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Covid-19 intensifica desafios na distribuição urbana de mercadorias

Foto Shutterstock

O surto de Covid-19 e o confinamento dele decorrente vieram pressionar as operações logísticas das empresas, nomeadamente, pelo elevado crescimento do online, que veio intensificar os já muitos desafios existentes na distribuição urbana de mercadorias.

Esta foi uma das questões centrais do debate promovido pela AECOC, a associação espanhola que congrega os interesses dos fabricantes e dos distribuidores, no âmbito do primeiro congresso dedicado ao tema da Smart Distribution.

A este respeito, Víctor del Pozo, COO do Veepee Group, indicou que as vendas online do grupo cresceram entre 75% e 100%, durante as semanas de confinamento, o que obrigou à abordagem de alguns desafios, como a adaptação do sortido a um cliente que estava em casa e a mudança dos processos de entrega para evitar o medo do contágio. O gestor acredita que a crise sanitária veio acelerar em três anos o crescimento previsto do e-commerce, pelo que perspetiva um futuro próximo com “um cliente muito mais digital e que trabalhará muito mais a partir de casa, o que provocará um aumento das entregas ao domicílio”.

Também o diretor de transporte da Mango, Paco Fernández, confirmou este cenário, com a cadeia de moda a ganhar 900 mil utilizadores nas suas plataformas online, durante o confinamento. “Ultrapassámos o plano de negócios a três anos para o e-commerce e vivemos semanas com vendas equivalentes a um Black Friday de forma constante”, o que imprimiu dificuldades nos processos logísticos.

 

Sustentabilidade

Nesse sentido, os participantes no congresso da AECOC coincidem que a Covid-19 veio colocar, ainda mais, a sustentabililidade como um eixo estratégico dos processos logísticos. “Não temos que esquecer a redução de emissões que vivemos durante a Covid, pelo que deveremos procurar maneiras de transportar mais consumindo menos recursos naturais”, sustentou Paco Roselló, responsável de mobilidade da Mercadona.

A estratégia da cadeia de supermercados passa por otimizar a eficiência da carga, hoje superior a 90% por envio, analisar as rotas e renovar as frotas, tanto de camiões como de veículos de última milha. Além disso, uma das preocupações da Mercadona é ser “invisível para os vizinhos”, pelo que aposta em evitar os ruídos e em transportar nos horários de menor afluência.

Nesta visão, a Mango coincide com a Mercadona, ao apostar também nas entregas noturnas. Paralelamente, Paco Fernández reconheceu que estes processos logísticos também permitem à cadeia de moda ser mais eficiente na logística inversa e nas devoluções. “Toda a situação de ida deve ser aplicável à volta. Há sectores em que as taxas de devolução estão acima dos 60%, pelo que ser capaz de aproveitar os processos de entrega para gerir estas devoluções é muito importante”.

 

Maior eficiência

O congresso da AECOC analisou ainda as estratégias que, nos próximos anos, serão implementadas para responder aos grandes desafios identificados na mobilidade urbana de mercadorias, nomeadamente, melhorar a sua eficiência, sobretudo em cidades como Madrid onde já representa 38% do tráfego.De facto, de acordo com os dados do “Informe Aecoc: Hacia un modelo sostenible de Distribución Urbana de Mercancías en España”, apresentado no congresso, a capital espanhola e Barcelona estão no top 10 das metrópoles mais congestionadas da Europa. Calcula-se que os impactos nocivos, como o ambiental, o trânsito e a sinistralidade, e as ineficiências gerem perdas equivalentes a 2% do Produto Interno Bruto (PIB) espanhol.

Perante esta realidade, muitas das cidades participantes no congresso apontaram a criação de centros logísticos urbanos e de pontos de recolha para as encomendas online como uma das chaves para melhorar a mobilidade nos centros urbanos, algo que está já dentro dos planos de Madrid, segundo assegurou o responsável de meio ambiente e mobilidade, Francisco de Borja Caravante. “Os estacionamentos subterrâneos também podem ser hubs de mobilidade e logísticos, que permitam compatibilizar as necessidades de mobilidade com a qualidade do ar”.

Outra das políticas mais repetidas foi a da análise e melhoria das zonas de carga e descarga. “Há cada vez mais lojas com necessidades de carga e descarga de mercadoria muito potentes e isso gera tensões pela ocupação do espaço público em lugares como os centros históricos”, notou José Santiago, diretor geral de mobilidade da cidade de Sevilha.

Com os atuais modelos de mobilidade, o crescimento previsto até 2025 do tráfego de mercadorias nas cidades fará com que os custos social e económico aumentem 30%, de acordo com os dados do estudo. Em 2025, o seu peso sobre o total da circulação no centro de Madrid será de 47%.

Com o objetivo de melhorar os modelos de mobilidade, o estudo propõe o incremento da logística noturna, assim como a flexibilização do acesso à cidade e à descarga, a digitalização e regulação das zonas de carga e descarga, o uso do Big Data, o estabelecimento de corredores multiusos e a criação de plataformas de consolidação para a última milha e de modos de transporte alternativo.

Por Carina Rodrigues

Responsável pela redacção da revista e site Grande Consumo.

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