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Saída da crise será distinta face a 2008

Imagem Shutterstock

Poucas semelhanças existem entre a crise gerada pela pandemia de Covid-19 e a de 2008, atestou a Nielsen Espanha, num evento digital promovido esta terça-feira, dia 5 de maio.

Como tal, indica María Ángeles Zabaleta, Client Development Director na consultora, a saída desta crise será diferente face à de 2008, até porque ambas têm origens distintas. “A de 2008 era uma crise financeira global, onde os consumidores se centraram nos números, já que teve um impacto direto nas suas carteiras. A da Covid-19 não só terá impacto nas suas carteiras, como também, e sobretudo, no seu modo de vida (mobilidade, teletrabalho, segurança), pelo que terão de repensar o seu modelo de vida”.

Após a crise de 2008, o consumidor conteve os seus gastos, comprando menos vestuário, consumindo menos fora de casa e procurando opções mais baratas nos produtos básicos. Agora, a conveniência converteu-se num básico e, após a Covid-19, o consumidor privilegiará a higiene, a saúde e a segurança.

Em termos de sensibilidade aos preços e promoções, a saída de ambas as crises não se faz do mesmo ponto de partida. María Ángeles Zabaleta recorda que, em 2009, em Espanha, a sensibilidade ao preço era de 52% e que, 10 anos depois, se situava nos 67%. Na crise financeira, a procura pelas promoções era de 48% e em 2019 ascendia a 62%. Também em 2008, o consumidor optou pelas marcas de distribuição com o objetivo de reduzir os seus gastos. Hoje, assinala a consultora, a marca própria está noutro nível de quota e penetração.

 

Consumo impactado por mudanças na forma de vida

Ao contrário do que aconteceu em 2008, na etapa pós-Covid o consumo será impacto por mudanças na forma de vida. O consumidor irá passar mais tempo em casa, o que implicará um aumento dos fenómenos de take-away, delivery e da opção por confecionar as refeições no lar. Existe, também, um consumidor muito mais conectado.

De acordo com a Nielsen, os consumidores terão de procurar um novo equilíbrio entre três planos distintos: racional, emocional e social. No plano racional, o impacto económico levará a alguma contenção nos gastos, mas manterá as suas preocupações com os temas da saúde, rastreabilidade e segurança. Já no plano emocional, optará pelo que é local e próximo. “Além disso, vai ter de reinventar a experiência omnicanal”, alerta María Ángeles Zabaleta. Finalmente, na vertente social, nascerá uma nova sociabilidade, com mais conexão, mas também mais distância social e mais tempo em casa.

Recorde-se que, recentemente, outro especialista da Nielsen tinha alertado para os perigos de uma análise demasiado simplista entre ambas as crises. Scott Mckenzie, Global Intelligence Leader, destaca, precisamente, que os tempos de crise que se vivem pouco têm que ver com o rescaldo da crise financeira global de 2008-2009, caracterizado por algum nível de previsibilidade. O denominador comum é que ambas as crises trouxeram mudanças nos hábitos de consumo a nível global.

Por Bruno Farias

Diretor na revista Grande Consumo. Um eterno sonhador, um resiliente trabalhador. Pai do Afonso e do José.

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