Fundada há precisamente 100 anos e liderada pelo mesmo seio familiar há quatro gerações, a Raul Vieira, Grupo Farmacêutico, com capital 100% português, é uma das farmacêuticas nacionais mais antigas.
Ao longo de um século, viveu e ultrapassou crises das mais diversas origens, mas quis o destino que, na altura em que assinala o seu 100.º aniversário, o país e o mundo estejam a lidar com uma pandemia. A festa ficou sem efeito e o dinheiro que estava reservado para a mesma converteu-se numa doação ao Hospital de Santa Maria, em Lisboa.
Liderada por duas das quatro bisnetas do fundador, e depois de se ter destacado no sector das vacinas, soros de uso humano e veterinário, derivados de plasma e cosmética, a empresa aposta agora exclusivamente na medicina de biorregulação.
Aposta em medicamentos de origem natural
Margarida e Maria de Macedo, bisnetas de Júlio de Macedo, chegaram à liderança em 1999. À época, destacava-se a atividade no sector farmacêutico especializado, nomeadamente na comercialização de vacinas, soros de uso humano e veterinário, derivados de plasma, tendo também sido, na década de 60, representante em Portugal de prestigiados laboratórios internacionais no sector da cosmética.
Na década de 80, o pai das atuais administradoras deu o primeiro passo no interesse da medicina biorreguladora, que acabou por se tornar no grande foco das irmãs a partir do momento em que assumiram o leme do grupo. “Esta forte aposta teve como detonador a experiência pessoal, com resultados muito positivos, no tratamento de uma doença de um familiar”, explica Maria de Macedo. “Em segundo lugar, embora fosse difícil, representava um nicho de mercado ainda pouco explorado e, como terceiro fator, termos conseguido negociar um contrato de representação exclusiva para Portugal de um dos mais importantes laboratórios mundiais neste campo, que nos podia assegurar o apoio científico necessário ao desenvolvimento desta terapêutica médica”, frisa.
Com 25 colaboradores e a representação de vários laboratórios internacionais, o grupo possui cerca de mil pontos de venda no país, tendo como clientes farmácias, parafarmácias, hospitais, clínicas médicas e locais de venda de medicamentos não sujeitos a receita médica. “Tem-se registado um aumento da utilização deste tipo de opção terapêutica, assim como uma aposta significativa de várias empresas do sector na introdução de medicamentos com estas características. Isto a par da cada vez maior literacia em saúde da população portuguesa e do forte interesse por parte da comunidade médica, o que tem contribuído para a procura de opções terapêuticas baseadas em componentes naturais”, refere Maria de Macedo.
Pandemia potencia vendas
A atual pandemia veio, por um lado, colocar um travão na promoção e implementação de novos medicamentos, devido ao confinamento e à inviabilidade do contacto presencial tão característico deste sector de atividade. Por outro lado, fez disparar a venda de alguns segmentos. “Os nossos medicamentos biorreguladores de origem natural, que são adequados à época, por exemplo, para o fortalecimento do sistema imunitário ou estados gripais, registaram um ‘boost’ assinalável nas vendas”, salienta Margarida de Macedo.
O contexto sanitário não impactou apenas no negócio, mas também na forma como a empresa decidiu assinalar os seus 100 anos de existência. Em causa está o facto do investimento que seria alocado à celebração do seu centenário ter sido utilizado para doar, ao Hospital de Santa Maria, em Lisboa, um conjunto de duas mil máscaras cirúrgicas e 250 litros de álcool gel.
Para Margarida de Macedo, a estratégia da empresa não se baseia apenas na aposta numa nova área de negócio como também “na introdução de novos conceitos de gestão e sobretudo na relação com o sistema de saúde e os seus profissionais: um estar na vida e na profissão mais profundo”. O objetivo, salienta, passou por “alterar o equilíbrio das forças, isto é, não nos centrarmos tanto no lucro e nas vendas como um fim em si, mas sim no bem-estar dos pacientes e do sistema. O resto vem por acréscimo”, sublinha.
Investimento intensificado
De olhos postos no futuro, e apesar das incertezas dos cenários micro e macro económicos, estas empresárias, com a resiliência típica de quem dirige uma empresa familiar que já lidou com várias crises em diferentes gerações, não têm dúvidas de que “a procura de uma medicina mais natural e biológica, com soluções mais seguras e menos invasivas” é o caminho.
Nesse sentido, deixam claro que a Raul Vieira, Grupo Farmacêutico, a médio e longo prazo, “vai intensificar o seu investimento nesta área, sempre com as mais avançadas fórmulas e tecnologias”. Na calha estão, a título de exemplo, novos medicamentos que têm a água como veículo condutor de padrões de informação, novas tecnologias terapêuticas de luz, bem como soluções para o restauro da polaridade magnética da terra, bastante útil para o sector da agricultura (plantas medicinais e alimentos).