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“Continuar a fazer crescer o valor e o preço médio dos vinhos deverão ser o principal objetivo nos próximos anos”

Cada vez mais vender melhor. É este o objetivo assumido pela Comissão Vitivinícola Regional da Península de Setúbal (CVRPS), uma região que tem vindo a crescer de forma sustentada há cerca de 10 anos e que, à qualidade reconhecida, alia agora o importante indicador da quantidade. No arranque do ano, os seus vinhos conquistaram a segunda posição entre os vinhos certificados mais consumidos no mercado nacional, com uma quota de 6,4% entre os vinhos com denominação de origem e/ou indicação geográfica. E foram os que mais subiram em termos de vendas em volume, sem que isso tenha sido conseguido com prejuízo do seu valor. Para Henrique Soares, presidente da entidade responsável pela certificação e promoção dos vinhos da região, é o corolário de todo o investimento que tem vindo a ser feito na restruturação das vinhas e das adegas. E também uma prova da adaptabilidade do perfil dos vinhos da região aos mais exigentes mercados, sejam eles o nacional ou os de exportação.

Grande Consumo – Segundo dados Nielsen do primeiro trimestre de 2018, os vinhos de Setúbal apresentam-se como a segunda maior região vinícola nacional em termos de quota de mercado de consumo de vinhos certificados. Mais do que as posições, que podem ser mais ou menos temporárias, o que representa, na prática, para a Comissão Vitivinícola Regional da Península de Setúbal (CVRPS) esta situação?
Henrique Soares –
Tal como refere, mais que o ranking, que tem sempre algo de conjuntural, o que tem significado para nós é o crescimento sustentado que a região vem consolidando há mais de 10 anos, consecutivamente, ano após ano, e que traduz o reconhecimento e a preferência dos consumidores pelos Vinhos da Península de Setúbal, que englobam também as denominações de origem Palmela, Moscatel de Setúbal e Moscatel Roxo de Setúbal.

GC – Era importante atingir esta meta? A mesma baseia-se no aumento das vendas em volume ou assiste-se, igualmente, a uma subida do PVP médio por litro?
HS –
É muito importante porque, sendo simbólico, não deixa de ter peso e um profundo significado, quando olhamos para a região no contexto do mapa vinícola nacional.
Atingir esta meta não pode deixar de visto como mais um degrau no tal crescimento sustentado que a região tem sabido construir. O feito tem ainda um significado mais robusto porquanto foi alcançado também com um crescimento do preço médio.

GC – Acredita tratar-se de uma situação temporária ou a região tem condições para se continuar a afirmar como a segunda maior região nacional em termos de vendas? 
HS –
O que nos interessa é a sustentabilidade económica da região, o binómio preço das uvas/preços dos vinhos tem continuado a evoluir positivamente e esse é o melhor barómetro de saúde vitivinícola duma região e o que mais nos interessa preservar. Só assim se garante a sustentabilidade. No entanto, continuar no pódio em termos de vendas será sempre uma boa notícia para a região.

GC – De alguma forma, o crescimento do turismo em Portugal tem contribuído para esta situação ou são os consumidores nacionais que se encontram a “puxar” pela região?
HS –
O turismo tem contribuído inequivocamente para o aumento generalizado do consumo per capita no nosso país, sabendo-se que a Região de Turismo de Lisboa, na qual a Península de Setúbal se inclui, e da qual nós, CVRPS, somos membros, tem dado um contributo exponencial para o aumento do turismo em Portugal. Sendo a Grande Lisboa e a Península de Setúbal o epicentro do mercado nacional para nós, resulta óbvia a correlação entre este nosso desempenho e o afluxo de turistas à nossa região.

GC – O aumento do volume de vinho certificado na região era, igualmente, um objetivo a atingir? Era uma meta a atingir sem tempo definido?
HS –
O aumento da certificação é também um excelente barómetro do presente e do futuro duma região vinícola. É esse crescimento que nos tem permitido ir aumentando o nosso orçamento de promoção e, com isso, reforçar a notoriedade e a promoção da região aquém e além-fronteiras, o que, por sua vez, se traduz num crescimento das vendas e num reforço do nosso orçamento de promoção: é um ciclo virtuoso que tem nas empresas, na sua capacidade de investir, inovar e ganhar mercados a sua razão de ser.

GC – A região apresenta hoje um perfil exportador mais vincado face a algum tempo atrás?
HS –
Sim, sobretudo, na medida em que temos mais empresas a exportar e as que já eram iminentemente exportadoras o fazem também com maior significado.

GC – A base de exportação ainda é pequena? Há condições para a mesma ser reforçada?
HS –
Não é nada pequena, seja em termos nominais seja em percentual do que a região certifica/produz. Em vários mercados de exportação relevantes, a região também está no pódio ou à beira dele, excluindo desta equação os vinhos licorosos.

GC – O que é pode proporcionar a região aos canais de exportação à escala mundial?
HS –
Vinhos diferentes, vinhos com carácter, baseados em castas portuguesas e que, no nosso caso, também se diferenciam, mesmo em termos nacionais, pela predominância de duas castas que continuam a ser marcas da Península de Setúbal: o Castelão e o Moscatel de Setúbal.

GC – Esta dinâmica já não se baseia somente no prestígio dos vinhos generosos, onde, naturalmente, o Moscatel se destaca?
HS
Claramente, os vinhos tintos, tendo por base a casta Castelão, são a sólida base da nossa pirâmide. Os brancos e os rosados também têm vindo a ganhar expressão, no caso dos brancos, aliás, a região têm alguns verdadeiros clássicos, marcas que, nalguns casos, estão no mercado há mais de 30 anos e que continuam a ser “best sellers” entre os vinhos brancos nacionais.
Mas o Moscatel de Setúbal e o Moscatel Roxo de Setúbal serão sempre as jóias da região, fator singular de diferenciação e de reconhecimento onde quer que estejamos a estejamos a apresentar.

GC – O arranque de 2018 vem confirmar o que já havia sido a tónica dominante em 2017?
HS – 
Sim, 2016 já tinha sido um ano excecional a todos os níveis, o que faz com que 2017 e este começo de 2018, onde foi possível manter essa trajetória e continuar a crescer em volume e em valor, seja uma circunstância absolutamente notável para a região.

GC – A fasquia está agora mais alta? É possível continuar a dar seguimento a estes números que, por sua vez, se superam de forma consecutiva?
HS –
Sim, a fasquia está cada vez mais alta, pese embora, no rácio vinho produzido/vinho certificado, ainda tenhamos uma margem de crescimento de cerca de 30%. O desafio para a região é cada vez mais vender melhor, continuar a fazer crescer o valor e o preço médio dos vinhos deverão ser o principal objetivo nos próximos anos, mas o mercado dos vinhos é altamente competitivo e cada vez mais globalizado…

GC – Quais são as expectativas da CVRPS para o que resta do ano?
HS –
Alguns sinais de arrefecimento económico, sobretudo na União Europeia e em alguns dos principais mercados de exportação, poderão levar a algum abrandamento das vendas no segundo semestre. No entanto, fechámos o primeiro semestre com um crescimento de 15% face ao período homólogo de 2017. Acreditamos, por isso, que 2018 será mais um ano de crescimento em volume e, acima de tudo, em valor para a Península de Setúbal.

Este artigo foi publicado na edição n.º 51 da Grande Consumo.

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