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Simplicidade e transparência: o que os consumidores procuram em tempos de inflação e incerteza

compra inflação
Foto Shutterstock

No último ano, o preço e a relação custo-benefício tornaram-se ainda mais relevantes para mais de metade dos consumidores de marcas alimentares e de bebidas em todo o mundo, segundo a consultora internacional Innova Market Insights que, a convite da PortugalFoods, entidade gestora do “cluster” do sector agroalimentar nacional, apresentou, no webinar “Trends 2023” as tendências de inovação que vão impactar nas marcas e produtos alimentares no curto prazo.

Elaborado com base em inquéritos realizados aos consumidores e no desenvolvimento de novos produtos nos diversos mercados mundiais, o estudo identifica as principais tendências de consumo e aponta as oportunidades de inovação para a indústria e para as marcas alimentares. “Os fabricantes e as insígnias têm de ouvir, compreender e responder aos valores essenciais dos consumidores. Estes querem marcas que ofereçam qualidade, confiança e segurança, seja nas suas formulações, na sua comunicação, seja nas suas iniciativas de sustentabilidade”, aponta a equipa da Innova Market Insights.

Já a PortugalFoods, pela voz da diretora executiva, Deolinda Silva, refere que “o sector agroalimentar português é altamente orientado para o mercado, está muito atento às tendências mundiais, por forma a adaptar-se e a diferenciar-se num mercado global competitivo. É um sector dinâmico, com forte vocação para a internacionalização e com processos de inovação cada vez mais maduros”.

Num contexto em que os consumidores procuram responder a uma crise de custo de vida, a redefinição de valor posiciona-se, assim, como a primeira das 10 grandes tendências que vão impactar o sector agroalimentar no curto prazo. A flexibilidade será, por isso, essencial para as insígnias alimentares vingarem, seja na forma como interagem com os consumidores, seja na forma como aproveitam, ao máximo e rapidamente, as oportunidades tecnológicas emergentes. Iniciativas como aumentar os preços ou reduzir ingredientes, por forma a responder às flutuações da cadeia de valor, podem funcionar no curto prazo, mas, para garantir ganhos, as marcas precisam de ser transparentes na sua comunicação e mostrar claramente os benefícios que oferecem.

 

Redefinição do valor

Com a inflação em níveis muito elevados, resultado da volatilidade política e económica, os consumidores estão à procura de estratégias para economizarem, como escolher bens de menor custo e cozinhar “do zero”. Apesar disso, continuam focados em usufruir de novas experiências, em garantir o bem-estar pessoal, mas com evidentes preocupações globais, nomeadamente, no que diz respeito ao impacto ambiental das suas escolhas. Assim, fabricantes e marcas alimentares não só estão sob maior pressão para entregarem valor aos consumidores, como também têm de responder a expectativas cada vez mais exigentes e amplas , isto num cenário de orçamentos mais limitados e sérios constrangimentos na cadeia de abastecimento.

A volatilidade política e económica é a segunda maior preocupação dos consumidores, já que a primeira, dizem, é a saúde do planeta. Na verdade, de acordo com o estudo, a pressão financeira sentida pelos consumidores está a levar a comportamentos mais ecológicos e orientados para a sustentabilidade. Inquiridos, os consumidores dizem que não só têm reduzido o desperdício de alimentos, como passaram a reciclar ou reciclaram mais, como parte das suas estratégias para responderem ao aumento do custo de vida.

Os produtos frescos são o principal bem alimentar pelo qual os consumidores globais estão dispostos a pagar, seguindo-se os produtos produzidos localmente e os que contêm ingredientes funcionais que que podem ter um papel positivo na saúde. Assim, quanto maior for a capacidade para combinarem benefícios económicos com claros objetivos de sustentabilidade e saúde, maior será o sucesso das marcas.

 

Nutrição acessível

Os consumidores procuram alto valor nutricional pelo preço certo e referem que, dado o aumento do custo de vida, procuram alimentos cada vez mais simples e nutritivos.

Os consumidores dizem também que o desenvolvimento de produtos alimentares e bebidas deve ser orientado para a saúde (36%), para a acessibilidade (34%) e para a naturalidade (30%).

 

Impulso geracional

As gerações mais jovens e digitais procuram um envolvimento positivo e novas experiências, enquanto partilham as suas opiniões de forma ampla e voluntária. São elas que estão a influenciar as tendências de consumo de alimentos e bebidas, levando, por exemplo, à criação de novos sabores.

Para a Geração Z, o sabor é mais importante do que a acessibilidade, mas para os Millennials, a acessibilidade é mais importante do que o sabor. Já a naturalidade é mais importante do que o sabor para a Geração X e para os Baby Boomers. Criar produtos transparentes, que respondam às necessidades e preferências de cada grupo demográfico, continua a ser essencial para qualquer marca.

 

“Plant-based”, desvendando uma nova narrativa

Ingredientes subutilizados e novos formatos vão aumentar o protagonismo dos produtos de base vegetal. As marcas estão a trabalhar na melhoria dos sabores e das texturas, mas, sobretudo, a responder a uma exigência crescente dos consumidores, que pedem o desenvolvimento de produtos vegetais inovadores, que não se limitem a imitar carne ou lacticínios.

Ao mesmo tempo, os consumidores expressam também o desejo de experimentar versões “plant-based” de culinária tradicional e local, com a indústria a responder com a oferta de refeições prontas e kits de preparação de refeições, com receitas criativas.

 

Cultivar o futuro

Dado o impacto que a atividade agrícola intensiva tem no meio ambiente, os consumidores e a indústria estão cada vez mais focados no tema da sustentabilidade da produção. Novos sistemas e tecnologias agrícolas (como a agricultura regenerativa, a agricultura vertical ou o melhoramento de plantas) estão a melhorar a qualidade e a sustentabilidade, levando a um maior interesse dos consumidores em conhecerem as fontes da sua alimentação.

62% dos consumidores europeus inquiridos refere que prefere produtos que mencionam na embalagem os benefícios dos seus métodos de produção/sourcing. Adicionalmente, quando questionados sobre as principais razões para aceitarem alimentos que recorrem a práticas agrícolas inovadoras, referem que o fazem, sobretudo, se a proposta de valor for mais natural/orgânica, se se posicionar como melhor para o ambiente ou se ajudar a reduzir riscos para a saúde.

 

Qualidade com rapidez

Durante a pandemia, muitos consumidores puderam dedicar mais tempo à cozinha e a criatividade culinária floresceu. Contudo, com o regresso a rotinas mais dinâmicas e exigentes, é preciso manter o interesse criativo, mas garantir maior praticidade e conveniência.

Na Europa, dois em cada três consumidores afirmam que estão à procura de formas simples e convenientes de garantir a sua ingestão diária de nutrientes, pelo que a conveniência está a subir na cadeia de valor: apesar do custo ser, ainda, o principal fator de escolha nos kits de refeição, seguem-se logo a frescura e os benefícios para a saúde como prioridades.

 

Saboreando o digital

As marcas alimentares estão a começar a aproveitar o potencial de relacionamento com o consumidor, através da aposta em experiências reais combinadas com experiências virtuais, incluindo uma aposta no metaverso, seja para dar resposta a questões funcionais, seja para impulsionar a vertente de entretenimento. Isto é especialmente importante para cativar os consumidores mais jovens.

 

Gastos “por vingança”

Os chamados pequenos prazeres ganham destaque, à medida que, sob pressão financeira, os consumidores fecham o cordão à bolsa a gastos considerados supérfluos ou vistos como mais luxuosos. Durante a pandemia, os consumidores gastaram significativamente mais em comida e bebida, enquanto procuraram economizar noutras despesas.

As marcas alimentares estão a apostar cada vez mais na oferta de experiências aprimoradas (entre 2020 e 2022, o lançamento de produtos alimentares de edição limitada cresceu, em média, 28% nos mercados espanhol, francês, alemão e britânico) e o potencial de mercado é grande: na Europa, um em cada dois consumidores que refere ter perdido poder de compra, também afirma que é provável que faça uma compra única por impulso, quando o produto alimentar ou bebida é inovador em aroma/gosto.

 

Descodificar a saúde

A comunicação simples, suportada por certificação credível (como o NutriScore) na embalagem, é uma fonte obrigatória para os consumidores interessados nos benefícios para a saúde e no valor nutricional de um produto.

Para a maioria dos consumidores europeus, as principais fontes de informação para determinarem o quão saudável um produto é são a lista de ingredientes, seguida pelo rótulo nutricional, as pesquisas individuais e as declarações da marca referidas na embalagem.

Todavia, as marcas ainda têm muito a trabalhar para garantirem a transparência e a credibilidade dos seus slogans: mais de 80% dos consumidores, na Europa, refere que não confia totalmente nas alegações relativas aos benefícios para a saúde que são feitas pelas marcas.

 

Positivamente imperfeitas

A transparência e a honestidade na informação que as marcas veiculam sobre a dificuldade que enfrentam no que diz respeito à sustentabilidade são apreciadas pelos consumidores, uma vez que sabem que não são 100% perfeitas. Mais de metade dos consumidores europeus refere que a sua confiança numa marca aumenta quando esta comunica os desafios e as dificuldades que encontram.

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