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Em 2004, as vendas de livros cresceram 9% e totalizaram aproximadamente 14 milhões de unidades vendidas, segundo a análise da GfK – an NIQ company, que monitoriza as vendas de edições gerais através dos retalhistas do seu painel.
Após um crescimento de 7% em 2023, o mercado manteve a tendência, que advém maioritariamente do aumento de livros comprados na categoria de ficção, que cresceu 13%, nomeadamente a literatura (12%), a ficção infantojuvenil (15%) e a literatura importada (20%). A categoria de não ficção apresentou uma evolução de 4%.
Contributo das gerações mais jovens
Miguel Pauseiro, presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), considera que esta manutenção da tendência constitui “um sinal muito positivo para o sector do livro, mas que acima de tudo é auspicioso para o futuro do nosso país, na medida em que os livros e a leitura desempenham um papel decisivo no desenvolvimento do potencial humano. Temos de assinalar e celebrar esta tendência, ainda para mais quando continuamos a constatar o contributo decisivo das gerações mais novas para este crescimento”, refere APEL.
O mercado continua a crescer muito por efeito da compra de livros pelas faixas etárias mais novas, nomeadamente na categoria de ficção. Para Miguel Pauseiro, “é o resultado de um esforço coletivo que começa nos jovens, mas que envolve pais, educadores, influenciadores, autores, editores, livreiros, entidades e organismos públicos, e que está a dar frutos, mas que está longe de estar consolidado. Há muito para fazer. Não podemos permitir que seja uma moda passageira, mas sim uma mudança estrutural que vinque a centralidade do livro no processo educativo e formativo das crianças e dos jovens, bem como nas relações interpessoais, familiares e sociais”.
A APEL defende que é determinante dar continuidade a este movimento de congregação de esforços e reafirma que uma medida que trará benefícios duradouros é o reforço do Programa Cheque-Livro, assegurando desde já futuras edições até ao final da legislatura e aumentando o valor de 20 para os 100 euros.
Crescimento transversal
Segundo os dados da GfK, o crescimento ocorreu de forma homogénea no canal livreiro e na grande distribuição. Registou-se ainda uma maior concentração de vendas no conjunto dos mil títulos mais vendidos, que representaram mais de 50% das unidades vendidas, uma subida de três pontos percentuais face ao ano anterior.
O número de novos títulos editados cresceu 11%, o que, segundo Miguel Pauseiro, “é revelador da dinâmica que os editores estão a imprimir no mercado e do risco que estão dispostos a correr, como principais financiadores da cadeia de valor, para garantir o seu papel nesta missão coletiva de aumentar a literacia da nossa sociedade”.
A a taxa de crescimento das vendas de livros importados – livros em língua estrangeira, oriundos de mercados com maior escala e onde as novidades editoriais são lançadas por antecipação – foi mais do dobro da das vendas de livros do mercado no seu todo (20%). Uma tendência que se tem acentuado nos anos mais recentes e que acompanha o comportamento registado em toda a Europa, onde há países em que o peso do livro importado supera já os 20% (nalguns casos, supera mesmo os 25%). As estimativas da APEL apontam para um peso do livro importado entre 5% a 8% do total do mercado nacional.
Apesar de salientar que os benefícios da leitura de diferentes géneros, nos mais diversos formatos e línguas, são inegáveis, a APEL revela-se “bastante preocupada” com as consequências do acentuar desta tendência que, a manter-se, “vai seguramente arrastar questões de diversidade linguística e induzir problemas de sustentabilidade ao sector editorial. A defesa da língua deve ser uma prioridade, pelo que são necessárias medidas de promoção e apoio do livro em português”.
Oportunidades para o sector editorial e livreiro
A APEL considera que vivemos um momento positivo, mas que carece de consolidação, pelo que este é o contexto ideal para se equacionarem medidas de apoio à instalação de novas livrarias em muitas zonas do país onde se observa uma maior dificuldade de acesso ao livro. Outros apelos são a revisão da Lei do Preço Fixo do Livro, apoiar autores de língua portuguesa e reforçar os orçamentos para a aquisição de livros quer para as bibliotecas municipais quer para as bibliotecas escolares.