in

Formato de “co-living” em crescimento

O formato de “co-living” registou, recentemente, um forte crescimento, em resposta à necessidade de habitação de qualidade com um espírito de comunidade localizada nos centros urbanos e destinada a jovens profissionais.

Cristina Arouca, diretora de Research na CBRE Portugal, destaca que “o número de arrendatários tem vindo a aumentar em toda a Europa, não apenas devido a restrições financeiras, mas também à necessidade de flexibilidade. O ‘co-living’ é uma solução de habitação que responde ao crescimento do número de pessoas que procuram o arrendamento, assim como à necessidade de socialização e pertença. Portugal tem ainda uma reduzida proporção de agregados familiares com contratos de arrendamento: 26% em Portugal versus 31% em média na União Europeia (em 2018), tendo, por isso, ainda um elevado potencial de desenvolvimento”.

O novo relatório da CBRE analisa as tendências, económicas, sociais e imobiliárias, que deram origem a esta nova classe de ativos na Europa e a dinâmica de seis cidades – Londres, Amsterdão, Berlim, Madrid, Milão e Viena – nas quais o formato de “co-living” se encontra mais estabelecido. “Em Portugal, existem já alguns conceitos de ‘co-living’, embora a maioria tenha uma oferta reduzida de unidades e não tenha sido desenhada de raiz com esse propósito. No entanto, existem já promotores a criar empreendimentos de raiz e com dimensão, tendo os dois primeiros sido inaugurados, este ano, em Santa Apolónia e Carcavelos pela Smart Studios. Operadores internacionais especializados na exploração deste tipo de unidades não estão ainda presentes em Portugal, embora diversos já tenham revelado interesse em entrar no nosso país. Portugal apresenta os principais fundamentos para o desenvolvimento deste conceito e, deste modo, a CBRE prevê que surjam em breve mais projetos”, assegura Nuno Nunes, diretor de Capital Markets na CBRE Portugal.

 

O que é o co-living e a quem se destina?

O “co-living” é um formato híbrido de habitação que reúne características do arrendamento tradicional e das residências de estudantes, oferecendo um espaço de habitação privado complementado com zonas comuns. Centra-se na experiência única que proporciona, resultante dos serviços e diversos espaços de lazer que oferece e da comunidade que cria.

Deste modo, os empreendimentos de “co-living” destinam-se primariamente a jovens profissionais, embora não exista uma idade limite. Sendo uma das suas principais características a possibilidade de realizar contratos de curta duração com todos os custos incluídos (água, eletricidade, gás, TV, limpeza, etc.), é a solução ideal para recém-chegados a uma cidade, assim como para nómadas digitais e freelancers que não estão “presos” a um local de trabalho.

A mobilidade internacional proporcionou às empresas a possibilidade de atrair talento em todo o mundo. Este crescimento demográfico não foi, porém, acompanhado por um aumento de oferta de habitação flexível. Esta é uma realidade bem presente em Portugal, nomeadamente, nos grandes centros urbanos de Lisboa e Porto, onde, nos últimos anos, diversas empresas internacionais instalaram centros de serviços partilhados, outsourcing e diversas empresas do sector tecnológico estabeleceram a base ou extensões do seu negócio. São exemplos um número alargado de empresas onde se incluem a Teleperformance, a Nestlé, o BNP Paribas, a Sodexo, a Hostelworld, a Revolut, a IBM e aVolkswagen entre outras.

Paralelamente, alterações no modelo de trabalho, o aumento da solidão e a difusão da economia de partilha levam as pessoas a reequacionar o ambiente onde querem viver. Neste sentido, alguns empreendimentos de “co-living” oferecem espaços de “co-working”. Com o aumento do teletrabalho, esta é uma oferta cada vez mais atrativa, a par com a possibilidade de celebrar contratos com duração flexível e menos dispendiosos que um arrendamento tradicional.

 

Impulsionadores da procura

Os três principais catalisadores da procura de espaços de “co-living”, todos com expressão em Portugal, são a dificuldade no acesso a habitação própria, a urbanização e as mudanças sociais.

O crescimento exponencial dos preços de habitação (45% desde 2013) e maiores restrições de acesso ao crédito bancário têm tornado, cada vez mais, difícil a compra de habitação própria em Portugal. Lisboa é das cidades europeias onde o crédito à habitação tem um peso mais elevado no rendimento médio disponível e é onde esse peso mais aumentou nos últimos cinco anos.

Paralelamente, 75% da população da União Europeia vive atualmente em zonas urbanas e as Nações Unidas preveem um crescimento para 84%, em 2050. A densidade populacional nas cidades é cada vez maior e o espaço começa a tornar-se escasso. O modelo de “co-living” reinventa o modo como se utiliza o espaço, fazendo o seu aproveitamento mais eficiente

Em Portugal, a população que reside em zonas urbanas aumentou 20%, entre 2000 e 2020. Portugal é dos países europeus que revelou um maior crescimento na taxa de emprego em cidades, nos últimos 10 anos, com um acréscimo de sete pontos percentuais.  São tipicamente os jovens quem se muda para as cidades atrás de oportunidades de emprego. Esta geração, que procura flexibilidade, alojamento central e confraternização, é o alvo principal dos conceitos de “co-living”.

Além disso, a idade média com que se casa e com que se tem o primeiro filho aumentou, de um modo geral, na Europa e em especial no país. Em Portugal, em 2019, a idade média de casamento foi de 32,4 anos para as mulheres e de 33,9 para os homens, comparado com 25,6 e 27,3 anos, respetivamente, em 1999. Também a idade média das mulheres ao nascimento do primeiro filho aumentou significativamente ao longo destas duas décadas: de 26,4 anos para 29,9. Estes acontecimentos são frequentemente estimuladores da decisão de compra de casa. Sendo esta decisão cada vez mais tardia, mais pessoas irão viver em alojamentos arrendados e durante mais tempo.

Por outro lado, é sobejamente reconhecido que a Geração Millennial e a sua sucessora Geração Z valorizam muito mais a flexibilidade e a mobilidade de emprego do que as suas antecessoras, pelo que a opção de arrendamento ajusta-se naturalmente ao seu estilo de vida. Em Portugal, o aumento significativo de trabalhadores estrangeiros, ao longo dos últimos anos, impulsiona o potencial do formato “co-living”, tanto pela flexibilidade como pela convivência.

Por fim, o conceito de “co-living” responde a um problema crescente de solidão. Apesar do incremento da tecnologia e das redes sociais, a solidão tem vindo a crescer significativamente, sobretudo nas cidades. De acordo com os dados do Eurostat, 8% das pessoas em Portugal não têm ninguém com quem conversar. Deste modo, ao proporcionar interações em espaços comuns, como zonas de refeição partilhadas, eventos para os residentes, aulas de ginástica, etc., o conceito de “co-living” cria um espírito de comunidade e pertença.

Aceda aqui ao relatório.

Espaço Casa

Espaço Casa abre 54.ª loja em Matosinhos

Continente

Leopoldina regressa para celebrar os 35 anos do Continente