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Mercados municipais: que futuro?

Sobretudo em Lisboa, mas não só, o fenómeno dos mercados municipais parece ter vindo para ficar. Sejam com a oferta de restaurantes de chef ou, até mesmo, integrando insígnias da moderna distribuição como lojas-âncora, a realidade é que os antigos mercados estão a reconquistar os consumidores que haviam perdido. As fachadas exteriores mantêm-se, mas os interiores estão agora mais apelativos e com uma oferta diversificada.

Primeiro foi na Boavista, em Campo de Ourique e no Cais do Sodré. Mais recentemente, no Bairro de Santos e em Alvalade. Todos estes locais têm algo em comum: deram nova vida aos seus mercados.

Os antigos mercados municipais estão mais modernos, têm novos fatores de atração e parecem estar a conquistar as gerações mais novas. O fenómeno multiplica-se em diversos locais, e com diferentes formatos, partilhando o desejo comum de trazer de volta aos mercados de bairro a vida e o tráfego que tiveram outrora.

Campo de Ourique

A 14 de abril de 1934, a Rua Coelho da Rocha via nascer o Mercado de Campo de Ourique. Bairro nobre e requisitado em Lisboa, Campo de Ourique é uma das zonas de excelência da capital que se mantém, ainda que dentro da cidade, como uma zona bairrista e de forte proximidade entre os locais.

Em 1973, o Mercado passava das mãos do empresário José Dionísio Nobre para a Câmara Municipal de Lisboa, mantendo-se como local de eleição para todos aqueles que quisessem comprar peixe, frutas ou legumes de qualidade, no ritual “antigo” de “ir à praça” ou “ir ao mercado”. Foi com o aparecimento das grandes superfícies comerciais, hipers, supermercados e mais tarde os centros comerciais, como é o caso do seu vizinho Amoreiras, que a cultura de ir ao mercado se foi perdendo. A conveniência de poder ir a um local onde, para além dos frescos, se pode comprar tudo o resto levou a que uma grande maioria dos consumidores abandonasse os mercados em detrimento dos supers e hipermercados.

Em 2013, e inspirado no conhecido Mercado de San Miguel, em Madrid, o Mercado de Campo de Ourique ganhou novo fôlego, abrindo portas totalmente renovado. “A ideia surgiu da própria Câmara Municipal de Lisboa, do vereador Sá Fernandes. Na altura, foi lançado um concurso público, pareciam existir vários interessados; no entanto, fomos os únicos, efetivamente, a responder ao concurso. Inspirámo-nos nos mercados internacionais, fomos viajar para perceber um pouco do que se passava lá fora, mas procurámos, sobretudo, adaptar e dar o cunho nacional, tanto ao nível da arquitetura, como do espaço e da conceção”, explica Diogo Sousa Coutinho, CEO do Grupo SC, que gere atualmente o projeto.

Com 17 espaços diferentes, o Mercado de Campo de Ourique reúne conceitos distintos com o denominador comum de oferecerem uma verdadeira experiência gastronómica. A carne do Atalho, os gelados da Artisani ou as limonadas e cocktails do Bar do Mercado são alguns dos exemplos da variedade disponível. Para além disto, e como mercado que continua a ser, as bancas de fruta, legumes, peixe ou artesanato contribuem para manter a autenticidade e tradicionalidade do espaço. “Quando começámos, observávamos uma média de idades entre os 60 e os 80 anos a frequentar o nosso mercado. Hoje, temos uma média de idades entre os 35 e os 40 anos. Isso para nós é muito importante, ver ‘miúdos-graúdos’ a frequentar, a visitar e a desfrutar do Mercado de Campo de Ourique. No primeiro semestre do ano, alcançámos um número extraordinário de visitas, ultrapassando um milhão de visitantes nacionais e estrangeiros. Desse número, apenas 17% são turistas, por isso, é possível ver como este mercado vive, sobretudo, dos locais”, acrescenta Diogo Sousa Coutinho.

“Puxando a brasa à sua sardinha”, Diogo Sousa Coutinho acredita que a localização do Mercado de Campo de Ourique é um dos fatores que mais o distingue dos restantes mercados que seguiram caminhos semelhantes. No entanto, é com otimismo e felicidade que vê as demais renovações e a propagação do fenómeno de reabilitação dos mercados municipais. “O Mercado de Campo de Ourique diferencia-se em vários aspetos, destacando-se a localização num bairro tão carismático como Campo de Ourique, que é um dos mais procurados para viver em Lisboa devido à qualidade de vida que oferece. Além disso, temos o casamento perfeito com o lado tradicional, com as bancas de fruta e legumes ao redor da praça de restauração, o que torna o espaço e o convívio muito agradáveis. Em relação aos restantes mercados, acredito que existe a possibilidade da transformação de todos e nem todos têm de ficar iguais, porque cada um tem a sua localização, cada um tem a sua arquitetura, cada um tem o seu possível modelo de negócio. É muito bom ver todos esses mercados serem reabilitados, de modo a podermos, novamente, dar a conhecer às crianças e jovens estes espaços com muita história. Todos estes mercados têm mais de 60 a 80 anos e é isso que os torna giros. Julgo indispensável esse trabalho que a Câmara Municipal de Lisboa está a fazer muito bem, de renovar e de concessionar a pessoas ou empresas os mercados para dinamização. Espero que assim continue”, remata.

Time Out Market – Mercado da Ribeira

Câmara Municipal de Lisboa que, decorria o ano de 2010, quando lançou um concurso público para a concessão do icónico Mercado da Ribeira. No caderno de encargos existia uma condição fundamental para os possíveis concorrentes: o mercado tradicional teria de fazer parte do projeto. Talvez por essa mesma condição, apareceu um único candidato, a Time Out. Quatro anos mais tarde, o projeto estava à vista de todos.

A revista Time Out surgiu em Portugal, em 2007, com a sua edição de Lisboa. Uma revista de culto e um verdadeiro guia gastronómico com o melhor, e também o pior, na cidade. A tão sentida e falada crise no universo jornalístico levou a que a Time Out visse aqui uma oportunidade de negócio. “A Time Out sempre teve um relacionamento muito próximo com os leitores e, depois de termos aberto, em 2010, a Time Out Porto, precisávamos de arranjar outra forma de suportar o negócio, para além do online. Ou seja, muito mais do que uma ideia de renovação do mercado ou uma ideia de implementação física, teve muito a ver com aquilo que é uma revolução nos media, uma solução para aquilo que seria o futuro menos positivo dos media. Pensámos que se a revista tinha tanto sucesso a levar pessoas aos sítios, ou mesmo a fechá-los quando dizia que os sítios não eram bons, porque não abrir um espaço onde pudéssemos mostrar o melhor de Lisboa, reunido debaixo do mesmo teto? Nessa altura, abriu o concurso público para o Mercado da Ribeira e nós, que tínhamos pensado ficar com um espaço que tivesse cerca de mil metros quadrados, acabámos por concorrer a um espaço com 10 mil metros quadrados. A ideia teve de se estender muito mais do que tínhamos pensado inicialmente e surge então o projeto de aplicação da marca, ser exatamente a primeira revista do mundo que se pode ler, comer, cheirar, ouvir. É uma extensão de marca e uma viabilização de negócio”, explica Ana Alcobia, diretora do Time Out Market.

Se hoje em dia o Cais do Sodré é, a par do Príncipe Real, um dos locais mais badalados da cidade, sobretudo no que à restauração diz respeito, em 2010, a realidade era diferente. O local envelhecido e degradado deu lugar a inúmeros restaurantes e bares que dão vida à zona, sobretudo à noite, sendo ponto de paragem obrigatório para os apreciadores de vida noturna. O novo Mercado da Ribeira veio contribuir, e muito, para isto. 50 espaços de restauração, lojas, uma sala de espetáculos, uma academia de cozinha, uma discoteca e um espaço de co-work compõem o agora Time Out Market. Sem qualquer apoio de bancos, o projeto tornou-se viável através de alguns dos “players” mais conhecidos do mercado nacional, como Unicer, Sumol+Compal, Delta Cafés, Vista Alegre e Renova, que apoiaram o projeto desde o início.

A oferta é vasta e os parceiros são de peso, mas são os números que verdadeiramente impressionam. Em média, passam entre 45 mil e 70 mil pessoas todas as semanas pelo Time Out Market, valor que sobe ainda mais na época de verão. Em 2016, atingiram um total de faturação de 24 milhões de euros e cerca de 3,1 milhões de pessoas. “O ano de 2016 foi para nós importantíssimo, um ano de consolidação. Oito meses após a nossa abertura, acabámos por ser comprados pelo grupo internacional, até então a Time Out era 100% capital português, o que veio ajudar muito, sendo que existiu também a perceção por parte do grupo de que isto seria o futuro da própria marca. Isso deixa-nos muito contentes. O tráfego, 3,1 milhões de pessoas, é assustadoramente positivo. Este ano estamos a crescer ainda mais: fechámos o primeiro semestre com 1,7 milhões de visitantes. Mas, também para nós, existe um teto que não queremos ultrapassar, de forma a não prejudicar a experiência dos visitantes”, explica Ana Alcobia.

Com 70% dos visitantes a serem turistas, sobretudo em época alta, a diretora do Time Out Market destaca que esse não é o foco do mercado, que se mantém nos locais. “Trabalhamos para conquistar os locais. Não gastamos qualquer tipo de ‘budget’ com turistas, tudo aquilo que fazemos é para atrair os locais ao Mercado da Ribeira e isso passa muito por voltarem ao mercado tradicional, que precisa ainda de se adaptar a uma nova realidade. O mercado abre às 6 e fecha às 13 horas, continua a fechar ao domingo e à segunda-feira, existe aqui alguma necessidade de adaptação aos novos horários”.

Com uma oferta diferenciadora dos demais, o mercado segue o “claim” de “colocar o melhor de Lisboa debaixo do mesmo teto”. Sendo o único foodhall do mundo que reúne três chefs com estrela Michellin, no Time Out Market é possível provar pratos de Miguel Laffan, Henrique Sá Pessoa, Marlene Vieira ou Vítor Sobral. Reunir aqueles que consideram ser os melhores segue uma estratégia delineada pela Time Out: desmistificar as ideias pré-concebidas sobre restaurantes de chef, democratizando o acesso a este tipo de conceito. “A Time Out quis, já como revista, democratizar a ideia de que a ida ao restaurante tinha de ser uma efeméride. Os portugueses, e mesmo os lisboetas, tiveram de ultrapassar a ideia de que um prato muito bom é um prato muito cheio e barato. Somos o único país em que o menu do dia continua a ser uma constante em quase todos os restaurantes. A ideia da Time Out foi demonstrar que aquilo que é já conhecido pelo mundo todo como ‘food porn’ fazia todo o sentido cá com a ‘prata da casa’. Claro que essa prata teve de ser muito selecionada. Temos chefs de elevada qualidade com uma oferta diferente, mais em conta do que as pessoas estão à espera. Aqui, os consumidores podem comer pratos de elevadíssima qualidade, cozinhados pelos melhores de Portugal”, acrescenta.

O inegável sucesso do Time Out Market Lisboa levou-o para outros destinos. Para 2018, está prevista a abertura do Time Out Market no Porto, mas não só. Presente em mais de 130 cidades, o Grupo Time Out parece estar tão apaixonado pelo conceito que o vai levar para um dos seus mais importantes mercados, os Estados Unidos da América. Já no próximo ano, será a vez de Miami receber o mercado Time Out. Em 2019, será a vez de Boston. “A ideia passa por replicar este modelo em todas as cidades onde seja possível e faça sentido fazê-lo com este conceito”.

Quando tudo parece já alcançado, o que é que falta ao Mercado da Ribeira? “Falta que os locais tenham o mesmo amor pelo Mercado da Ribeira que tiveram há muitos anos. Isto definitivamente não é um espaço para turistas. Continuamos a trabalhar este espaço só para locais e só queremos é que eles venham cá muitas vezes e que tenham tanto orgulho nesta ideia como nós temos”, remata Ana Alcobia.

Mercado do Bairro de Santos

Se a oferta em restauração é apelativa do ponto de vista de faturação e como chamariz para o mercado, existem outras opções a ser exploradas e outros formatos a surgir. O Mercado do Bairro de Santos é exemplo disso mesmo. No passado mês de junho, a DIA – Distribuidora de Alimentación, S.A e a Câmara Municipal de Lisboa assinavam um contrato de concessão do mercado em questão ao retalhista espanhol. Para Jorge Madeira, diretor comercial da DIA Portugal, esta concessão é uma espécie de retorno ao passado, na medida em que volta a conferir a um mercado municipal a importância de outrora. “Os mercados municipais foram essenciais num determinado período histórico da distribuição alimentar em Portugal, tendo desempenhado um papel fundamental como símbolos de comércio urbano autêntico. A evolução dos atuais modelos de sociedade e dos conceitos de distribuição moderna obriga-nos a repensar o consumo e a integrar estes espaços como novos eixos de sociabilidade urbana e como polos agregadores comunitários das suas zonas envolventes. O Mercado do Bairro de Santos não foge a esta regra”, declara.

Vendo a oportunidade de abrir o primeiro Minipreço Family na cidade de Lisboa, o Grupo DIA decidiu concorrer ao projeto público lançado pela Câmara Municipal de Lisboa, saindo vencedor. “É um projeto de enorme envergadura e responsabilidade, que estamos seguros que vai contribuir para transformar o mercado num novo e atrativo polo dentro da cidade de Lisboa. O seu projeto de requalificação visa constituir uma oferta renovada, com um supermercado Minipreço Family com mais de mil metros quadrados e cerca de quatro mil referências, numa zona emblemática da cidade de Lisboa que poderá, desta forma, manter um edifico histórico num conceito de distribuição moderno e atual que servirá condignamente toda a população envolvente”, acrescenta.

Num espaço que pretendem que seja de todos e para todos, complementaridade é a palavra-chave desta concessão. Em termos práticos, aqueles que poderiam parecer concorrentes vão trabalhar lado a lado numa união entre o comércio tradicional e o comércio moderno. “Os atuais comerciantes que operam no Mercado de Santos e que serão colocados no exterior terão um espaço com mais segurança, mais pessoas, mais clientes e um dinamismo que agora não tem. A população passará a ter um espaço com uma área alargada de fruta e legumes, serviço de padaria e pastelaria, talho, peixaria e take-away, entre outros, para além de estacionamento exclusivo para clientes”, explica Jorge Madeira.

Conquistar as novas gerações, há muito desabituadas da rotina de ir ao mercado, é também um dos objetivos desta concessão. Mas este não é um caso único. Também o discounter alemão Lidl ficou com a concessão do Mercado de Alvalade Norte, com traços bastante semelhantes. A Câmara Municipal de Lisboa, através do Plano Municipal dos Mercados de Lisboa 2016-2020, pretende dar vida a diversos mercados lisboetas. Os projetos de reabilitação têm sido lançados sempre tendo em conta o mercado e o bairro onde se insere. Com uma loja âncora de forte atração, pretende-se que estas concessões funcionem como polo agregador para os locais. Reabilitação, crescimento comunitário e criação de emprego são palavras de ordem neste projeto, que quer reabilitar 26 mercados da cidade, apostando sempre em propostas de valor acrescentado para o bairro ou cidade.

É esta a solução?
Será este, então, o caminho para recuperar os mercados municipais? Serão estas reabilitações tábuas de salvação para espaços até então praticamente abandonados e debilitados, em zonas nobres da cidade? João Barreta, diretor de serviços de planeamento, informação e recursos humanos na Direção Geral das Artes, acredita que, ainda que sejam ideias viáveis e funcionais, podem estar a retirar a verdadeira essência e significado ao nome “mercados municipais”. Para João Barreta, “os mercados de que falamos tenderão a manter o nome ‘mercado’, mas dificilmente irão segurar o apelido ‘municipal’”. Os formatos são distintos e direcionam-se, à partida, a públicos distintos. Se no Mercado da Ribeira e no Mercado de Campo de Ourique, a par ainda do Mercado de Algés ou, mais a norte, do Mercado do Bom Sucesso, a ideia passa por atrair novos públicos e consumidores que procuram a restauração e experiências diferenciadoras na área da gastronomia, nos casos de Alvalade e do Bairro de Santos a aposta passa pela implementação de uma âncora, como o Lidl e o Minipreço. Ironia do destino, ou talvez não, João Barreta salienta que, nestes casos, a ideia a implementar “estranhamente apresenta o formato que todos aqueles que trabalham nos mercados sempre identificaram como os principais causadores do início do declínio dos seus negócios, ou seja, concorrentes diretos da grande maioria dos comerciantes instalados nesses mesmos mercados municipais”.

Se estes não foram os únicos mercados a sofrer alterações, João Barreta destaca outros que, na sua opinião, conseguiram, mesmo com remodelações, manterem-se mais perto do modelo “original”. “Consigo identificar projetos em mercados municipais que tiveram a preocupação de se manter fiéis àquilo que era o mercado original, às suas terras de origem. Modernizaram-se intervindo com obras de remodelação, adaptaram o espaço às novas necessidades da oferta e da procura e, acima de tudo, inovaram na sua organização e gestão. Mercados como o de Portimão e de Torres Vedras, por exemplo, continuam a ser verdadeiros mercados municipais, mas formatos de comércio do nosso tempo, com espaço para a produção local, para a cultura local, para a oferta local”, explica.

Com os novos mercados a figurarem-se como verdadeiros espaços comerciais de alargadas ofertas, a concorrência está onde menos se espera. “Se os mercados como estavam já não constituíam concorrência a formatos de maior dimensão, os mercados que resultam das reestruturações ainda menos, uma vez que a oferta em que apostam já não se traduz em concorrência para aquilo que os super e os hipers oferecem. Já os mercados que apostam numa diversificação da oferta, por via da instalação de verdadeiras ‘praças de restauração’ (à semelhança daquilo que ocorre em grandes centros comerciais) apenas poderão constituir ameaça para esses centros comerciais e não como concorrentes dos supermercados e hipermercados. Na zona do Cais do Sodré, quem se sentiu mais ameaçado com o projeto da Ribeira foram, e continuam a ser, os empresários com restaurantes naquela zona e não os supermercados ou os hipermercados por ali existentes. A uma outra escala, acredito que o mesmo será válido para Campo de Ourique, Algés ou Bom Sucesso”, explica João Barreta.

Atendendo às necessidades locais, poderá ainda aparecer mais algum ou até vários formatos que se adequem ao mercado municipal em questão. Os comerciantes do Mercado do Bairro de Santos, aquando do anúncio do projeto, e ainda relutantes com a ideia de receber no “seu espaço” um supermercado, acreditavam que a solução poderia passar por ter ali, em alternativa a um retalhista, uma Loja do Cidadão. Neste caso, existiria na mesma uma âncora e evitava-se o problema de concorrência.

Em todo o caso, o fenómeno parece estar apenas destinado a grandes centros urbanos, como Lisboa e Porto, ou a locais que tenham forte adesão turística. Sobretudo no que à aposta na restauração diz respeito. “Em relação ao que foi feito nos Mercados da Ribeira, Campo de Ourique e Bom Sucesso, tais experiências não terão o mesmo resultado se forem replicadas noutras localidades. Trata-se de uma questão de escala e, acima de tudo, de procura. Diria que não haverá mercado suficiente para muitos mais mercados destes. Poderá resultar em outras grandes cidades ou em cidades de média dimensão, talvez com mais ‘vida académica’ ou de maior vocação turística. Da dimensão da Ribeira, acho improvável que possa ser replicado em Portugal e que possa ter sucesso comercial. Talvez o Bolhão, no Porto”, afirma João Barreta.

O tempo ditará o sucesso, insucesso, propagação ou estagnação do fenómeno de reabilitações dos mercados municipais. Certamente, pelo menos até 2020, com o Plano da Câmara Municipal de Lisboa, iremos ainda assistir a algumas mais renovações com diferentes formatos. “Antevejo que a restauração continue a aumentar a sua influência na Ribeira, em Campo de Ourique e em Algés e que as cadeias de distribuição instaladas em Alvalade, no Bairro de Santos e noutros acabem por ‘conquistar’, daqui por uns anos, a quase totalidade do espaço desses mesmos mercados”, remata João Barreta.

Este artigo foi publicado na edição n.º 47 da Grande Consumo.

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