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O apagão elétrico que, a 28 de abril, deixou grande parte de Portugal continental e Espanha sem eletricidade durante cerca de 12 horas, provocou uma queda abrupta na atividade económica nacional.
Segundo dados divulgados pelo Banco de Portugal (BdP), a economia portuguesa recuou 14,8% nesse dia, registando um nível de atividade equivalente ao observado durante o desconfinamento da pandemia, em maio de 2020. “É preciso recuar a 28 de maio de 2020 para encontrar um dia em que a atividade económica tenha recuado tanto”, indica o Banco de Portugal.
A data coincide com o período em que o país começava a sair, lentamente, do primeiro confinamento da Covid-19. Ainda com muitas restrições em vigor — como o encerramento dos ATL ou a limitação da atividade presencial — a economia operava com fortes constrangimentos à produtividade.
Durante os primeiros dias da pandemia, os recuos diários chegaram a ultrapassar os 20%, em resultado direto das restrições à mobilidade e ao funcionamento de diversos sectores de atividade. No caso do apagão de abril, o impacto foi repentino, mas também rapidamente compensado.
Recuperação nos dias seguintes, mas lenta
Os dados do BdP revelam que, após a quebra de 14,8% registada no dia 28 de abril, a atividade económica continuou a recuar nos dois dias seguintes — 4,2% no dia 29 e 1% no dia 30. A retoma só começou a 1 de maio, com um crescimento de 2%.
O Banco de Portugal sublinha que este tipo de indicador diário “é bastante volátil” e, por isso, complementa a análise com médias semanais, que ajudam a suavizar os efeitos de variações bruscas. Na semana terminada a 1 de maio, que inclui o dia do apagão, a atividade económica caiu 3,8%. Ainda assim, o valor representa uma melhoria face à semana anterior, em que o recuo foi de 5,1%.
Economia perto da estagnação no segundo trimestre
Analisando o desempenho económico desde o início do segundo trimestre — ou seja, entre 1 de abril e 4 de maio — o indicador diário do BdP revela uma média de crescimento de apenas 0,3%. Este valor contrasta com o ritmo observado em março, quando a economia portuguesa cresceu, em média, 1,2% por dia.
Apesar de não ser uma medida direta do Produto Interno Bruto (PIB), o indicador diário de atividade económica é uma ferramenta útil para aferir a evolução da economia em tempo real. Foi criado pelo Banco de Portugal durante a pandemia e assenta em variáveis de alta frequência, como o tráfego de veículos pesados, o desembarque de mercadorias nos aeroportos, as compras com cartões bancários e o consumo de eletricidade e gás.
“Impacto pontual”, mas com sinais de abrandamento
O Banco de Portugal classifica o impacto do apagão como “pontual”, mas os dados sugerem que a economia portuguesa entrou num período de abrandamento após o crescimento verificado nos primeiros meses do ano. Com a média do segundo trimestre a rondar os 0,3% e os efeitos do apagão já absorvidos, o indicador aponta para uma travagem na dinâmica económica.