Educação, turismo e energias renováveis são apontados pelos portugueses como os sectores mais competitivos e cruciais para o desenvolvimento do país. Esta é uma das grandes conclusões do Primeiro Grande Inquérito sobre Sustentabilidade em Portugal, promovido pela Missão Continente, com a coordenação científica do Instituto de Ciências Sociais da Universidade e Lisboa (ICS-ULisboa), cuja apresentação contou com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Para Marcelo Rebelo de Sousa, “a primeira palavra a este inquérito é de elogio. Quer saber-se o que os portugueses pensam sobre eles próprios e essa informação, tratada cientificamente, é muito interessante. Este tipo de trabalho não é só um retrato do país, é um catalisador do futuro dos portugueses. Temos de complementar a perspetiva económico-financeira com uma perspetiva sociocultural, permanente. É da simbiose das duas que resulta aquilo que precisa o país”.
Segundo Luís Moutinho, CEO da Sonae MC, “para a Missão Continente é importante perceber como é que os portugueses veem o seu futuro e o do país e quais as suas prioridades para que possamos garantir um futuro mais sustentável. Esta é a razão principal pela qual entendemos realizar o Primeiro Grande Inquérito à Sustentabilidade em Portugal, com a coordenação científica do Instituto de Ciências Sociais. Acreditamos que, desta forma, a Missão Continente conseguirá ir cada vez mais ao encontro das expectativas e necessidades dos portugueses e contribuir para um Portugal melhor, mais saudável e sustentável”.
Cerca de 46% dos portugueses estão de acordo que estas devem ser as grandes apostas de investimento para o futuro do país, apesar de os resultados do inquérito apontarem para a existência de duas visões geracionais – entre os “25 e os 44 anos” e “maiores de 54” – que se polarizam em alguns sectores. Especificamente, as energias renováveis e as novas tecnologias/investigação aparecem no topo das áreas prioritárias identificadas pelos mais novos.
Em matéria de ambiente, os portugueses colocam no topo das suas preocupações os incêndios florestais (46%), o excesso de lixo (34%) e a poluição do mar, praias e oceanos (30%). De acordo com o estudo, liderado pelas sociólogas Luísa Schmidt e Mónica Truninger, investigadora do ICS-ULisboa, também aqui os resultados evidenciaram uma demarcação geracional, espelhada no posicionamento que os portugueses têm em relação aos problemas ambientais. Efetivamente, se a preocupação com os incêndios é comum a ambas as gerações, no caso das alterações climáticas, são os jovens quem se mostram mais preocupados, ao passo que os portugueses com mais de 55 anos valorizam, sobretudo, o problema da escassez de água e o excesso de lixo produzido.
Para a socióloga e investigadora Luísa Schmidt, “a parceria com a Missão Continente para a realização deste estudo assumiu-se como uma oportunidade importante para aferir as perceções e práticas relativamente à sustentabilidade nas suas diversas dimensões: ambiental, económica, social e de participação, pois, em geral, fala-se no tema mas não se avança no conhecimento sobre ele. Foi importante também perceber os impactos da crise económica que se abateram sobre os portugueses e os consequentes constrangimentos nas práticas de lazer e de consumo, incluindo as alimentares. Foi possível detetar dois tipos de respostas à crise: por um lado, os grupos sociais que ‘fizeram da necessidade, virtude’ optando por práticas mais sustentáveis – por exemplo frequentar cada vez mais jardins e parques públicos ou cultivar uma horta urbana; e, por outro lado, os que se viram de tal forma forçados a diminuir os seus consumos que se sentiram socialmente excluídos”.
Ainda de acordo com os resultados deste inquérito, a maior parte dos portugueses (73%) já ouviu falar sobre sustentabilidade, sendo os media o meio privilegiado de acesso a esta temática. São as gerações mais velhas, menos escolarizadas e residentes em meios rurais que afirmam não conhecer o termo. As dimensões dominantes do conceito de sustentabilidade são a económica e ambiental, registando-se um desequilíbrio face à dimensão social e sobretudo à de governança.
À expressão sustentabilidade, a maioria dos portugueses associa o “consumo sustentável” (48%). Para o aumento do consumo responsável, os portugueses acreditam que é preciso promover a produção e o comércio de proximidade e apostar em mais informação, quer através da rotulagem dos produtos, quer através de campanhas para ajudar à mudança dos padrões de consumo. Esta aposta na produção e comércio de proximidade é reafirmada pela tendência de valorização da produção nacional e local.
O estudo aponta ainda para um aumento da preocupação com a poupança e uma distribuição justa dos bens sobretudo no pós-crise económica. Do mesmo modo, com a crise, registaram-se também alterações a assinalar em relação aos hábitos alimentares e de consumo em geral: a esmagadora maioria dos portugueses alterou as suas práticas de consumo e de lazer. Desde passarem a optar maioritariamente por promoções e produtos em saldo (39%), até comprar produtos mais baratos (35%) ou a optar por produtos de marca branca ou própria (30%), bem como a frequentar muito menos os restaurantes (31%). Deixaram ainda de frequentar vários tipos de espectáculos culturais e até ginásios. Entre as práticas de lazer, apenas aumentou a frequência de espaços públicos e naturais de uso gratuito.
O Primeiro Grande Inquérito sobre Sustentabilidade em Portugal pretende traçar um retrato da sociedade portuguesa nas áreas do consumo sustentável, alimentação, ambiente, investimento e políticas públicas. Na apresentação dos resultados do estudo, estiveram ainda presentes o ministro do Ambiente, José Pedro Matos Fernandes, e o ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, José António Vieira da Silva, entre outros representantes de áreas estratégicas em Portugal