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77% dos estudantes portugueses está preocupado com o futuro do planeta e com a sustentabilidade, revela o último estudo da Too Good To Go e do ISIC (International Student Identity Card).
O combate ao desperdício alimentar é identificado pelos jovens como uma questão decisiva, já que dois em cada três consideram fundamental enfrentar este desafio.
Quando os alimentos são deitados fora, todos os recursos naturais utilizados para os produzir são desperdiçados. 24% da água utilizada para produzir alimentos é desperdiçada, enquanto 30% das terras cultivadas é ocupado por produtos que nunca serão consumidos. Além disso, este problema é responsável por cerca de 10% de todas as emissões globais de gases com efeito de estufa.
Impacto da inflação
Para além das preocupações ambientais, a crescente sensibilização para o desperdício alimentar tem sido impulsionada pelo aumento dos preços dos alimentos. De acordo com os dados do estudo, a inflação teve um impacto significativo nos orçamentos dos estudantes, com 76% a afirmar não ter dinheiro para comer bem no final do mês.
Desta forma, os jovens estão a procurar alternativas para cobrir as suas necessidades básicas. Assim, 94% afirma ter alterado os seus hábitos de consumo alimentar e, destes, 20% considera estar mais atento para evitar o desperdício alimentar.
Tal demonstra que as gerações mais jovens reconhecem a necessidade de adotar uma abordagem mais responsável para preservar o ambiente e também para poupar dinheiro. Embora mais de 50% dos respondentes afirme desperdiçar sempre uma parte da comida que adquire, também indica que se trata de uma quantidade pequena – menos de 5% dos alimentos.
Esta preocupação para cuidar tanto do ambiente como das finanças pessoais é reforçada por certos hábitos de compra. Assim, 28% dos estudantes diz preparar uma lista de compras, enquanto 23% estabelece um orçamento máximo que não ultrapassa e 22% planeia as suas refeições.
Administração pública em destaque
O estudo também reflete a perceção que os jovens têm das ações dos intervenientes na cadeia alimentar ou das administrações públicas. 59% dos estudantes acredita que a Europa pode resolver o problema das alterações climáticas e 57% considera que tal só será possível através de legislação e medidas ambiciosas.
Quanto às ações dos governos e das administrações públicas no domínio do desperdício alimentar, 62% considera que não estão a fazer a sua parte e que é necessária mais ação e empenho. O mesmo não acontece quando a pergunta recai na perceção que têm das empresas do sector alimentar, pois mais de metade dos respondentes considera que as mesmas estão a fazer esforços, embora ainda haja muito a fazer.
Os estudos da Too Good To Go têm indicado que os cidadãos sentem que não dispõem de uma estratégia sólida para prevenir e reduzir o desperdício. Nesse sentido, algumas causas do desperdício alimentar poderiam ser evitadas através de maior acesso a informação decisiva para combater este flagelo: planear as compras, como organizar e armazenar os alimentos na despensa ou no frigorífico e, por último, transformar ou cozinhar os alimentos para os aproveitar da melhor forma.
Além disso, tornou-se popular a utilização de aplicações como a Too Good To Go para salvar os excedentes alimentares diários, a preços reduzidos, de supermercados, restaurantes e lojas, entre outros, para ajudar a evitar o desperdício. Em Portugal, quase dois milhões de utilizadores e mais de quatro mil estabelecimentos já aderiram a esta iniciativa, quase quatro milhões de packs de alimentos já foram salvos e 9.500 toneladas de emissões de CO2e foram evitadas.
“A realidade e os hábitos dos jovens são essenciais para compreendermos o problema do desperdício alimentar e para encontrarmos soluções para este flagelo mundial. É fundamental a colaboração entre todas as partes envolvidas na cadeia de valor, desde o produtor até ao consumidor, incluindo os distribuidores, o sector da restauração e até a administração pública. Esta é a chave para atingir os objetivos de redução do desperdício alimentar. Se encorajarmos a ação coletiva e unirmos forças, faremos progressos em direção a este objetivo de desperdício zero“, afirma Maria Tolentino, diretora da Too Good to Go em Portugal