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“Acreditamos que a população, em geral, vai passar a olhar para estes produtos como sendo de uma maior relevância para a sua saúde”

Em plena pandemia, a procura por produtos biocidas e desinfetantes disparou. Álcool, álcool-gel e afins desapareceram, durante largos dias, das prateleiras dos supermercados e farmácias e, quando os stocks começaram a ser repostos, os preços dispararam. Ao ponto de motivar a intervenção do Governo na sua regulamentação. Foi neste cenário que a AGA – Géneros Alimentares viu as vendas de alguns dos seus produtos mais que duplicar, face ao período homólogo. O abastecimento normal do mercado fez-se pleno desafios, sendo a especulação, por parte de alguns distribuidores, apenas um dos muitos que a empresa portuguesa teve de enfrentar. Aquele que será o “annus horribilis” para muitos negócios poderá ser mesmo o “annus mirabilis” para a AGA. Não tanto pela vertente dos resultados, mas pelo sentido de missão e pela convicção do serviço prestado à comunidade, como nos conta Leonor Carvalho, diretora geral desta empresa dedicada à preparação, enchimento, comercialização e distribuição de álcool, bem como à conceção e desenvolvimento, produção, comercialização e distribuição de produtos desinfetantes.

 

Grande Consumo – O álcool e derivados foi um dos sectores de produtos mais procurados em fase de pandemia. Em termos percentuais, em quanto se traduziu esse aumento da procura?

Leonor Carvalho – A procura de álcool teve um incremento muito significativo, devido à escassez de produto no mercado. Não tendo ainda os números completamente apurados, as nossas vendas de álcool aumentaram duas vezes e meia, considerando período homólogo.

 

GC – Para a AGA, quando foi sentido o pico na procura?

LC – A procura encetou o seu aumento em março e atingiu o pico em maio.

 

GC – Esse aumento da procura representou um desafio, em termos de resposta, para a AGA?

LC – Este aumento da procura representou efetivamente um desafio enorme para a AGA e só com grande esforço de todos os intervenientes no processo, produção, logística, departamento técnico e administrativos, conseguimos dar a melhor resposta ao mercado e à situação de crise que o país atravessou.

AGA desinfetantes

GC – O facto de não haver empresas em Portugal a produzir álcool – apenas distribuidores – dificultou a resposta a essa maior procura?

LC – Existem pequenas unidades em Portugal a produzir, mas não são autossuficientes para o mercado nacional.

No nosso caso, em concreto, não tivemos dificuldade na obtenção da matéria-prima álcool etílico. A nossa maior dificuldade resultou na adequação dos meios de produção para as quantidades solicitadas, num hiato temporal imediato, ou seja, os meios de produção e os recursos humanos têm uma capacidade máxima, que foi ultrapassada, e aí reside o desafio, em ajustá-los permanentemente.

 

GC – Apesar do fabricante de álcool ser espanhol, em Portugal faz-se a transformação em subprodutos, como é o caso do álcool-gel, o embalamento e a distribuição. Tendo em conta todas as dificuldades causadas pela Covid-19, que desafios enfrentaram?

LC – O nosso fornecedor habitual é espanhol, no entanto, França também é um fornecedor habitual de Portugal. O problema residiu em que, devido à pandemia, França optou por canalizar toda a sua produção para o seu mercado, deixando de abastecer Portugal ou abastecendo em quantidades muito reduzidas.

Em sentido contrário, Espanha, apesar de também estar numa situação muito difícil, nunca deixou de fornecer a Portugal e até aumentou as entregas. Mas, perante a procura fora de todas as previsões, foi um grande desafio colmatar as necessidades que imperavam, com carácter imediato.

Acresce o facto de existir mundialmente uma diminuição de matéria-prima para a produção de álcool, desde o último trimestre de 2019.

O álcool-gel é um produto biocida, trata-se de um desinfetante para a pele à base de álcool etílico. Foi um novo produto, desenvolvido na AGA em tempo recorde, e traduziu-se num desafio de alocação de recursos, que levou à concretização de um novo negócio para a AGA.

 

GC – Foi importante a intervenção do Governo para acabar com a especulação nas vendas destes produtos?

LC – Para a AGA, diretamente, não foi importante essa regulamentação. O incremento de preços que fizemos resultou unicamente de aumentos sofridos na aquisição de matérias-primas e materiais de embalagem e fatores de produção. Assim, a aplicabilidade dessa legislação, não produziu qualquer alteração aos nossos preços.

Contudo, tomámos conhecimento que, nesta fase, alguns operadores de distribuição, se aproveitaram a título especulativo dos nossos produtos para praticarem preços completamente despropositados. Aí sim, consideramos que, indiretamente, foi positiva a intervenção do Estado nessa regulamentação.

 

GC – Sentiram que essa mesma especulação, apesar de ser alheia às marcas, poderia ser prejudicial para a sua imagem?

LC – Sim, efetivamente, essa especulação, a que fomos completamente alheios, pode ter tido um efeito negativo para a nossa imagem. Nesse sentido, a AGA emitiu, neste hiato temporal, vários comunicados a explicar aos seus clientes as oscilações de preços de mercado.

Há necessidade de clarificar que os preços tiveram que ser incrementados, por força do aumento de todos os fatores produtivos, por exemplo, dos materiais de embalagem provenientes de Itália ou de Inglaterra, que ou não chegaram ou, pela escassez de produção, duplicaram o seu preço. Esse custo tem que ser passado para o consumidor.

Em face deste cenário especulativo, a AGA decidiu criar um e-mail próprio para os nossos clientes, destinado a eventuais queixas de preços abusivos praticados no mercado relativamente aos nossos produtos, com a finalidade de os analisarmos internamente e, caso fosse necessário, passarmos às autoridades competentes.

 

GC – Para além do álcool, notaram um aumento da procura noutros produtos do vosso portfólio? Quais e de que ordem de grandeza?

LC – Para além do álcool, verificou-se o aumento da procura de todos os produtos da área de desinfeção, nomeadamente álcool em gel e desinfetantes de base alcoólica: agaderme em todas as capacidades, Agasept cutâneo e limpa superfícies, toalhetes à base de álcool.

AGA Toalhetes

GC – Como se encontra atualmente a procura destes produtos? Está mais estabilizada?

LC – Sim, a procura destes produtos, neste momento, está mais estável, até porque demos sinais aos clientes, habituais e novos, que, embora não pudéssemos fornecer as quantidades anormais que estavam a solicitar, manteríamos o normal abastecimento. Pensamos que isso também contribuiu para estabilizar a procura.

A entrada de mais produtos de desinfeção no mercado, uns com qualidade e outros com qualidade duvidosa, deu também um sinal à população de que já não existe escassez no mercado de desinfetantes.

De facto, nos últimos tempos, o mercado foi inundado de produtos como o álcool-gel, em que a preocupação não é apresentar um produto com qualidade, mas, somente, aproveitar uma oportunidade de mercado.

 

GC – Acreditam que estes produtos vão passar a fazer parte, de um modo mais regular, da cesta de compras dos portugueses?

LC – Consideramos que existe uma necessidade imperativa de a população continuar com hábitos de desinfeção por longo período, dado os contínuos perigos de contágio da Covid-19.

Neste contexto, consideramos que a procura de produtos de desinfeção de base alcoólica (SABA) se vai manter de modo regular, como uma necessidade efetiva dos consumidores.

Passado o período mais conturbado, acreditamos que a população, em geral, vai passar a olhar para estes produtos como sendo de uma maior relevância para a sua saúde.

 

GC – Como se organiza a atividade da AGA – Géneros Alimentares? Em que segmentos estão presentes?

LC – A AGA focaliza a sua atividade na preparação, enchimento, comercialização e distribuição de álcool, bem como na conceção e desenvolvimento, produção, comercialização e distribuição de produtos desinfetantes para farmácia, cosmética e higiene corporal e produtos para o lar e bazar.

A AGA conta com um laboratório (SLAB), com atividade em análises físico-química e de microbiologia, que efetua o controlo interno das matérias-primas, materiais e produtos. Disponibiliza a entidades externas serviços de laboratório, no âmbito de ensaios de álcool, bebidas espirituosas, melaços e outros produtos afins.

A AGA opera nos mercados nacional e internacional nos sectores industrial, hospitalar, farmacêutico, alimentar, retalho e grande consumo.

 

GC – Para além da marca AGA, possuem/representam outras marcas?

LC – Sim, além de produzirmos, comercializarmos e distribuirmos a nossa marca AGA, também representamos outras marcas, tais como a marca Panreac (produtos químicos) e Orache (pastilhas desinfetantes).

 

GC – Para além dos vossos próprios produtos, produzem para terceiros?

LC – Sim, também produzimos marcas de distribuição.

 

GC – Como se consegue construir uma marca em categorias tão utilitárias como as que estão presentes?

LC – Consegue-se com muito esforço, empenho e dedicação de todos, para manter os padrões de qualidade que habituamos os nossos clientes e que nos diferenciam no mercado, e desafiando-nos a ter preços competitivos.

 

GC – É um sector onde a inovação é também constante? Por onde se pode mais inovar?

 

LC – A inovação é uma constante e deve ser encarada como uma oportunidade de melhoria contínua. Para que as empresas progridam, têm que se reinventar diariamente, inovando nos produtos e nos processos, para que se possa fazer mais e melhor.

 

GC – O que seria um bom ano de 2020 para a AGA?

LC – Um ano bom para a AGA será aquele em que nos superemos em volume de negócios e em que a nossa marca seja devidamente reconhecida no mercado em que operamos, pela sua qualidade e excelência. Em que os acionistas e os trabalhadores terminem o ano com a convicção de que prestámos um bom serviço à comunidade em geral e que vimos este desafio não só na vertente de resultados, mas também com um sentido de missão para o período que atravessamos.

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