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A Mercadona em Portugal é portuguesa

A sua política é ter sempre preços baixos e isso será também seguido em Portugal onde, desde já, assume que não irá fazer promoções. Quando ainda distam dois anos da abertura das primeiras lojas, afirma o grande respeito pela concorrência, com a qual espera vir a manter um muito bom relacionamento. O tempo logo dirá que influência irá exercer a Mercadona no mercado português. Para já, não há objetivos definidos quanto a quota, número de pontos de venda e futuras áreas de expansão, aspetos que serão o corolário do trabalho desenvolvido. Uma certeza, contudo, existe: em Portugal, a Mercadona será portuguesa. Isto significa oferecer ao cliente português aquilo que ele quer e trabalhar de perto com a indústria e sector primário nacionais para aumentar o volume de compras aos fornecedores portugueses. Em entrevista à Grande Consumo, Elena Aldana, responsável de relações externas Portugal, desvenda alguns dos segredos do sucesso do modelo empresarial daquela que é a líder incontestável da distribuição alimentar em Espanha e que definiu Portugal como o seu primeiro destino internacional.

Grande Consumo – A Mercadona anunciou, no ano passado, o início do seu processo de internacionalização em Portugal. Porquê Portugal e porque se decidiu agora avançar, tendo em conta que este processo de internacionalização já foi, noutras alturas, abordado e não concretizado?

Elena Aldana A Mercadona já está presente em todas as comunidades e províncias de Espanha. Só falta Ceuta e Melhilha para onde irá em 2018. Coberto o território espanhol, considerámos ter chegado o momento para pensar na internacionalização da empresa. E quando pensámos nos países que poderiam fazer parte deste processo, Portugal apresentou-se como a primeira opção. Não só pela proximidade geográfica, mas porque consideramos que oferece muitas oportunidades. Portugal é um país muito interessante e diferente de Espanha. Temos consciência da situação política e económica e da distribuição comercial do país.

GC -Têm outros destinos internacionais em vista, como a sempre falada Itália?

EA – Itália foi um destino estudado há alguns anos, mas que não se chegou a concretizar. Por razões de ordem vária, mas também porque, na época, em 2012, iniciámos o projeto de cadeia agroalimentar sustentável. Trata-se de conhecer todos os componentes da cadeia agroalimentar, desde o sector primário e indústria, passando pelo distribuidor, mas também o cliente, o “chefe”, como internamente o designamos.
Na época, conhecíamos bem a indústria, mas apercebemo-nos, e foi nisto que apostámos tempo e recursos, que se queríamos ter uma cadeia agroalimentar sustentável precisávamos incluir também o sector primário. Até porque se queremos ter produtos frescos de qualidade, apostando na sustentabilidade da cadeia, onde todos os elos ganhem dinheiro, temos de colaborar com aquele sector.
Este projeto começou a ser desenvolvido em 2012, quando adiámos os planos de internacionalização, e continua a ser trabalhado. Temos protocolos de colaboração com vários agricultores e pescadores. Este é um trabalho que queremos fazer também em Portugal.

GC – Foi anunciado um investimento de 25 milhões de euros para a abertura de quatro lojas em Portugal em 2019. É esse o prazo efetivo de entrada no mercado português ou confirmam-se os rumores da antecipação dessa entrada?

EA – Ainda trabalhamos com a data oficial de 2019. Não escondemos que se a conseguíssemos antecipar seria ótimo, mas mantemos o horizonte de 2019. Até porque foi só nos últimos meses que assinámos os contratos das primeiras lojas.
Estamos ainda numa fase muito inicial para nos podermos comprometer com outra data. Temos que passar por todo o processo de apresentação de projetos, licenciamento e construção, que é moroso.

GC – Já foram anunciadas duas localizações, Vila Nova de Gaia e Matosinhos. Para quando o anúncio das outras duas? Quais as zonas a que estão atentos e que consideram interessantes?

EA – Estamos a estudar todo o Grande Porto, que inclui Porto, Matosinhos, Vila Nova de Gaia, Maia, Valongo e Gondomar. Podemos confirmar que as quatro primeiras lojas serão em Vila Nova de Gaia, com dois pontos de venda, Matosinhos e Gondomar.

GC – Como serão as lojas Mercadona em Portugal? Será aqui replicado o novo modelo de loja eficiente que está a ser implementado em Espanha? O que distingue esse modelo?

EA – A Mercadona tem apenas um único modelo de loja, que é o supermercado de proximidade, a chamada loja de bairro. São tipicamente espaços de 1.800 metros quadrados de área de venda, onde estão todos os nossos negócios: alimentação, bebidas, cuidados pessoais, perfumaria, cuidado do lar e cuidado dos animais de estimação. Esses são os negócios que também vamos trazer para Portugal e não estamos a estudar outras opções, como a parafarmácia, que são oferecidas pelos retalhistas portugueses.
As lojas assentarão, efetivamente, no novo modelo de loja eco eficiente, que até ser cá implementado continuará a ser melhorado. Inicialmente, as lojas da Mercadona tinham 1.500 metros quadrados de área de venda. Hoje, são mais amplas, não para incluir mais produtos, mas para serem mais confortáveis para o “chefe”. Também mudámos os móveis de refrigeração e calor e, com isso, conseguimos uma poupança energética de 40%, assim como toda a iluminação para LED. São, no fundo, lojas mais modernas, confortáveis e eco eficientes.

GC – O Centro de Coinovação em Matosinhos é anunciado como visando adaptar a oferta às preferências do consumidor português. A oferta de produtos portugueses será maioritária nas prateleiras da Mercadona? Como será o sortido das lojas e de modo será distinto do atualmente oferecido em Espanha? Os frescos serão uma pedra basilar da oferta?

EA – Sem dúvida que os frescos serão basilares. E, para assegurar a qualidade, temos esse projeto da cadeia agroalimentar sustentável que já referi. Temos fornecedores que são verdadeiros especialistas nas suas áreas. No passado, tínhamos fornecedores por categoria de produto, pelo que o nosso fornecedor de atacadores, por exemplo, era também o de produtos para limpeza do calçado. Isso mudou. Temos especialistas de cada produto, para reforçar a qualidade do que vendemos. O que nos frescos é ainda mais preponderante.
Em termos de sortido, não vamos ter em Portugal o mesmo que em Espanha. Por exemplo, em Espanha, consumimos tomate frito; em Portugal, é a polpa de tomate. Parece algo muito simples, mas, na verdade, faz toda a diferença. Se colocar nas prateleiras tomate frito, a pensar que o consumidor português o vai comprar como o consumidor espanhol, vou ficar com o tomate frito por vender. Outro exemplo que posso dar são os sabores tropicais, aos quais o consumidor português está muito habituado, e que consome nos iogurtes. Em Espanha, os sabores são mais conservadores: morango, limão, banana.
Os consumidores portugueses experimentam mais os novos produtos e isso é algo de muito positivo. O retalho tem que estar sempre a pensar no que o consumidor quer e a antecipar as tendências. É isso que fazemos no nosso modelo de coinovação. Estamos sempre a perguntar ao “chefe” quais são as suas necessidades para irmos a montante da cadeia agroalimentar, à indústria e ao sector primário, procurar as soluções mais adequadas.
Em Portugal, nos frescos, vamos apostar claramente nos produtos locais, para ganharmos em qualidade e frescura. Estamos na fase de estudo da gama, que será, sem sombra de dúvidas, adaptada ao consumidor português.

GC – Foi muito mediatizado o facto de a entrada no mercado português ser feita pelo Grande Porto. Essa opção foi meramente circunstancial ou enquadra-se numa estratégia mais alargada, que envolverá, por exemplo, a penetração que a Mercadona está a fazer no mercado galego?

EA Quando localizamos as primeiras lojas, olhamos sempre para zonas com uma grande área de influência. Em Portugal, as áreas mais importantes são Lisboa, Porto e Braga. Poderíamos, de facto, ter iniciado a nossa expansão por Lisboa, mas, dada a proximidade do Grande Porto com a fronteira, designadamente com a Galiza e Castela, considerámos que poderíamos beneficiar ao iniciar a nossa operação aqui, uma vez que traríamos os produtos da nossa plataforma logística em Leão, até que possamos construir uma em Portugal. Assim como na contratação dos primeiros colaboradores, que poderiam vir da Galiza.
Ainda estamos numa fase de contratação. Lançámos vagas para 120 cargos de direção intermédia e mais 30 de analistas de frescos. Já foram contratadas 80 pessoas, que estão a ser incorporadas na empresa e a fazer a formação em Espanha. Esta formação abrange 18 meses, onde os colaboradores passam, no mínimo, por três semanas nas lojas, a estudar o modelo da empresa e por todos os departamentos, de modo a que, quando regressem a Portugal, possam implementar todos esses conhecimentos.
Durante esses 18 meses, a empresa paga todas as despesas, desde as deslocações, refeições, alojamento, transportes, etc. Isso representa um investimento médio de 50 mil euros por colaborador. Terminada a formação, esses colaboradores regressam ao seu posto de trabalho. Alguns ficarão nos escritórios no Porto, outros integrarão os escritórios que vamos abrir em Lisboa.

GC – Depois do Grande Porto, é ambição da Mercadona expandir-se a nível nacional? Têm algum plano de expansão definido?

EA – Por enquanto, estamos ainda a desenvolver o Grande Porto. O processo lógico seria continuar a expansão nas regiões próximas, como Braga ou Aveiro. Não podemos saltar do Grande Porto para o Algarve, até porque não temos ainda uma estrutura logística que o suporte. Vamos abrir escritórios em Lisboa porque é a capital do país. As lojas, a acontecer, chegarão mais tarde.

Leia a restante entrevista na edição 44 da Grande Consumo, já disponível online e a chegar, em breve até si, na sua versão impressa.

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