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Metade dos cultivos mundiais em risco devido ao aquecimento global, alerta estudo

África, Ásia e América Central poderão perder até 60% das áreas agrícolas

Foto Shutterstock

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A diversidade agrícola global, um dos pilares da segurança alimentar, está sob ameaça crescente. Um novo estudo internacional, publicado na revista científica Nature Food, revela que até metade dos cultivos agrícolas do mundo poderá deixar de ser viável nas próximas décadas, caso o aquecimento global continue no atual ritmo.

As conclusões são particularmente alarmantes para as regiões tropicais e subtropicais, como a África Subsaariana, o sul da Ásia e a América Central, onde milhões de pessoas dependem de pequenos sistemas agrícolas para a sua subsistência.

O trabalho foi conduzido por investigadores das universidades de Aalto (Finlândia), Göttingen (Alemanha) e Zurique (Suíça) e analisou o impacto das alterações climáticas em 30 culturas agrícolas essenciais, indo muito além dos “quatro grandes” (trigo, milho, arroz e soja). Foram incluídas raízes tropicais, leguminosas, frutas e vegetais, num esforço para representar com maior fidelidade a base alimentar da população global.

 

Cenários

Num cenário de aquecimento de 3 °C, os cientistas estimam que até 48% das zonas de cultivo atuais nas regiões tropicais perderá as condições climáticas consideradas seguras para o crescimento dessas culturas. O conceito de “espaço climático seguro” refere-se ao intervalo de temperatura e precipitação onde cada planta consegue crescer de forma produtiva. O desaparecimento dessas condições representa a perda da funcionalidade agrícola de uma determinada área.

Mesmo no cenário de aquecimento mais moderado, limitado a 2 °C, mais de 50% das terras agrícolas do planeta perderá diversidade de cultivo, ou seja, capacidade de alternância entre diferentes culturas, um aspeto vital para a saúde dos solos, combate a pragas e resiliência do sistema alimentar.

Os impactos não serão uniformes. A África poderá perder até 60% das suas zonas agrícolas viáveis, com picos de até 70% no norte de África e Médio Oriente. Culturas como arroz, coco, inhame ou caupí correm risco elevado, podendo perder mais de 75% da sua área climática favorável caso o aquecimento global ultrapasse os 4 °C.

 

Europa e regiões temperadas não escapam

Paradoxalmente, algumas zonas de latitudes mais altas — como o Canadá, o norte da Europa ou a Ásia Central — poderão experimentar uma expansão temporária da diversidade agrícola, como já acontece, por exemplo, com o crescimento da vinha no Reino Unido ou o aumento da produção de trigo no norte da Escandinávia.

Contudo, os autores do estudo sublinham que esses ganhos pontuais não compensam as perdas nas regiões equatoriais, onde os sistemas agrícolas são menos mecanizados, mais dependentes do clima e fundamentais para a dieta e economia local. Além disso, essas mesmas zonas temperadas enfrentarão novas pressões, como o aumento de pragas e doenças, ondas de calor mais longas e fenómenos climáticos extremos.

 

Diversidade agrícola é o “seguro de vida” da alimentação

A principal conclusão dos investigadores é que a diversidade agrícola — a capacidade de uma região produzir vários tipos de culturas — é o seguro de vida dos sistemas alimentares. A perda dessa diversidade significa menos opções para lidar com pragas, secas ou alterações súbitas nas condições do solo, tornando o sistema mais vulnerável a falhas catastróficas.

O estudo apela à ação imediata em duas frentes: mitigação, através da redução efetiva de emissões, preservação de solos, florestas e zonas húmidas e controlo rigoroso da expansão agrícola desordenada; e adaptação, com transformação profunda dos sistemas agrícolas, incluindo infraestruturas de armazenamento e refrigeração, recuperação de terras degradadas, investimento em sistemas de irrigação eficientes e apoio a pequenos agricultores em países vulneráveis.

Os autores concluem que a ciência já cumpriu o seu papel ao apresentar dados concretos, claros e transversais. Agora, cabe aos governos, empresas e consumidores adotar estratégias coordenadas para garantir um futuro alimentar sustentável.

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Por Carina Rodrigues

Responsável pela redacção da revista e site Grande Consumo.

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