Os CEOs de algumas das maiores empresas do sector do retalho e do grande consumo em Portugal, nomeadamente Pedro Salter Cid, da Auchan Retail, Rui Miguel Nabeiro, da Delta Cafés, Anna Lenz, da Nestlé Portugal, Luís Moutinho, da Sonae MC, e António Casanova, da Unilever Fima, destacaram, na sétima edição do Congresso GS1 Portugal, a necessidade de reunir esforços para que o impacto da inflação no consumidor seja o menor possível.
Realizado a 20 de outubro, no Grande Auditório da NOVA SBE, em Carcavelos, o congresso decorreu sob o tema “Codificar o Futuro: Inflação, deflação e reduflação”. Na sua intervenção, Anna Lenz afirmou que importa “pensar de que forma é possível tornar a cadeia de valor mais eficiente, protegendo o consumidor”, sendo necessária “uma responsabilidade conjunta entre produtores, retalhistas e fornecedores”, fazendo um balanço para perceber o que se pode passar efetivamente para o consumidor.
Já Rui Miguel Nabeiro indicou que a inovação e a eficiência podem ajudar a dar resposta à crise, mas que, além disto, “temos de perceber o que é isto do preço justo, que passamos para o lado de lá, porque temos de manter a sustentabilidade das nossas organizações”, sendo este o grande desafio das empresas.
Por seu lado, Luís Moutinho explicou que o cliente tem vindo a ajustar-se às mudanças, tornando-se mais prudente, vivendo um dia de cada vez, com a opção de compra a passar para as marcas de retalho, percebidas como mais baratas. Pedro Cid, por sua vez, referiu que, nestas mudanças graduais, vai haver uma constante: “os portugueses vão continuar a querer uma melhor alimentação, uma alimentação mais saudável, vão continuar a querer um planeta melhor”, tendo aqui o retalho um papel importante.
Finalmente, António Casanova apontou duas certezas: “vamos ter inflação e vamos ter uma recessão”, reforçando as quedas reais de PIB em Portugal.
Deste debate, saiu reforçada a ideia de um trabalho em conjunto entre os vários elos da cadeia de valor, na procura de matérias-primas que se encontram mais próximas, encurtando as cadeias e continuando a olhar para a sustentabilidade e para as alterações climáticas como fatores diferenciadores na procura da satisfação do mercado.
Também Paulo Gomes, presidente da Direção GS1 Portugal, na sua nota de boas-vindas, referiu a inovação, a transformação digital e a sustentabilidade como alavancas de uma cadeia de valor mais eficiente e competitiva.
Imprevisbilidade
Já Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, na abertura institucional do congresso definiu o contexto socioeconómico atual como “tempo de dificuldades para as famílias, mas também de desafios para as empresas”, especialmente no que toca à compreensão do consumidor e da mitigação do impacto da inflação nos portugueses. No entanto, deixou uma nota otimista para o futuro: existem expectativas positivas para Portugal. “É um país pacífico, de estabilidade, que continua a atrair turistas e investimento estrangeiro”.
Seguiu-se a intervenção institucional do antigo vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, que abordou as respostas territoriais e económicas para a atual crise mundial. Toda a intervenção sublinhou a forte imprevisibilidade do momento. “Aconselharia as autoridades a não falarem das previsões como quem fala de promessas”, alertou.
Com o objetivo de moderar os impactos recessivos na economia, Paulo Portas apontou a necessidade de ponderação na reavaliação de fatores-chave: o peso do turismo no PIB português, a quantidade de estrangeiros a comprar ativos em Portugal, o mix energético, que é diferente daquele que nos liga à dependência da guerra e, por fim, a eficiência da “bazuca” europeia. Na sua intervenção, Paulo Portas realçou ainda que, no seguimento da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, a falta de recursos levou a que alguns países saíssem beneficiados involuntariamente. “Quem tem alternativas para os recursos que podem eventualmente faltar – especialmente a energia e a alimentação – pode ser favorecido”, explicou. Paulo Portas apontou o potencial de África, que, em parceria com a Europa, pode tornar-se numa das maiores fontes energéticas.
Contudo, o antigo vice-primeiro-ministro deixou um alerta: “os países que se fecham, empobrecem”. Paulo Portas receia a divisão da globalização, que significa o alinhamento entre os blocos económicos e os blocos geopolíticos, tal como as consequentes escolhas de estratégias políticas, podendo resultar, para Portugal, na perda de oportunidades.
Metade dos portugueses diminuiu nas poupanças
Durante o congresso, a NielsenIQ partilhou os resultados de um estudo sobre o impacto da inflação nos comportamentos do consumidor. Ana Paula Barbosa, Retailer Services Director da consultora, revelou que os consumidores se sentem, hoje, menos seguros, em especial devido à instabilidade económica. Prova disso está num cabaz completo de compras, que custa agora mais 36 euros por mês face a 2021, o que faz com que os portugueses sejam cada vez mais cautelosos, face à globalidade dos inquiridos (57% vs. 38%).
Como consequência, acrescentou, 31% dos inquiridos afirmou que pretende comprar produtos em promoção, 26% assumiu deixar de comprar algumas categorias e outros 20% optar por produtos de marca própria. Além disto, cinco em cada 10 portugueses diminuíram as suas poupanças, de modo a controlar os gastos na compra de bens de grande consumo.
O consumidor atual vai comparar mais preços entre lojas, fazer mais refeições em casa e esperar por promoções para fazer compras. O preço justo e transparente é muito importante e, para fazer face às dificuldades, os consumidores passarão mais tempo em casa.
No futuro, além da baixa confiança, da cautela e de algumas transferências de consumo, prevê-se que os consumidores continuem a preocupar-se com a vida saudável e equilibrada, com opções alimentares neste sentido e com a sustentabilidade, reduzindo o desperdício.
Para rever todas as sessões da sétima edição do Congresso da GS1 Portugal, por favor, consulte o seguinte link.
