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Espirituosas: Indústria de Impacto Acrescentado

A indústria das bebidas espirituosas representa hoje para a economia portuguesa um estímulo de qualidade, inovação e diferenciação em toda a sua cadeia de valor, desde o agro-negócio, aos bens e serviços associados ao turismo. Da bebida de autor (cocktail) a produtos de excelência mundial, como a Aguardente da Lourinhã (DOP), Portugal é cada vez mais um destino também apreciado pela arte e saber das suas bebidas espirituosas.

A mundividência e visão criativa de uma nova geração de empresários é o motor deste movimento de inovação e qualificação que tem vindo a maximizar o potencial e impacto desta indústria no nosso país. O aumento das exportações e o crescimento da produção nacional são os dois indicadores que comprovam isso mesmo. Entre 2009 e 2013, anos da grande recessão económica, a produção nacional cresceu a uma taxa de 5% ao ano face a um crescimento de 1% da indústria como um todo. Quanto às exportações, entre 2010 e 2016, registaram um crescimento médio de 2,8%, significando já em 2016 cerca de 50 milhões de euros.

No quadro europeu, as espirituosas representam já a maior exportação de produtos agroalimentares: 10 mil milhões de euros em 2016, com um excedente comercial superior a nove mil milhões de euros, sendo que, em 2019, o mercado europeu de bebidas alcoólicas deverá ascender a um valor de 408 mil milhões de euros, representando um crescimento de 9,6% desde 2014.

Este movimento de crescente competitividade é, no entanto, mais impactante do que aquilo que aparenta, desde logo porque tem na sua base o aproveitamento da cultura e produtos endógenos das regiões do nosso país. Os exemplos são inúmeros e vão desde o Gin do Gerês, que incorpora os botânicos da serra do Gerês, ao Gin Sharish que, “lentamente destilado” em Reguengos de Monsaraz, já exporta para Londres – a terra do gin. Do Gin Tinto de Valença, único no mundo, ao Limontejo – Limoncello do Alentejo, o mote é a qualidade e exclusividade de produtos que engarrafam o melhor de Portugal na sua diversidade.

Em maior detalhe, vejamos o caso da ginjinha, que, antes de chegar à mesa, mobiliza cerca de 113 trabalhadores para a cultura e campanhas do fruto da ginja, em Óbidos e Alcobaça, sendo depois transformada no icónico licor de ginja.

Esta dinâmica significa não apenas um aproveitamento do enorme potencial endógeno, regra geral fixado em territórios de baixa densidade, como o reinventar de uma indústria cada vez mais “made in Portugal” que tira partido do momento atual da economia. Em 2016, a indústria contribuiu com 238 milhões de euros na aquisição de bens e serviços (matéria-prima, vidro, cartão, serviços, etc.) e foi responsável por cerca de 22.000 postos de trabalho. Este é um sector maioritariamente composto por PMEs (80%), que procura afirmar-se cá dentro e lá fora pela qualidade dos seus ingredientes, pela exclusividade dos saberes e pela originalidade dos costumes tradicionais das nossas gentes e regiões.

Somos parte da proposta de valor de Portugal como destino turístico através da valia de produtos destilados das nossas raízes como a ginjinha, a aguardente de medronho ou os nossos inconfundíveis licores. A marca de originalidade e inovação em produtos profundamente alicerçados às raízes históricas das nossas regiões torna este sector numa força de diferenciação positiva dos territórios de baixa densidade e economicamente menos desenvolvidos.

Vale a pena, por isso, reconhecer o valor de impacto acrescentado que hoje este sector agrega à economia nacional.

Rui Pedro Duarte Secretário-geral da ANEBE – Associação Nacional de Empresas de Bebidas Espirituosas

Este artigo foi publicado na edição n.º 48 da Grande Consumo.

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