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De cozinheiros a chefs, da cozinha para a ribalta

Gradualmente, os chefs têm vindo a tornar-se caras cada vez mais conhecidas do público em geral. Gordon Ramsey ou Jamie Oliver tornaram-se estrelas de conhecidos programas televisivos, abrindo portas para que os que eram, até há pouco tempo, “apenas cozinheiros” passassem a ser chefs. Hoje, entre programas de televisão ou rádio, livros ou eventos, os chefs associam-se a cada vez mais marcas e causas, numa relação “win-win” onde as marcas se promovem e os chefs recebem matéria-prima para fazer a sua arte.

Jantar fora e escolher um restaurante era, até algum tempo, feito apenas pelo nome do restaurante, pelo seu ambiente ou localização. Hoje, o cenário é diferente. A cozinha de chef está um pouco por todo o lado, de norte a sul do país, e com ofertas para diversas carteiras.

Internacionalmente, o mediático Gordon Ramsay celebrizou os seus restaurantes através de programas de televisão, como o Masterchef ou o Hell’s Kitchen. Jamie Oliver, que abriu este ano um espaço no Príncipe Real, ganhou maior reconhecimento com programas onde ensina aos comuns mortais a cozinhar pratos dignos de chef, sem gastar muito dinheiro ou ter trabalho para várias horas. Em Portugal, Miguel Rocha Vieira e Rui Paula saltaram para a ribalta aquando da sua participação como jurados do formato português Masterchef. Também o carismático Ljubomir Stanisic, que não tendo nascido em Portugal é cá que exerce a sua paixão há mais de 20 anos, tornou-se uma celebridade graças ao programa de televisão Pesadelo na Cozinha.

Para além do mediatismo, outro fenómeno que tem impulsionado o sector e os seus profissionais é a democratização do acesso a este tipo de cozinha. Conceitos como o Time Out Market, que reúne espaços de Henrique Sá Pessoa ou Marlene Vieira, vieram mostrar que desfrutar de uma refeição de chef, e de toda a experiência que isso envolve, é acessível a todos.

No que às marcas diz respeito, de há uns anos a esta parte, é comum ver chefs associados a determinados produtos alimentares, participando nos seus eventos ou assinando produtos. Mas antes de “ser moda” e de existirem tantos chefs reconhecidos do grande público, já a Makro Portugal tinha despertado para esta tendência. Patrocinadora do Chef Cozinheiro do Ano desde a sua primeira edição, é comum ver a Makro aliada a grandes eventos gastronómicos, promovendo alguns dos melhores profissionais que existem no mercado. Para Sílvia Lopes, diretora de marketing e comunicação da Makro Portugal, é muito satisfatório ver o reconhecimento hoje dado aos chefs. “Penso que é um reconhecimento justo a um sector que requer muita mão de obra, esforço e dedicação da parte deles, portanto, é gratificante ver o reconhecimento de todos eles após todos estes anos. É altamente merecido e gratificante para o sector. Gosto de pensar, de uma forma modesta, que a Makro fez a diferença no mercado. Apostou no sector quando ainda não estava na moda. A estratégia da Makro passa por apoiar a hotelaria e a restauração desde há muitos anos, de uma forma mais vincada desde há quatro ou cinco anos, mas faz desde sempre parte da proposta de valor Makro. E fez uma diferença na valorização da gastronomia, fosse ela portuguesa ou não, uma vez que a Makro conseguiu, desde os primeiros anos em Portugal, trazer para os consumidores portugueses o acesso a determinados produtos que, de uma forma natural, não chegavam à economia portuguesa. Democratizámos o acesso a determinados produtos”, explica.

Desde a sua primeira edição, em 1990, que a Makro patrocina o Chef Cozinheiro do Ano. Já foram vencedores Henrique Sá Pessoa ou Luís Gaspar, num concurso que visa premiar o sector e todos aqueles que são profissionais de cozinha residentes em Portugal, com mais de 25 anos ou mais de cinco anos de experiência profissional comprovada. Se hoje seria relativamente fácil lançar uma iniciativa desta dimensão, há 28 anos, o cenário era outro, mas nem por isso a Makro deixou de embarcar nesta “loucura”. “Foi criada uma dinâmica parecida à que já existia noutros países. Para fazer um evento como este, obviamente, é preciso um patrocinador por detrás, que muitas vezes passa apenas por lhes fornecer os produtos que precisam para fazer as demonstrações e poderem testar os produtos na cozinha. E, portanto, desde a primeira edição que a Makro embarcou nesta loucura boa de dar reconhecimento ao Chef Cozinheiro do Ano e dar visibilidade a um sector no qual, naquela altura, ninguém queria trabalhar ou ninguém queria dizer que é cozinheiro. Desde a primeira edição que apoiamos, seja em produto, valor, disponibilidade de visitar as nossas lojas ou mesmo em jalecas”, acrescenta.

Em paralelo com esta competição, existe ainda outra, o Jovem Talento da Gastronomia. Enquanto a primeira está destinada a profissionais já com experiência, esta última quer atrair jovens para o sector. “Julgo que ambas, obviamente em patamares diferentes de envolvimento e reconhecimento, são igualmente importantes. Trazer a juventude para o sector e dar-lhes a vertente aspiracional é muito bonito e importante”, explica Sílvia Lopes.

Promover Portugal
Internacionalmente, os chefs em Portugal nunca tiveram tanto reconhecimento como hoje. José Avillez foi, este ano, aclamado com o Grand Prix de l’Art de la Cuisine, atribuído pela Academia Internacional da Gastronomia e que galardoa o melhor cozinheiro do ano. Ljubomir Stanisic viu o seu restaurante, 100 Maneiras, ser eleito pela revista britânica Monocle como o melhor restaurante do mundo. A par disto, mas ainda como menos notoriedade do que seria de esperar, existem as equipas da ACPP. Anteriormente designadas como Equipas Olímpicas, as equipas da Associação de Cozinheiros Portugueses de Portugal são, precisamente, uma representação olímpica de Portugal lá fora. “A maior parte das pessoas sabe que temos atletas olímpicos de futebol ou de atletismo, mas de gastronomia não. Nós fazemos questão de trazer visibilidade a estas equipas”.

Fazer com que Portugal seja cada vez mais reconhecido pela sua gastronomia é uma missão que a Makro tem encarado de forma bastante séria. Prova disso aconteceu o ano passado, em Dusseldorf, a propósito do evento Metro Unboxed. Com 25 países diferentes, a Makro Portugal quis precisamente “sair da caixa” e mostrar uma versão mais arrojada de Portugal, fugindo ao tradicional bacalhau ou aos pasteis de nata. “Apostámos em mostrar o conceito Sangue na Guelra. Convidámos 12 chefs e aquilo que era para ser mais um stand acabou por se tornar o protagonista da edição, com o nosso responsável máximo a passar diariamente pelo stand, o que demonstra o sucesso que foi”.

Na última edição do Guia Michelin, que anualmente premeia com a tão desejada estrela os melhores restaurantes do mundo, Portugal teve 23 restaurantes reconhecidos. Alguns desses chefs integram um novo projeto a que o cash & carry se associou. A websérie “A Moda da Cozinha”, que se espera que culmine num documentário a passar nas salas de cinema, vem mostrar o que há para além do chef, do restaurante ou da cozinha. João Rodrigues, Nuno Diniz, Hugo Brito, José Júlio Vintém, Marlene Vieira, António Bóia, Vítor Sobral, Ljubomir Stanisic, Inês Diniz e Justa Nobre são alguns dos convidados da websérie de 15 episódios. “São conversas informais à volta da gastronomia portuguesa. Passa por ver o outro lado da vida dos chefs, a perspetiva deles. Alguns falam mais sobre negócio, outros da evolução da gastronomia portuguesa”.

Futuro
Será então uma moda? Das que são passageiras ou uma moda para durar muitos anos? Enquanto a resposta ainda parece incerta, uma realidade é já a de que a visibilidade da cozinha portuguesa e dos chefs nacionais é uma montra de excelência para as marcas. Para os chefs o benefício é evidente, uma vez que lhes são disponibilizadas as matérias-primas para poderem dar azo à sua imaginação e colocarem tudo o que são num prato. Para as marcas existem duas grandes vantagens. Em primeiro lugar, conseguem promover os seus produtos, dando-lhes visibilidade ao serem utilizados por estes cozinheiros de excelência. Em segundo, e porque um produto alimentar não é uma obra acabada, o feedback dado por estes consegue dar às marcas formas de melhorar o produto, para que este chegue cada vez melhor ao consumidor final. Se for, efetivamente, uma moda, pelo menos a curto prazo é expectável que as marcas continuem a apostar fortemente nestes profissionais, que são cada vez mais e estão cada vez melhores.

Para Sílvia Lopes, não é apenas uma moda e o futuro passará pela aposta constante na reinvenção. “Acredito que acontecerá o mesmo que em outros sectores de atividade, com as competências e a concorrência a serem cada vez maiores. Haverá uma competição maior e a tendência de existirem cada vez mais atores para uma posição de destaque. Considero que eles próprios vão continuar a reinventar-se, isso é muito visível na nossa gastronomia. O chef José Avillez, por exemplo, ao atingir um certo patamar, já está a fazer outras coisas, a apostar na internacionalização. O chef Leonel Pereira, no Algarve, está a inovar no seu laboratório em conjunto com a Universidade do Algarve. O chef Miguel Bértolo, que ganhou o reconhecimento internacional de sushi, continua a desenvolver na Associação de Cozinheiros de Portugal uma série de novas atividades e um novo espaço. Vejo-os muito irrequietos, no bom sentido, querem mais. Para além disso, querendo o mundo, há muito o puxar pelas raízes de Portugal. Penso que a moda de comer bem vai ficar”, remata.

Este artigo foi publicado na edição n.º 51 da Grande Consumo.

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