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One Business Place quer impulsionar comércio local

A OBP, One Business Place, vem dar uma lufada de ar fresco ao comércio local. A ideia parece simples: agregar o pequeno comércio de rua num site, facilitando a procura por parte dos consumidores, ao mesmo tempo que coloca no mapa pequenas lojas que são muitas vezes esquecidas. “Não deixe sair do mapa quem o serve bem” é o mote do projeto que está já a funcionar, por agora, apenas em Lisboa.

A conveniência das grandes superfícies comerciais, que conseguem agregar no mesmo espaço diversos serviços e negócios, é certamente uma mais-valia para os consumidores. Mas, muitas vezes, o que procuramos está precisamente ao lado de casa. Ora, a falta de presença online não ajuda a rentabilizar o negócio. Impedir que o comércio local seja esquecido e desvalorizado, facilitar a procura por parte dos consumidores e impulsionar os negócios locais são alguns dos objetivos a que se propõe a OBP.

A OBP – One Bussiness Place é um projeto europeu de defesa da economia local, financiado, em parte, pela Comissão Europeia. Os principais objetivos da OBP são simples: promover o comércio e serviços de proximidade, nomeadamente os de maior tradição histórica e cultural; contrariar a tendência contemporânea de promoção exclusiva dos grandes grupos comerciais e culturais, em plataformas digitais; dar visibilidade a pequenas e médias empresas que, pela sua reduzida dimensão, têm dificuldade em aceder a canais de comunicação tecnológicos mais sofisticados para divulgarem a sua localização. Em suma, trazer novos clientes ao pequeno comércio. “A OBP surgiu da ideia de podermos dar visibilidade ao comércio tradicional, o comércio local, que vimos morrer e decrescer cada vez mais, principalmente desde a crise de 2008. A ideia nasceu em Espanha, precisamente porque vimos no mercado ibérico a maior vulnerabilidade”, explica Jorge Simões, Regional Manager da OBP Portugal.

O projeto concorreu ao programa da Comissão Europeia Horizonte 2020, com uma candidatura para três cidades europeias, Lisboa, Madrid e Berlim, sendo recebido com agrado e assim selecionado e financiado num acordo de subvenção. A escolha das cidades não foi aleatória, seguindo uma lógica muito própria: apostar em duas cidades semelhantes no que ao comércio tradicional diz respeito, Lisboa e Madrid, e ainda numa cidade que, para além de ter um tipo de comércio diferente, não sofreu a crise económico-financeira da mesma forma. “Lisboa e Madrid são muito semelhantes, apenas com as devidas diferenças financeiras e geográficas dos dois países. Para além disto, foram logo à partida cidades onde estávamos mais à vontade para trabalhar, por sermos mais conhecedores destes países. No caso de Berlim, é o oposto. É uma das cidades que menos sofreu com a crise, com um comércio tradicional diferente e uma forma de trabalhar o comércio e as empresas completamente distintas daquilo que são os outros países europeus. Selecionámos estas três cidades, acima de tudo, com o objetivo de testar algumas práticas e perceber com que métodos conseguimos obter melhores resultados e ter mais êxito. Optámos por três modelos diferentes e, antes de alargamos a outras cidades e a outras capitais europeias, alargaremos em cada um dos países. No nosso caso em concreto, depois de testado o modelo em Lisboa, vamos alargar ao resto de Portugal, aplicando aquelas que nos pareceram ser as melhores práticas, as que nos oferecerem melhores resultados e, assim, ficar completamente visíveis em todo o território nacional, impulsionando o pequeno comércio em todo o país. O mesmo acontecerá em Espanha e na Alemanha. Só depois disto é que iremos concorrer a outras capitais europeias”, detalha Jorge Simões. A dar agora os primeiros passos, a OBP acredita que esta fase inicial de teste não irá prolongar-se por muito tempo. No início do segundo trimestre de 2018, a OBP quer alargar o projeto a outras cidades, dentro dos países onde está já a operar.

O caso português
Com um gestor de projeto para cada uma das cidades, nem todas estão a operar da mesma forma. Para o caso da cidade portuguesa, Jorge Simões julgou pertinente a criação de uma aplicação. Isto significa que, para além do site online, a OBP em Portugal irá funcionar também com uma app para smartphones “Nós, portugueses, somos recetivos a este tipo de coisas. A ideia de criar uma app está precisamente ligada ao comércio tradicional. Se, por um lado, há um envelhecimento da população dos bairros, por outro, há pessoas cada vez mais jovens a irem morar para os bairros tradicionais e históricos de Lisboa. A população mais envelhecida não usa estas aplicações e já conhece o comércio local, mas quem chega ao bairro não sabe que tipo de comércio tradicional existe. E estes novos moradores destes bairros antigos são utilizadores natos do telemóvel. Portanto, fez todo o sentido criar uma aplicação que pudesse ser utilizada não só para consultar o comércio local, mas também enriquecer a base de dados com informações que pudessem adiciona, como uma fotografia, horários de funcionamento etc.”, declara.

Contudo, esta não foi a única ideia implementada em exclusivo em Portugal. A OBP Portugal optou por um método de abordagem bastante interessante. Nos meses de junho, julho e agosto, alguns estudantes universitários circularam pelas ruas de Lisboa, abordando os comerciantes e dando-lhes a conhecer o projeto. O contacto mais pessoal parece ter trazido bons resultados para o projeto. “Quando se investem 15 minutos a falar com aquela pessoa que está mais reticente, conseguimos ter um bom resultado. O mesmo não acontece quando tentamos outro meio de comunicação, como a rádio, a televisão ou o telemarketing, que foram utilizados nas outras cidades e a taxa de sucesso não foi a melhor. Os comerciantes acabaram por entender o projeto e registar-se”.

O processo é rápido e simples. Os comerciantes têm apenas de registar o negócio no site, incluindo dados como a morada, o contacto, a área de negócio em que se inserem e uma fotografia de local. A partir daqui a OBP coloca-os no mapa. Os consumidores podem depois, ao utilizar o site, acrescentar informações que sejam pertinentes e ajudem futuros consumidores do estabelecimento.

Apesar da facilidade do registo e de não existir nenhum custo associado, a abordagem aos comerciantes não foi assim tão fácil. “Os consumidores com idades acima dos 45 anos, embora possam estar familiarizados com as novas tecnologias, não têm aquela paciência de ir lá e perder cinco ou 10 minutos a fazer um registo. E há muitas pessoas nessa faixa etária que ainda nem estão familiarizadas com as novas tecnologias. No caso das faixas etárias acima dos 60 anos, a visão é ainda mais diferente. Alguns dos comerciantes mantêm o seu negócio por uma questão mais emocional do que comercial. O que fizemos foi explicar que, em todos os casos, é importante saber que aquele negócio existe e que está ali naquele local”.

A médio-longo prazo, a OBP assume a sua vontade em fazer um estudo sobre o impacto do projeto nos diversos negócios, procurando saber de que forma este impulsionou e ajudou pequenas empresas que são muitas vezes esquecidas. Uma lufada de ar fresco para o comércio tradicional que tem agora a oportunidade de voltar a ser visto como a primeira opção de um local, ou mesmo de turista, quando procura negócios tão simples como uma drogaria, um sapateiro ou uma retrosaria. Mais do que um site, a OBP pretende ser um dinamizador da relação entre os comerciantes e os habitantes de alguns dos bairros mais históricos da cidade de Lisboa e, futuramente, de Portugal. “Não queremos uma relação só com o comerciante, queremos envolver a comunidade toda. Queremos que o proprietário forneça os dados, mas que depois toda comunidade esteja envolvida, acrescentando informações sobre o negócio, de forma a que os dados estejam sempre o mais atualizados possível”, remata.

Este artigo foi publicado na edição 48 da Grande Consumo.

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