Três mudanças estão a impulsionar uma reinvenção do retalho: novos modelos de negócios, expansão de canais e expectativa dos compradores, de acordo com um relatório da Euromonitor International em colaboração com a National Retail Federation (NRF).
A rápida digitalização abriu caminho a novos modelos de negócio, como os marketplaces, a venda direta e o “social commerce”. De acordo com Michelle Evans, responsável pela área de retalho na Euromonitor, empresas que não começaram no retalho competem agora pela atenção dos compradores e pelos seus gastos. Os exemplos incluem as redes sociais, os serviços de streaming e as plataformas de jogos, que não foram originalmente construídos para o comércio, mas continuam a expandir esses recursos com conteúdo comercializável, marketplaces ou os seus próprios sites de merchandising.
“A ByteDance, dona do TikTok e do Douyin, está a capitalizar o alcance do público e a influência das suas apps na jornada de compra. Em 2020, a sua plataforma chinesa Douyin adicionou funcionalidades de comércio e está a colher enormes ganhos. As vendas online de produtos de beleza e de cuidados pessoais no marketplace da Douyin aumentaram 50%, no primeiro trimestre de 2024, comparativamente ao homólogo de 2023, e a empresa ganhou 10 pontos percentuais de quota, de acordo com dados da Euromonitor. A Douyin tornou-se no maior retalhista online na China para esta categoria, a partir do primeiro trimestre”, avança Michelle Evans.
Mudanças nos bastidores
Estas mudanças nos bastidores na forma como os produtos chegam aos consumidores interrompem as normas do sector, criando novos parceiros e concorrentes. Tal conduz a mudanças operacionais e força os retalhistas a encontrarem fluxos de receita adicionais, para apoiar as metas de crescimento num cenário fragmentado.
Os retalhistas continuam a evoluir para modelos de negócio multicanal e omnicanal. Esses pontos de contacto adicionais são uma oportunidade para envolver os shoppers, o que pode levar a um crescimento incremental.
Michelle Evans nota que o desafio é harmonizar os vários canais, reunindo lojas físicas, site, apps e redes sociais, para criar uma experiência unificada que coloque o cliente no centro da transação. “A alimentação é uma necessidade, o que significa que esta categoria é um campo de batalha privilegiado para observar desenvolvimentos mais amplos no sector do retalho. Antigamente, havia linhas claras de demarcação entre as compras de alimentos nos supermercados versus os restaurantes. Mas essa distinção não é mais tão clara, devido à evolução dos hábitos de consumo e aos avanços tecnológicos”, exemplifica.
Expectativas mais elevadas
Os consumidores esperam mais da jornada de compra, procurando ofertas exclusivas, recomendações, um melhor serviço, checkouts mais fáceis e entregas mais rápidas, destaca a Euromonitor, salientando que os padrões dos consumidores, já elevados, continuarão a aumentar. “As condições económicas, os avanços tecnológicos, as mudanças de canais e os valores pessoais influenciam as suas preferências. Retalhistas e marcas precisam de se transformar continuamente para atender a maiores expectativas”, sublinha Michelle Evans.
Uma dessas mudanças é o aumento do desejo de personalização. Metade dos consumidores quer produtos ou serviços personalizados e um em cada cinco quer experiências de compra personalizadas, de acordo com o “Voice of the Consumer: Lifestyles Survey 2024” da Euromonitor, um inquérito feito em 40 países. “Esses sentimentos são ainda maiores entre os compradores conectados – uma segmentação da população mais experiente digitalmente. Mas isso não deve ser uma surpresa. Porquê? Este grupo compra com maior frequência em canais online, onde integrações tecnológicas como a inteligência artificial generativa ou a realidade aumentada podem criar experiências de compra intuitivas e personalizadas, com base em necessidades ou preferências individuais”, acrescenta Michelle Evans.
Privacidade vs. personalização
Os retalhistas e as marcas devem, então, adaptar-se, à medida que a evolução das compras acelera. Michelle Evans explica que, embora os consumidores esperem produtos e serviços personalizados com base nas suas preferências, também precisam de partilhar os seus dados para que as empresas os desenvolvam, o que pode entrar em conflito com o seu desejo de privacidade.
“Privacidade versus personalização é um dos 12 desafios que a Euromonitor identifica como os que mais impactam o futuro do retalho. Retalhistas, marcas e outros ‘players’ deste ecossistema precisam de equilibrar essas tensões, entre outras, para se manterem relevantes aos olhos dos clientes hoje e ainda mais no futuro”, conclui.