Os três porquinhos e as promoções

Armando Mateus, Chief Experience Office Touchpoint Consulting
Armando Mateus, Chief Experience Office da Touchpoint Consulting

Era uma vez, três porquinhos que viviam com a sua mãe. Um dia, como já estavam muito crescidos, decidiram ir viver cada um em sua casa. A mãe concordou, mas avisou-os: tenham muito cuidado, porque manter a própria casa dá muita despesa e têm de andar sempre com atenção às promoções!

Os personagens desta fábula do nosso mundo do retalho são três porquinhos: Prático, Heitor e Cícero. Apesar de serem todos irmãos e de terem crescido juntos, são muito diferentes na sua personalidade, tal como os consumidores que pertencem a diferentes segmentos, com diferentes estilos de vida, diferentes medos e necessidades, diferentes estágios de vida.

Cícero, empregado num dos muito “call centers” existentes na floresta e sensível ao preço, sempre atento às promoções, aos melhores preços, às melhores ofertas e consumidor ávido de marcas próprias, queria uma solução imediata e, por isso, construiu uma cabana de palha e lama. Heitor, com o seu emprego num banco e um estilo de vida ativo e saudável, sempre pronto a experimentar novos produtos sustentáveis, decidiu construir uma cabana de madeira, mas sem pregos de metal que enferrujam e causam doenças. Prático é o mais velho de todos, com família constituída e um emprego seguro e financeiramente estável numa multinacional, sempre fiel às suas marcas de sempre e pouco disponível para mudanças. Como todos os porquinhos da sua geração, Prático optou por pedir um empréstimo ao banco e construir a sua própria casa de cimento, tijolos, pedra e vidro, resistente aos mais fortes ventos.

Cícero e Heitor rapidamente se mudaram para as suas cabanas de palha e madeira, ficando com muito tempo disponível para passear pelos centros comerciais, visitar múltiplas lojas e olhar para as oportunidades e novidades existentes nos inúmeros folhetos e promoções. Já Prático nem sempre conseguia juntar-se aos seus irmãos, pois tinha um empréstimo para pagar e uma família para suportar, olhando com uma ponta de inveja para os seus irmãos mais novos enquanto se divertiam.

Nos anos mais recentes, os três porquinhos resistiram a uma crise de saúde que varreu a floresta e viram partir muitos dos seus amigos e familiares, principalmente os mais velhos. Mas, mesmo assim, a sua vida continuou e, assim que puderam, voltaram aos passeios, às festas e aos almoços de família e amigos.

Mas eis que, de repente, os ventos de leste chegaram e começaram a soprar de forma aterradora, qual furacão ou autêntico Lobo Mau, levando tudo à sua frente. E, nesse momento, os três porquinhos procuraram refúgio nas suas casas, dedicando-se a procurar mais e melhores oportunidades e promoções que lhes permitissem manter o seu estilo de vida. Não existia outro remédio que não fosse mudar os hábitos de compra, mover-se para baixo na curva da procura, adiar compras, trocar de marcas ou de categorias de produto e concentrar-se no processo de obtenção de informação. Enfim, havia que gastar menos e, para isso, havia que comparar mais, recorrer mais às promoções.

O Lobo Mau chegou rapidamente à cabana de palha de Cícero e o seu sopro de imediato causou pânico. Cícero ficou, imediatamente, em stress e tentou fugir da enorme ventania que colocava em causa o seu estilo de vida. Para isso, cortou drasticamente nos seus gastos, reduzindo, desta forma, o consumo e trocando de marcas e, até, de categorias de produto. Não sendo leal a nenhuma marca, mas sim ao melhor preço, Cícero rapidamente percebeu que nem as promoções o iam salvar, já que as lojas onde ia continuavam a fazer promoções de produtos que pouco o ajudavam e cada vez tinha menos verdadeiras promoções e descontos relevantes. Por isso, não teve outro remédio que não fosse abandonar a sua cabana de palha e correr a procurar refúgio em casa do seu irmão Heitor.

Após destruir o bairro dos sensíveis ao preço, o Lobo Mau rapidamente se aproximou da cabana de madeira de Heitor, que se julgava mais protegido pelo seu estilo de vida ativo e saudável. Mas o sopro de vento era tão forte que até o consumidor mais planeado viu a sua vida posta em causa, necessitando de deslocar-se para baixo na curva da procura. Apesar de estar mais disponível para experimentar produtos novos, o preço da sustentabilidade e da ecologia era demasiado grande para suportar, as novidades nos folhetos continuavam a não ser relevantes e a Heitor não lhe restava outra alternativa que pegar no seu irmão Cícero e mudarem-se para casa de Prático.

Eis que o forte sopro do Lobo Mau chegou ao único pedaço da floresta que sobreviveu à sua força inimaginável, o bairro de cimento e tijolo onde Prático vivia com a sua família e, agora, com os seus dois irmãos. Tudo parecia normal no bairro e, apesar dos amigos do Lobo Mau, estarem a ganhar cada vez mais dinheiro com o aquecimento e com o empréstimo da casa de Prático, o porquinho mais velho, ponderado e planeado, continuava a procurar uma forma de manter o seu estilo de vida. Continuava a comprar as suas marcas, continuava a olhar para os folhetos das mesmas lojas onde sempre foi toda a sua vida, mas estava um pouco dececionado com o número de produtos que tinham descontos e com o valor desses descontos. Parecia que as marcas e lojas o estavam a ajudar menos! Prático tinha a certeza e a esperança que ia sobreviver, que ia ajudar os seus irmãos e que o futuro seria diferente, apesar do que ia vendo à sua volta.

E o Lobo Mau desapareceu para sempre ou anda escondido atrás duma pele de cordeiro e vai regressar quando menos se espera? Ou, mais importante, quem é o Lobo Mau nesta estória? A verdade é que há muitos lobos maus e amigos do Lobo Mau, que levam a que os preços aumentem cada vez mais, que se aproveitam da desculpa do vento de leste para serem mais gordinhos, que oferecem cada vez menos promoções e descontos.

A moral da estória dos três porquinhos diz-nos que o trabalho sério e incansável é sinónimo de sucesso… Mas isso seria sem lobos maus na vida! Por isso, há que ter os olhos bem abertos e estar sempre atento aos lobos maus que andam por aí!

Quando o Lobo Mau voltar a soprar, qual será a casa que vai resistir?

Armando Mateus, Chief Experience Officer da TouchPoint Consulting International
Armando Mateus
Chief Experience Officer da TouchPoint Consulting

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