2023: um ano de desafios e de todas as incertezas

Gonçalo Lobo Xavier, diretor geral APED
Gonçalo Lobo Xavier, diretor geral APED

Perspetivar o que será 2023 é um exercício exigente face à incerteza sobre o rumo que a guerra na Ucrânia irá tomar e o prolongar dos efeitos socioeconómicos sentidos por todos, fortemente pressionados pelos elevados custos energéticos.

Os dados conhecidos mais recentemente denotam cautela e expectativa em relação à evolução dos próximos meses, com as previsões do Banco Central Europeu (BCE) a apontarem para uma inflação de 8,3% e uma contração económica entre o terceiro trimestre de 2022 e o primeiro trimestre de 2023, com perda do poder de compra das famílias, uma economia global mais fraca e o aumento das taxas de juro, justificada pelo BCE como instrumento de combate à inflação.

 

Cenário menos favorável e incerteza em relação ao futuro

Perante um cenário menos favorável e incerteza em relação ao futuro, assiste-se, naturalmente, a uma retração no consumo, com um processo de compra mais racional e uma gestão mais cuidada do orçamento familiar, com uma atenção redobrada às promoções e às propostas competitivas dos retalhistas, quer na distribuição alimentar, quer na distribuição especializada. A resposta que o sector tem vindo a ter, e que manterá em 2023, assenta na resiliência, foco redobrado na eficiência em toda a cadeia de valor e compromisso com a qualidade e com a satisfação dos consumidores.

A distribuição tem procurado mitigar o crescimento dos custos não os transferindo, na mesma proporcionalidade, para o preço de venda final. Isto só é possível através de um esforço muito grande com a manutenção e/ou diminuição das margens e com eficiência nas operações e capacidade logística. No entanto, todos os indicadores que temos, relativamente ao primeiro trimestre de 2023, apontam que, se permanecerem os elevados preços do fator energia, será difícil manter esta capacidade de mitigar aumentos, pelo menos, na proporção que se tem estabilizado: as empresas de retalho têm passado apenas 35% do aumento dos custos dos fatores de produção para o consumidor. 

 

Urgência de medidas concretas

Perante este quadro, urge uma intervenção, a nível nacional e comunitário, com medidas concretas que apoiem e protejam toda a cadeira de valor do sector, que mitigue os efeitos da inflação e a redução do poder de compra dos consumidores, com medidas como a redução do IVA nos bens essenciais e uma resposta clara ao elevado preço da energia, seja energia elétrica, gás ou, ainda, os combustíveis fósseis.

Por outro lado, é essencial a criação de medidas nacionais e europeias que permitam às empresas reduzir a sua fatura energética e que se apoie a cadeia de valor, nomeadamente, ao nível de transportes e logística, perante o contínuo aumento dos combustíveis fósseis. Por fim, mas não menos importante, é essencial ir além das medidas mais imediatas de apoio às empresas e famílias e perspetivar respostas mais estruturantes, a médio e longo prazo, para robustecer a capacidade económica nacional, que passa pela aposta na formação e requalificação das pessoas e pela reindustrialização do país, reduzindo a dependência de mercados impactados por maior instabilidade geopolítica e económica.

 

Alertas

São vários os alertas que os diferentes sectores económicos têm dado para a importância de serem implementadas medidas que respondam aos reais desafios sentidos pelas empresas no dia a dia, numa clara demonstração de abertura ao diálogo e para dar contributos construtivos. Infelizmente, da parte do Governo, parece não haver essa disponibilidade, materializada na decisão de avançar com um novo imposto sobre o sector da distribuição alimentar, sob a forma de contribuição de solidariedade temporária. Trata-se de um sinal de sentido contrário ao esforço que o sector tem feito para garantir o funcionamento da cadeia de fornecimento e para que os consumidores encontrem os bens de que necessitam a um preço competitivo. Esta parece ser mais uma medida avulsa, desconhecendo-se critérios e metodologia de aplicação, uma decisão sem paralelo no contexto dos restantes Estados-membros da União Europeia.

 

Desafios

Em 2023, Portugal irá enfrentar muitos desafios e o sector da distribuição estará à altura para dar o seu contributo, como tem feito até aqui. Com uma aposta clara no apoio à produção nacional, na sustentabilidade e eficiência energética, na formação e requalificação das pessoas e com um investimento contínuo na inovação e na transição digital. Como sempre, com o foco no consumidor e na sua liberdade de escolha.

Gonçalo Lobo Xavier, diretor geral APED
Gonçalo Lobo Xavier
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