, de pescada do Cabo, o processamento e, em seguida, a venda. Somos uma empresa totalmente integrada e possuímos todos os nossos navios. Temos toda a cadeia de valor, ao deter instalações próprias de processamento, tanto de peixe fresco quanto congelado a bordo.
A Sea Harvest é uma marca icónica na África do Sul. Há cerca de dois anos, fomos a oitava marca icónica da África do Sul. Somos líderes de mercado no espaço retalhista, estamos presentes em todos os grandes supermercados locais, e temos uma relação especial com a pescada do Cabo, que trabalhamos congelado desde 1984. No retalho, temos cerca de 60% de participação das vendas. Mas, se tomarmos em linha de conta o mercado global, a nossa quota é de 35%.
Exportamos desde 1964 e fazemo-lo, presentemente, para 22 países. O sul da Europa, e a Península Ibérica em particular, é o maior consumidor de pescada do Cabo. Portugal é o maior consumidor per capita de peixe na Europa, pelo que são, evidentemente, mercados muito importantes para nós e, tradicionalmente, mercados de exportação desta espécie. Itália, Europa Ocidental são igualmente importantes nestas geografias, a que se junta a Austrália, o nosso segundo maior mercado de exportação, enquanto a América do Norte e o Reino Unido compõem o saldo.
Das nossas capturas, cerca de 45% são de exportação, canal onde queremos estar cada vez mais próximos. Mas, no mercado interno, também importamos e trocamos com produto importado, proveniente de várias partes do mundo através de uma ampla rede de abastecimento. O nosso abastecimento global ajuda-nos a complementar o nosso negócio comercial.

GC – Como têm os regulamentos e quotas impostos pelo governo sul-africano afetado o negócio da Sea Harvest?
KG –
Consideramo-nos um cidadão corporativo responsável, portanto, respeitamos os regulamentos não apenas da África do Sul, mas globalmente. O controlo do governo sul-africano sobre a pesca é muito bem gerido e as autoridades merecem crédito. Nas nossas águas, os direitos de longo prazo são concedidos por 15 anos. O da Sea Harvest é cerca de 28%. Todos os anos são feitas pesquisas científicas sobre a qual baseiam a quota. Essa é uma metodologia muito boa. Já nos estamos a preparar para o próximo processo de alocação em 2020, quando os direitos serão revistos.

GC – Qual é a postura da Sea Harvest sobre a sustentabilidade? Que medidas foram tomadas para garantir a sustentabilidade dos recursos marinhos da África do Sul?
KG –
O nosso principal parceiro de sustentabilidade é o Marine Stewardship Council (MSC), o rótulo ecológico mais reconhecido em todo o mundo. Enquanto a África do Sul ainda está no início da compreensão do rótulo ecológico, fomos a primeira indústria pesqueira a ser certificada pelo MSC, em 2004. Conseguimos a recertificação em 2010 e, em 2015, recertificámo-nos novamente até 2020.
É uma longa história de práticas sustentáveis. Em 2004, ainda não era uma “buzzword”. Não era uma tendência em qualquer lugar do mundo. Na época, pensámos no que poderíamos fazer para a preservação a longo prazo destes recursos. Várias coisas aconteceram. Houve o estabelecimento de uma zona económica exclusiva, para evitar que pesca estrangeira acontecesse nas nossas águas. O segundo passo foi encontrar critérios estruturados de sustentabilidade. O que o MSC trouxe foi uma metodologia científica muito robusta para estabelecer uma estrutura de sustentabilidade.
Em segundo lugar, como uma indústria, associámo-nos ao World Wildlife Fund (WWF) e iniciámos um organismo chamado Alliance Responsable Fisheries (RFA). O objetivo principal é dizer que os nossos objetivos da pesca e os do WWF estão alinhados. Identificámos prioridades em termos de sustentabilidade ambiental e patrocinamos pesquisas nessas áreas. É uma visão muito holística do meio ambiente e dos fatores sociais das pescarias.

GC – A que se deve a aposta nesta parceria com a Gelpeixe? Quais são as mais-valias para a Sea Harvest decorrentes deste acordo?
KG –
A relação com Gelpeixe foi fundada no nosso relacionamento. Houve uma reunião de mentes e uma cultura de respeito mútuo. E também havia algo que é único, que é a busca da excelência.
Queríamos alguém que adicionasse valor à cadeia. É uma cooperação muito boa. Melhorámos alguns dos nossos processos e produtos, baseados nesse relacionamento e no feedback do mercado. Certificámo-nos de que temos um parceiro muito bom e forte, capaz de agregar valor à cadeia.

GC – Porquê a escolha da Gelpeixe? O facto de ser uma marca certificada pelo Marine Stewardship Council (MSC) e uma empresa de prestígio em Portugal pesou, de alguma forma, na vossa decisão?
KG –
Absolutamente. O MSC não se trata apenas de sustentabilidade, mas também de rastreabilidade. E nós, e os nossos parceiros, preocupamo-nos com a origem do alimento. É importante certificar-se de que tudo o que entra nas empresas nossas parceiras seja exatamente o que o consumidor está a receber no final.

GC – O facto de a Gelpeixe já ter sido várias vezes eleita uma empresa “Best Place to Work” é, igualmente, uma garantia na atividade comercial e no cumprimento dos pressupostos estabelecidos?
KG –
O “Best Place to Work” foi uma vantagem, mas não um requisito. Operamos num ambiente social muito difícil na África do Sul. Empregamos 2.500 pessoas na Sea Harvest, num ambiente rural. Fizemos dois estudos de impacto social com a Universidade da Cidade do Cabo e o impacto da Sea Harvest na nossa comunidade é significativo.
Temos muitos projetos sociais, como a escola e a creche que estamos a construir. A Fundação Sea Harvest patrocina escolas, programas de educação, desporto, entre muitos outros. Esse foco nas pessoas é algo que nos interessa muito. Somos, de longe, o maior empregador dessa comunidade. Portanto, o aspeto social é muito crítico.

GC – Trata-se de uma parceria exclusiva para o mercado nacional ou a Sea Harvest está à procura de alargar o seu leque de parceiros em Portugal?
KG –
Se tem a parceria certa, não precisa de definir limites de exclusividade. Penso que, naturalmente, se tornará uma parceria que será definida nos seus próprios termos.

GC – Que perceção têm do mercado e do consumidor nacional? Os portugueses são apreciadores de bom peixe?
KG –
Portugal, para nós, é um mercado e uma comunidade que aprecia bons frutos do mar. Alguns dos melhores frutos do mar do mundo estão em Portugal. Sem dúvida, é o maior consumidor da Europa per capita.

GC – Era importante ter um parceiro estratégico no nosso país para ajudar a reforçar a notoriedade e vender a origem África do Sul?
KG –
Sem nenhuma dúvida. Em qualquer mercado, temos relacionamentos muito longos com os nossos clientes. Em alguns mercados, temos relações que duram mais de 40 anos. Encontrar bons parceiros de longa data é absolutamente essencial.

GC – Desde 1985 que a Gelpeixe tem relações comerciais com a África do Sul. As parcerias estratégicas na origem são fundamentais para a empresa?
Manuel Tarré –
Mais do que nunca as parcerias são fundamentais para criar valor e podermos planear o futuro. A África do Sul tem águas muito semelhantes às nossas e daí algumas espécies nos serem familiares, como a pescada, a lula ou o tamboril. Quando há 32 anos nos iniciámos neste mercado, o foco era a pescada, sem dúvida, mas ao longo dos anos, não só evoluímos para outras espécies como também para produtos de valor acrescentado da pescada, como são os filetes, os lombos, os medalhões ou produtos panados.

GC – A Gelpeixe passa a estar na armação com este acordo. É um passo estratégico para a empresa no ano em que assinala 40 anos?
MT –
Claro. Depois de 40 anos, percebemos quão longe chegámos, quantas pessoas temos ao nosso redor e o tipo de confiança que criámos à nossa volta. O estar na origem era um “must” que urgia e que nos responsabiliza ainda mais a estar atentos ao mercado, quer em Portugal, quer na Europa, disponibilizando produtos apetecíveis a preços competitivos. Não estamos só para comprar, estamos também para entender o outro lado e concedermos, assim, valor acrescentado.

GC – A entrada na armação visa, essencialmente, uma maior capacidade de abastecimento das necessidades da empresa? Ou esta parceria visa muito mais do que isso?
MT –
É muito mais do que isso. Precisamos ter pessoas em que possamos confiar do outro lado do Equador e que sintam que o projeto deles é o nosso projeto e que o nosso projeto é também o deles, havendo um foco no interesse comum. Quando fazemos negócios obriga-nos a ética que partilho que ambos lucremos por estarmos junto e este é, sem dúvida, o caso.

GC – O já assumido alargamento das instalações, da respetiva capacidade de produção e de armazenamento visava já a concretização desta etapa negocial?
MT –
Não propriamente. Necessitávamos de aumentar a capacidade de armazenagem e renovar e aumentar equipamentos, independentemente deste de investimento na África do Sul. Estamos sempre a prestar atenção às novas tecnologias, novas máquinas e novos layouts. Tentamos o nosso melhor para reduzir custos.
A armazenagem é determinante para armazenar matéria prima sazonal mas, ao mesmo tempo, permite que façamos stock para clientes estratégicos que nos pedem, de um dia para outro, quantidades significantes. Para os próximos cinco anos, prevemos não ser mais necessário crescer em espaço e sala de laboração, mas, se tal necessidade surgir, será muito bem vinda e partiremos para novo investimento mas sempre num passo a passo seguro.

Leia o desenvolvimento da entrevista na edição n.º 47 da Grande Consumo, já disponível online para consulta e a chegar, em breve, na sua versão em papel.

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