Portugal pode atingir a 13.ª posição em nível de vida na União Europeia em 2033, entrando assim na metade de países mais prósperos (com a atual configuração de 27 países), o que levará ainda a uma população superior.
Assim afirma o segundo capítulo do primeiro número da publicação “Economia e empresas: tendências, perspetivas e propostas”, apresentado pelo Gabinete de Estudos Económicos, Empresariais e de Políticas Públicas (G3E2P) da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP).
O capítulo mostra os principais resultados de um modelo de dinâmicas relativas de nível de vida e população na União Europeia, com projeções em retrospetiva e em perspetiva para Portugal. Conclui-se que é a criação de condições de crescimento económico que retém e atrai população (e capitais) para gerar riqueza, dado o nível de vida relativo de partida.
Para tal, o crescimento económico anual terá de superar a média simples dos valores de crescimento dos países da União Europeia – o novo referencial estratégico proposto no estudo – entre 1,4 e 1,7 pontos percentuais (p.p.), consoante os cenários, o que corresponde a valores absolutos entre 3,1% e 3,8%, mas as metas em diferencial são mais robustas. Diferenciais entre 0,4 a 0,6 p.p. acima da média apenas permitem alcançar a metade de países mais ricos da União Europeia em 2043.
Sem alteração de políticas, Portugal pode cair para a 25.º posição em nível de vida em 2033 e registar uma perda bastante significativa de população (superior à prevista no Ageing Report).
Melhorar o nível de vida
Apostar em reformas estruturais que elevem o potencial de crescimento da economia, incluindo aproveitar melhor os apoios europeus disponíveis (cujo impacto é reduzido e temporário, atendendo às projeções da Comissão Europeia para o crescimento potencial português), é crucial para melhorar o nível de vida relativo e preservar a dimensão populacional, bem como a soberania do país, preparando o fim previsível desses apoios.
“Há uma necessidade urgente de adotar reformas estruturais conducentes a um maior crescimento económico. A sua não adoção resultou numa economia pouco mais que estagnada, em empobrecimento (queda de posições em nível de vida na União Europeia) e numa perda relativa de população entre 1999 e 2022, que se tornará em perda absoluta nas próximas décadas devido ao baixo nível de vida a que chegamos”, destaca o diretor da FEP, Óscar Afonso.
Quanto às projeções em retrospetiva, se a economia portuguesa tivesse crescido ao ritmo da média simples dos países da União Europeia desde 1999 (ou seja, 2,4% ao ano, em vez de 0,9%), em 2022, Portugal teria alcançado a 12.ª posição em nível de vida (em vez da 20.ª, a sétima pior), claramente na metade de países mais ricos, e teria mais um milhão de pessoas. Crescendo ao ritmo da União Europeia (1,5%), teria ficado na 19.ª posição, pouco melhor.
Novo referencial
A média simples de crescimento dos países da União Europeia, o novo referencial estratégico base proposto, em que cada país pesa o mesmo, continuará a ser mais ambicioso nas próximas décadas do que crescer ao ritmo da União Europeia e (pior ainda) da área euro, os referenciais dos nossos governos, cuja dinâmica é travada pelo forte peso das três maiores economias (Alemanha, França e Itália), há muito estagnadas, como é demonstrado neste segundo capítulo.
A substituição de referencial de crescimento é uma reforma estrutural, apontando para um novo rumo em termos de nível de vida e dimensão populacional, como proposto. Se o novo referencial tivesse sido seguido desde 1999, bastaria para Portugal ficar consistentemente na metade dos mais ricos até 2043, ao contrário do referencial União Europeia, que o colocaria sempre perto do fundo da tabela.
Dado o baixo desempenho passado (o crescimento económico português de 0,9% ao ano em 1999-2022 foi o terceiro pior entre os países da União Europeia), crescer em linha com o novo referencial estratégico base proposto após 2022 apenas trava a perda de posições em nível de vida até 2033, pelo que atingir a metade de países mais ricos exige os diferenciais adicionais acima apontados.
“Alcançar um nível de vida e uma população mais elevados requer políticas ambiciosas e consonantes em matéria de crescimento económico, o que implica, desde logo, escolher um referencial com uma dinâmica mais ambiciosa para nos compararmos. As metas de crescimento e nível de vida, de fácil escrutínio, elevarão a exigência dos cidadãos”, revela Óscar Afonso.
O estudo conclui ainda que o recente surto de crescimento económico não é estrutural, mas um resultado de impulsos temporários do turismo e do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
Por fim, salienta-se que os resultados do modelo inovador apresentado são muito significativos e as projeções incorporam vários cenários, o que lhes confere uma elevada robustez.