in

“A cerveja tem vindo a ser tratada de uma forma muito banal e corriqueira”

No primeiro ano completo de atividade, estimam poder vender cerca de 500 mil litros de cerveja. A partir daí, o crescimento será feito de forma orgânica e consolidada. Falamos da Nortada, a nova cerveja regional produzida em pleno coração do Porto, que pretende homenagear a região Norte do país. A materialização de um sonho de Tiago Talone e Pedro Mota, que ousaram desafiar a hegemonia das duas empresas que detêm 90% de quota em Portugal e que, acreditam, deixou de fazer sentido, com os consumidores portugueses a aproximarem-se a outros mercados de cultura cervejeira mais elevada. Apostando na proximidade, a Nortada quer aproveitar esta oportunidade e promover a cultura cervejeira nacional, com um produto que, defendem, é genuinamente melhor.

Grande Consumo – Como surgiu a ideia de erguer uma fábrica de cerveja em plena Baixa do Porto?
Tiago Talone –
É difícil dizer com precisão. Com o passar do tempo, deixamos de ver com clareza o rasto dos primeiros passos. No caso da Fábrica de Cervejas Portuense, foi quase há cinco anos que tomámos a iniciativa de estudar a viabilidade do lançamento de uma nova fábrica de cervejas em Portugal. Ambos com experiência e ativos no sector cervejeiro (eu nas áreas de marketing e vendas e o Pedro na área de produção), concluímos que, em Portugal, a hegemonia de duas empresas que, em conjunto, têm uma quota superior a 90% de mercado há muito deixou de fazer sentido existir. E isso justificava-se pela evolução do sector nos últimos 10 anos e, também, pela maior aproximação dos consumidores a outros mercados com cultura cervejeira mais acentuada.

GC – Como foi todo esse processo: quanto tempo demorou, quais os principais desafios, quanto foi o investimento total?
Pedro Mota –
Resumindo em três palavras: duro, impossível e sufocante. Começando pelo fim da questão, não há um investimento total, mas um investimento inicial que foi de três milhões de euros. A partir daí, trata-se de uma empresa em andamento que, tal como qualquer outra, terá que constantemente fazer novos investimentos, com base em novos projetos e novas oportunidades.
Na fase de lançamento, o principal desafio foi sempre a gestão de tempo e expectativas. As ideias demoram o seu tempo a assentar, há toda uma inércia a ter que se respeitar, e há todo um mercado dinâmico que é o primeiro a não o fazer, e isso causa um enorme stress.
Em quase cinco anos, o projeto passou por diversas fases. A primeira, a de preparação de todo o “business plan”, foi a fase mais divertida. Afinal de contas, sonhar não custa… Seguiu-se, depois, a fase de planeamento e preparação. Foi preciso definir um “target” investidor e encontrar um modelo que definisse as obrigações e os benefícios de parte a parte (promotores e investidores). No caso da Fábrica de Cervejas Portuense, optou-se por definir um “target” de investidores que, de alguma forma, estivessem intimamente próximos dos promotores e do projeto. Assim, definiu-se que seriam abordados os familiares, os amigos e os empresários do Norte.
A terceira fase iniciou-se quando foi obtido o compromisso dos investidores. Tal compromisso dependia ainda da garantia da viabilidade do projeto que, por sua vez, dependia da procura e negociação de um edifício no centro do Porto, com especificidades muito detalhadas, e da aprovação de um pedido de informação prévia por parte da autarquia. Aqui, a Fábrica de Cervejas Portuense terá encontrado o seu maior desafio. Saber que tudo estaria assim tão próximo, mas ainda preso por detalhes. Por fim, deu-se a fase do arranque. Foi necessário um ano de obras e a articulação entre mais de 20 fornecedores de equipamentos para garantir a melhor fábrica de cervejas em Portugal.

GC – Que oportunidade detetaram na indústria cervejeira nacional e que os motivou a abraçar este projeto?
TT –
Portugal é o único país da Europa, e um dos poucos em todo mundo, onde se assiste a um duopólio cervejeiro. Nos países onde a cultura cervejeira está mais enraizada, o sector divide-se sempre em três destintos segmentos: no topo as cervejeiras industriais, na base as micro cervejeiras e, entre estas, as cervejeiras regionais.
As empresas que operam em cada um destes segmentos têm um importante contributo para o desenvolvimento do sector. As industriais são aquelas que conseguem chegar a todos os pontos de venda, a todos os consumidores e em todos os momentos de consumo. As cervejeiras regionais têm uma ligação muito forte com a sua região. Trabalham em proximidade, de uma forma muito direta com os pontos de venda e os consumidores. E as micro cervejeiras complementam esse trabalho.
São as cervejeiras regionais o motor da promoção da cultura cervejeira. Não é por acaso que, em Portugal, a cultura cervejeira estará tão pouco enraizada. Isso deve-se à falta de “players” neste segmento do sector cervejeiro. Por outro lado, a competição agressiva entre as cervejeiras industriais, na ausência de outro tipo de “players”, dita que o mercado tenha sofrido muito ao longo dos últimos 10 anos. A cerveja tem vindo a ser tratada de uma forma muito banal e corriqueira.
Essa é a oportunidade para a Fábrica de Cervejas Portuense e para a marca Nortada: poder promover a cultura cervejeira, desenvolver novos tipos de cerveja e chegar com proximidade às pessoas, devolvendo-lhe uma marca que lhes pertence e entregando-lhes um produto genuinamente melhor.

GC – Porquê o nome de Nortada para esta nova marca de cerveja?
PM –
O nome Nortada é inspirado na frescura dos ventos do Norte. É isso que pretendemos ao beber uma boa cerveja: que seja suave e fresca até à última gota. É, também, um símbolo do Norte este vento que predomina em toda a costa nacional e remete-nos para a praia, o verão, o calor, a festa, ou seja, momentos preferenciais para o consumo de cerveja.
Por outro lado, foneticamente, a palavra Nortada tem a particularidade de ser de fácil compreensão e, de certa forma, ser verdadeiramente internacional.

GC – Assumem um posicionamento regional, entre as chamadas cervejas “mainstream” e as artesanais. Que posicionamento de preço vai ter a Nortada?
TT –
Quando estamos perante um linear de cervejas na grande distribuição, encontramos as cervejas “mainstream”, com um preço por litro de 2,30 euros, e as cervejas artesanais, com um preço médio por litro de 9 euros. Infelizmente, as cervejas “mainstream” têm frequentemente um pack em promoção que, na nossa opinião, desprestigia o sector cervejeiro e não dignifica o trabalho de todos aqueles que diariamente dão o seu contributo pelas marcas e pelo sector. Por outro lado, as cervejas artesanais posicionam-se a um preço demasiado alto e pouco apelativo para o consumidor, o que se justifica pela escala do seu negócio e pelas limitações na produção.
Na proposta de valor da marca Nortada procuramos entregar a cada consumidor uma cerveja com melhor qualidade, que respeita as tradicionais receitas cervejeiras, feita a partir de uma base 100% malte de cevada e por mestres cervejeiros experientes. Mas procuramos, também, entregar um produto distinto e a um preço competitivo. Nesse sentido, aproximamo-nos mais às cervejas “mainstream”, com um preço por litro que começa nos 3 euros (Nortada Porto Lager) e que aumenta proporcionalmente à complexidade das restantes cervejas.

GC – Esta vai ser sempre uma cerveja apenas da região Norte? Não contemplam levá-la a outras regiões do país, mesmo que com uma distribuição muito selecionada?
PM –
Essa é a história do sector cervejeiro à escala internacional. Qualquer marca começa por ser uma marca local/regional. Vai, depois, alargando o seu território pelo seu país de origem e algumas, com o tempo, atingem um patamar internacional.
Há uma série de benefícios nos produtos e na marca que só conseguimos entregar a uma escala regional. Essa é a missão da marca Nortada: dedicar-se à região Norte do país. Mas a palavra “sempre” é bastante duradoura.
Curioso é que, desde o lançamento da marca, têm sido várias as solicitações de diferentes zonas do país. Há que não esquecer que os cidadãos do Norte estão espalhados um pouco por Portugal e, até, por esse mundo fora. Nesse sentido, vamos provavelmente ter que estudar soluções e acordos de distribuição muito mais rapidamente do que o que pensávamos.

GC – A Nortada está para já disponível em 100 pontos de venda do canal Horeca. Como foram selecionados?
TT –
Na verdade, esses foram os pontos de venda onde a marca Nortada se iniciou na data de lançamento (7 de abril). Para isso, foi feito um excelente trabalho de toda a equipa da Fábrica de Cervejas Portuense e, em particular, da equipa comercial que, de uma forma discreta e informal, foi apresentando em primeira mão a marca aos clientes. Entretanto, já mais do que duplicámos a presença da marca pelos pontos de venda do Grande Porto.
Quanto à seleção, na verdade, selecionámos as áreas de consumo, as áreas de exposição e as áreas de contacto com o nosso público-alvo. A partir daí, demos início à apresentação da marca a cada ponto de venda. Não foi a Fábrica de Cervejas Portuense que selecionou os pontos de venda, mas foram os mesmos que nos selecionaram, que subscreveram o nosso projeto e que apostaram na marca Nortada.

GC – Vão alargar esse número de espaços?
PM –
Naturalmente que sim. Temos, em Sá da Bandeira, a capacidade para produzir dois milhões de litros. Queremos estar próximos dos consumidores e, para isso, é preciso que cada Nortada esteja sempre à distância de um pedido.

GC – A entrada no canal alimentar está de todo descartada?
TT –
Evidentemente que não. O consumo em casa representa cerca de 50% do consumo cervejeiro. Temos a obrigação de saber chegar a casa dos consumidores. Para isso, propomo-nos a desenvolver uma plataforma online, a partir da qual os consumidores possam encomendar as nossas cervejas, um projeto que brevemente será apresentado. Mas também estamos motivados em poder ver disponível a cerveja Nortada nas grandes superfícies. No entanto, para isso, temos que conseguir defender o interesse de todos os intervenientes: os nossos, os dos parceiros e, sobretudo, o dos consumidores.

GC – Quem quiser consumir Nortada no conforto do seu lar como o pode fazer?
PM –
Se, por um lado, o nosso foco é o canal on trade (Horeca), por outro, também nos preocupamos em poder garantir a resposta a esta questão. Nesta fase inicial, temos pontualmente feito vendas diretas a todos aqueles que nos contactam com o objetivo de poderem consumir Nortada no conforto do seu lar. Brevemente, poremos à disposição dos consumidores uma plataforma online, a partir da qual poderão encomendar Nortada. E, quem sabe, num futuro próximo, os consumidores poderão, então, adquirir a sua Nortada em algumas insígnias do canal alimentar.

GC – De que modo a Nortada é uma proposta distinta?
TT –
A proposta de Nortada é distinta em qualidade por ser a única marca em Portugal capaz de garantir a conjugação de três fatores: qualidade das matérias-primas/formulação das receitas, equipamentos especializados para a produção de cerveja e mestres cervejeiros experientes.
É, também, distinta na sua intenção de promover a cultura cervejeira. Para isso, conta com uma fábrica com a capacidade indicada para poder dedicar-se à produção de pequenas quantidades, que possibilita o trabalho em variedade e o constante lançamento de novos produtos. Iniciámos com cinco estilos de cerveja, mas brevemente teremos novidades para apresentar.
Outro fator que também distingue a marca de cerveja Nortada é o seu carácter regional. Tem uma alma portuense. É feita de pessoas para pessoas. O Norte não é uma região, é uma atitude. Ser do Norte é rir com vontade, ser acolhedor, mas senhor de si. É gostar dos nossos de forma desmedida e dizer a verdade olhos nos olhos. Aqui, no Norte, a que chamamos casa, somos maiores que um nome e que uma região. Somos o uníssono de uma pronúncia que nos distingue e enaltece e temos um orgulho imenso nela e em tudo o que é nosso. Cheios de garra, vamos sempre à luta. Damos sempre o melhor de nós. E, a cada conquista, celebramos de copo cheio. É exatamente por isso que assinamos a marca Nortada com a expressão “Genuinamente Melhor!”.

GC – Foram lançados cinco estilos de cerveja Nortada. O que os caracteriza?
PM –
A Porto Lager (Nortada) é feita à nossa imagem, genuína e com carácter. É uma lager como tem que ser: 100% malte. A pureza e qualidade da nossa receita reflete-se num dourado perfeito, numa espuma densa e consistente e em agradáveis notas de fim de boca. É o equilíbrio perfeito entre complexo e simples, que demonstra toda a elegância e qualidade das matérias-primas utilizadas. Sempre refrescante, é ideal para qualquer momento de consumo.
De cor vibrante, a Vienna Lager (Nortada Bonfim) é tão bonita quanto saborosa. O malte Vienna confere a esta cerveja uma tonalidade cobre e um aroma e sabor distinto, com notas subtis de malte tostado. De corpo médio e amargor ligeiro, é a perfeita combinação de cor e sabor.
A Brown Porter (Nortada Miragaia) é cremosa e aveludada e seduz ao primeiro encontro. De uma profunda cor castanha e espuma densa de cor bege, é uma cerveja de aroma e amargor suave, com notas subtis de caramelo. Extremamente equilibrada, é a medida certa de corpo e sabor.
A India Pale Ale (Nortada Massarelos) é uma cerveja ousada que desafia os sentidos com toda a riqueza e complexidade dos lúpulos. Com uma quente cor dourada e uma espuma densa, é extremamente aromática com notas de frutos tropicais. Bastante lupulada, destaca-se pelo seu sabor intenso e amargor acentuado.
Forte e majestosa, a Imperial Stout (Nortada Campanhã) é a rainha das stouts. A sua impenetrável cor escura é coroada por uma cremosa espuma de cor bege. Uma cerveja encorpada, com um intenso aroma e sabor a malte torrado, de onde se destacam elegantes notas de café e chocolate preto.

GC – Já assumiram que poderão lançar regularmente outros estilos, sazonais ou permanentes. Como vão surgir estes novos estilos? De onde vem a inspiração para criar esta cerveja?
TT –
Como empresa que se propõe dedicar à promoção da cultura cervejeira, naturalmente, que teremos que lançar regularmente outros estilos de cerveja. Nesse aspeto, na nossa fábrica, o restaurante e loja funcionarão como um laboratório de experiências, onde os consumidores poderão encontrar outras cervejas lançadas em registos sazonais ou pontuais. Com o tempo, iremos perceber como é que os consumidores reagem a cada estilo de cerveja e sempre que algum estilo revele um consumo interessante, então, nessa altura equacionaremos a permanência do mesmo no portfólio da marca e alargaremos a sua distribuição a outros pontos de venda.
A inspiração vem naturalmente da experiência de todos os colaboradores da empresa. A começar por mim e pelo Pedro, que no desenvolvimento do plano de negócio provámos e avaliámos mais de 500 cervejas provenientes de todo mundo. Na Fábrica de Cervejas Portuense está a ser criado um painel de provadores, uma equipa que tem como missão fazer análises sensoriais e avaliações às nossas cervejas espalhadas pelo mercado. Mas que também terá como missão procurar constantemente novos desafios e produtos a fazer. É nisso que o sector cervejeiro se torna muito interessante: com diferentes tipos de malte e diferentes tipos de lúpulo e levedura, conseguimos desenvolver um elevado número de estilos de cerveja. Então, se a estes ingredientes adicionarmos outros e explorarmos um mundo de fusões, esse número torna-se infinito.

GC – As cervejas de cariz mais artesanal estão a atravessar um bom momento em Portugal, com mais de 250 novas marcas. É uma tendência para se manter e intensificar?
PM –
Quando iniciámos o estudo de viabilidade deste projeto, existiam, na altura, cerca de cinco marcas de cerveja artesanal. Hoje, existem mais de 250 marcas no mercado, o que é de saudar. O consumidor português precisava de ter à sua disposição outras soluções para além das apresentadas pelos “players” industriais. Finalmente, em Portugal, estão reunidas as condições para o aparecimento de novas marcas. Tal facto justifica-se pela degradação do sector (fruto da competição entre as empresas industriais), mas também por um maior contacto do consumidor com outras realidades internacionais.
Acreditamos que novos projetos estarão ainda por aparecer. Esta tendência será, seguramente, para se intensificar. Essa foi a realidade noutros mercados que, há anos atrás, estavam onde Portugal agora está. No entanto, também será expectável que algumas destas marcas que hoje se apresentam no mercado fiquem pelo caminho.
Na Fábrica de Cervejas Portuense tivemos a perseverança e, até, a teimosia em querer fazer como tem que ser. Demos passos lentos, mas sólidos, demorámos mais tempo que outros, mas temos agora um projeto sólido e capaz de dar uma boa resposta às necessidades do mercado.

GC – Em muitos outros países, são os produtores regionais que dominam o mercado da cerveja. Isso poderia acontecer em Portugal? Porquê?
TT –
Há quatro grandes grupos cervejeiros internacionais (brevemente poderão vir a ser só três), dois dos quais estão representados em Portugal, um a 100% e outro detém uma participação minoritária noutro “player” industrial. Esses grandes grupos industriais são os responsáveis pela venda de pouco mais de metade da cerveja em todo o mundo. Isso significa que há muito consumo de cervejas regionais e artesanais, um pouco por todo mundo. Efetivamente, em países como a Alemanha, por exemplo, as cervejeiras regionais como um todo têm cerca de 54% de quota de mercado em volume. Tudo é possível, obviamente. Mas, naturalmente, que demorará o seu tempo.

GC – Como se pode incrementar ainda mais a cultura da cerveja em Portugal, como acontece, por exemplo, na Bélgica e na Alemanha?
PM –
Começando pelo aparecimento de mais projetos regionais. Mais uma vez, são estes que, trabalhando em proximidade, terão a capacidade para explicar aos consumidores as diferenças entre cada estilo de cerveja e, com isso, a capacidade para a promoção da cultura cervejeira.
Para além disso, será necessário desenvolver um importante trabalho em parceria com os pontos de venda do canal Horeca. Estes terão que ter disponibilidade para alargar a sua gama de oferta cervejeira, trabalhando com cartas de cervejas e entregando ao consumidor a decisão de optar pela cerveja que melhor se adequa ao seu gosto.
Por último, se quisermos olhar ao exemplo de outras realidades europeias, deverão ser criados incentivos/benefícios fiscais que promovam o crescimento/desenvolvimento de novas empresas. Julgamos que isso não se aplica apenas ao sector cervejeiro, mas a outros também. É impressionante a carga de impostos que são cobrados e que asfixiam qualquer projeto de empreendedorismo.

GC – Indicam que utilizam as melhores matérias-primas no fabrico de Nortada. De onde são provenientes? O cariz regional desta cerveja também se materializa em aspetos como os fornecedores de matéria-prima, materiais de embalagem, etc?
TT
Esse seria o nosso desejo, mas infelizmente tal não é possível. Portugal é deficiente na produção das matérias-primas necessárias à produção de cerveja, quer em quantidade, como também em qualidade. Para podermos garantir a seleção das melhores matérias-primas, temos que socorrermo-nos a mercados internacionais. O malte, por exemplo, é proveniente da Alemanha.
Quanto aos materiais de embalagem, o cenário é distinto. Há vários fornecedores qualificados em Portugal e que nos dão as garantias necessárias para a qualidade dos nossos produtos. Estes fornecedores são prioritários nas nossas opções.
Infelizmente, no entanto, há alguns fornecedores em Portugal que ainda não estão preparados para trabalhar com parceiros regionais ou artesanais. Mas, a seu tempo, o movimento cervejeiro a que se assiste agora em Portugal fará com que as empresas despertem para esta realidade.

GC – Porque não apostaram no tradicional barril em termos de formato?
PM –
O importante é trabalharmos o formato de cerveja à pressão e, para isso, há diversos equipamentos, cada um com as suas vantagens e desvantagens. Na nossa opinião, o tradicional barril levanta vários problemas de qualidade que não se adequam à nossa missão de devolver aos consumidores uma marca de qualidade superior.
Apostaremos num conceito de “beer tank”, algo que não é novo em Portugal, mas que tem sido em exclusivo para as casas de grande consumo. A única desvantagem destes equipamentos prende-se com a necessidade de um consumo anual de 10 mil litros. Ou seja, não vamos conseguir chegar a todos os clientes de cerveja à pressão. Mas vamos garantir sempre a qualidade da cerveja e a reputação da marca Nortada. Com estes equipamentos, a cerveja sai a quatro graus da fábrica, circula num camião refrigerado e é armazenada nos pontos de venda em tanques também refrigerados. Para além disso, este tipo de equipamentos dispensa o uso de CO2 para a extração da cerveja, pelo que torna mais fácil a garantia de higienização das tubagens no ponto de venda.

GC – Como vai ser o plano de comunicação e ativação da marca?
TT –
O facto de estarmos focados na região Norte do país traz vantagens na forma como pretendemos comunicar. É diferente querer passar uma mensagem para os quatros cantos do mundo ou querer comunicar com aqueles que nos são próximos. Por algum motivo, quisemos estar no coração do Porto. Em Sá da Bandeira teremos brevemente uma porta aberta para receber os consumidores. É nesse espaço que as pessoas poderão estar em contacto connosco, observar todo o processo de produção e partilhar experiências com a nossa equipa.
A aposta nas redes sociais será, sem dúvida, acentuada. Uma marca que se pretende jovem e alegre tem que saber estar e participar nas redes sociais.
Para além disso, e prevalecendo a tal proximidade que distingue a nossa cerveja, teremos que saber ativar a marca pelo terreno, em conjunto com os nossos parceiros de negócio, numa estratégia diferente da tradicional abordagem de patrocínio massificado.

GC – O facto de Portugal estar na moda em termos de turismo, e o Porto de um modo muito particular, pode ajudar a venda de cerveja?
PM –
Sem dúvida que sim. Assistimos a isso diariamente. Tanto no centro do Porto como no cais de Gaia, a marca Nortada está bem representada em casas visitadas por turistas e estes têm vindo a experimentar a nossa cerveja e a avaliar positivamente a nossa marca.
Não foi por acaso que escolhemos, no centro do Porto, a Rua de Sá da Bandeira. Na nossa opinião, é uma das ruas mais interessantes da cidade e é onde se concentram grande parte dos turistas. Contamos, efetivamente, poder receber em nossa casa pessoas oriundas de todo mundo e podermos contribuir para o espírito hospitaleiro que tanto caracteriza as pessoas do Norte.

Esta entrevista foi publicada na edição 45 da Grande Consumo.

GoldNutrition lança coleção de suplementos para mulheres

Orivárzea aposta em gama Bom Sucesso Pronto!