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Um novo relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) alerta para o impacto crescente das alterações climáticas na volatilidade dos preços do café, apontando os fenómenos meteorológicos extremos como uma das principais causas dos desequilíbrios na produção e dos consequentes choques de preços.
O documento surge num momento de preços recorde para os cafés verde arábica e robusta (sem correção pela inflação), num sector altamente exposto a riscos climáticos e logísticos.
Clima extremo e especulação ampliam instabilidade
Segundo a FAO, os choques climáticos recorrentes em países produtores como o Brasil, o Vietname e a Indonésia têm sido responsáveis por quebras significativas de produção, o que alimenta a especulação nos mercados e agrava a instabilidade dos preços.
O relatório sublinha que, embora outros fatores também influenciem os preços, o clima tem assumido um papel central na volatilidade dos últimos anos.
Além do clima, os custos crescentes do transporte marítimo também foram apontados como um fator que tem contribuído para a escalada de preços em ciclos recentes.
Café mais caro nas prateleiras
O relatório inclui uma análise inédita do impacto da volatilidade dos preços no consumidor final. Dados preliminares revelam que, até dezembro de 2024, os preços do café para o consumidor aumentaram 6,6% nos Estados Unidos da América e 3,8% na União Europeia face ao ano anterior.
As simulações da FAO indicam que, na União Europeia, um aumento de 1% no preço internacional do café pode traduzir-se numa subida de 0,24% no preço de venda ao público ao fim de 19 meses, sendo o efeito persistente por pelo menos quatro anos. Nos Estados Unidos, a mesma variação corresponde a um aumento de 0,20% após 13 meses, revertendo ao fim de cerca de dois anos.
Mercado precisa de mais transparência e previsibilidade
A FAO sublinha que, apesar dos picos de preço poderem beneficiar produtores no curto prazo, a volatilidade prejudica gravemente a estabilidade financeira dos cafeicultores a longo prazo, nomeadamente os pequenos produtores que constituem a maioria da cadeia global. “Melhorar a transparência do mercado é fundamental para mitigar os impactos das flutuações de preço e garantir que todos os intervenientes tenham acesso a informação fiável e atualizada”, pode ler-se no relatório.
A organização recomenda a partilha de dados de mercado, incluindo previsões de produção, consumo e comércio a curto e médio prazo, bem como o reforço da cooperação entre países produtores e importadores.
Mais valor na origem e defesa do comércio livre
Como solução estrutural, o relatório defende a promoção de produtos com valor acrescentado produzidos nos países de origem e a eliminação ou redução de tarifas sobre produtos de café processado, como forma de aumentar a resiliência das economias produtoras.
A FAO conclui que só através da cooperação global, mercados mais transparentes e políticas mais equitativas, será possível garantir a estabilidade e sustentabilidade do sector do café, protegendo ao mesmo tempo os meios de subsistência de milhões de pequenos produtores em todo o mundo.