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Aumento do custo de vida provoca quebra na procura de psicólogos

Impacto económico afeta saúde mental dos portugueses

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A procura por consultas de psicologia em Portugal está a diminuir e a preocupar os profissionais de saúde, revelam dados da plataforma de serviços Fixando, que registou uma quebra de 25% na contratação destes serviços entre janeiro e outubro deste ano, motivada essencialmente pelos constrangimentos nos orçamentos domésticos das famílias portuguesas.

De acordo com os dados recolhidos pela Fixando, entre 2020 e 2022, a procura por consultas de psicologia cresceu de forma expressiva: em 2021, registou-se um aumento de 144% em relação ao ano anterior, e em 2022, o crescimento foi ainda mais acentuado, atingindo 160%.

Estes números refletem o impacto da pandemia de Covid-19, que trouxe consigo uma maior consciencialização sobre a importância da saúde mental. No entanto, a tendência mudou drasticamente nos últimos dois anos”, alerta Alice Nunes, diretora de Novos Negócios da plataforma.

 

Dificuldades económicas

Em 2023, houve uma quebra de 27% na procura por consultas de psicologia e a Fixando estima que, até ao final de 2024, se verifique uma quebra anual na ordem dos 16%.

A principal explicação para esta inversão de tendência parece estar relacionada com as dificuldades económicas que afetam grande parte dos portugueses. Com muitas famílias a sentiram uma diminuição do rendimento disponível, muitos estão a cortar em despesas consideradas “não essenciais”, como consultas de psicologia.

Infelizmente, o apoio psicológico ainda é visto como um luxo para muitos. Esta realidade acaba por afetar de forma mais acentuada jovens e reformados, que representam grupos com maior vulnerabilidade económica”, explica Alice Nunes.

Teresa Montano, psicóloga contactada pela Fixando, reconhece que “existe menos estigma e vergonha, mas há ainda um longo caminho a percorrer ao nível da informação sobre a psicologia e ao nível da prevenção. Existem pessoas que estão uma vida inteira em sofrimento e, por exemplo, só aos 50 anos de idade conseguem procurar ajuda psicológica”.

Quanto às medidas necessárias para melhorar o acesso dos portugueses a cuidados de saúde mental, Teresa Montano reforça a necessidade de existirem mais psicólogos nas escolas e universidades, no Serviço Nacional de Saúde, assim como aumentarem o valor das comparticipações, quer de seguradoras quer dos subsistemas de saúde.

 

Principais motivos para procurar apoio psicológico

Apesar da diminuição na procura, os motivos pelos quais os portugueses procuram ajuda psicológica mantêm-se constantes, sendo a ansiedade a principal causa (60%), seguida de tristeza ou depressão (58%), confusão (33%) e isolamento (29%).

De acordo com os profissionais inquiridos pela Fixando, o perfil de quem recorre a consultas de psicologia é maioritariamente composto por mulheres entre os 30 e 60 anos. No entanto, nota-se um aumento progressivo de homens e adolescentes, quer do sexo masculino, como do sexo feminino, a solicitar apoio.

Os jovens adultos, que enfrentam desafios como o início da vida profissional e a independência financeira, são uma faixa etária em crescente procura de apoio psicológico, numa fase de transições importantes que podem gerar elevados níveis de ansiedade e stress”, reforça a psicóloga Felicidade Alegria, Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde.

Outro dado relevante é o declínio do estigma em torno da saúde mental. Embora ainda existam preconceitos, sobretudo em faixas etárias mais velhas, os profissionais apontam para uma mudança positiva, especialmente entre os mais jovens, que começam a encarar o apoio psicológico como um investimento no seu bem-estar.

A procura de ajuda já não é vista como uma fraqueza, mas sim como um sinal de coragem“, comenta uma terapeuta.

Neste Dia Mundial da Saúde Mental, é fundamental refletirmos sobre o impacto que a instabilidade económica está a ter na saúde mental dos portugueses e como garantir que o apoio psicológico seja uma prioridade acessível a todos”, sublinha Alice Nunes.

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Por Bárbara Sousa

I am a journalist and news editor with eight years of experience in
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