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Consumo ilícito de cigarros continua a aumentar na Europa

Contrafação de cigarros duplica em Portugal

A Philip Morris International (PMI) publica anualmente um estudo, elaborado pela consultora KPMG, sobre o comércio ilícito de produtos de tabaco. A edição relativa a 2023, “Illicit cigarette consumption in Europe. Results for the calendar year 2023”, volta a mostrar uma tendência de crescimento do consumo ilícito de cigarros na União Europeia, alertando para as elevadas taxas de contrabando e contrafação de cigarros na região.

35,2 mil milhões de cigarros de origem ilícita foram consumidos no ano passado, representando 8,3% do consumo total, um aumento de 0,1 pontos percentuais  face a 2022, e perdas de 11,6 mil milhões de euros em receitas fiscais para os diversos Estados-membros.

 

Portugal

Em Portugal, o cenário repete-se, com o consumo ilícito de cigarros a crescer acima da média da União Europeia, com mais 0,9 pontos percentuais face ao ano anterior. No total, e apesar da diminuição do número total de cigarros consumidos em 2023 (menos 7%, caindo de 8,6 milhões de cigarros, para cerca de oito milhões), 3% dos cigarros consumidos no ano passado (240 milhões) tinha origem ilícita, traduzindo-se numa perda de 44 milhões de euros em receita fiscal (mais 13 milhões de euros que em 2022).

O estudo da KPMG mostra, ainda, que há em Portugal uma grande tendência de crescimento de cigarros falsificados. A contrafação valeu 60% do consumo ilegal, tendo duplicado relativamente ao ano anterior: passaram de 70 milhões para 140 milhões.

“A nossa indústria, como muitos outros grandes sectores a nível mundial, enfrenta a ameaça das redes de crime organizado e de práticas de mercado ilegais, da contrafação ao contrabando, passando pela comercialização das chamadas marcas brancas ilícitas, e que não só lesam os Estados e levam a perdas de receitas gigantescas, como colocam em causa a saúde pública e a segurança dos consumidores. Estas práticas são especialmente danosas para um sector industrial que, em Portugal, se posiciona como um dos principais exportadores”, comenta Marcelo Nico, diretor geral da Tabaqueira, filial portuguesa da Philip Morris International.

O responsável lembra que, “para a Tabaqueira, o combate ao comércio ilícito de tabaco tem sido uma prioridade de longa data e em estreita colaboração com as forças de segurança, nomeadamente a Guarda Nacional Republicana, com quem estabelecemos um protocolo de cooperação há vários anos, que inclui formação, doação de equipamentos e recursos, entre outras iniciativas. Apesar do sucesso de muitas operações de apreensão de produto ilegal, os resultados do estudo da KPMG mostram que, infelizmente, este fenómeno continua a ganhar força, com a sofisticação das práticas ilegais, o que exige uma ação ainda mais concertada entre os operadores, os Estados, as autoridades e outros decisores públicos”.

 

Práticas criminosas estão a evoluir

Os resultados do estudo anual de 2023 da KPMG sobre o consumo ilícito de cigarros revelam que os cigarros falsificados, produto de contrafação, continuam a ser uma das principais fontes do consumo ilícito na União Europeia, correspondendo a 12,7 mil milhões dos consumidos (36%), à medida que as redes criminosas visam cada vez mais mercados com impostos mais elevados e preços mais elevados.

Globalmente, em 2023, os Estados da União Europeia perderam cerca de 11,6 mil milhões de euros em receitas fiscais, um aumento face aos 11,3 mil milhões de euros registados em 2022.

França continua a liderar o ranking dos países com o maior consumo ilícito em toda a Europa, com 16,8 mil milhões de cigarros ilícitos e uma perda estimada de 7,3 mil milhões de euros em receitas fiscais, valendo praticamente metade (47,7%) do total dos cigarros de origem ilegal consumidos na União Europeia.

“Estamos perante uma enorme evolução dos grupos de crime organizado na Europa, que estão cada vez mais a localizar as suas instalações de produção ilegal junto aos países da Europa Ocidental. Este fenómeno é uma consequência direta de abordagens políticas fracassadas, que não fizeram o suficiente para conter o comércio ilícito e reduzir a prevalência do tabagismo, colocando consumidores, governos, empresas e a sociedade em risco”, refere Christos Harpantidis, vice-presidente sénior para os Assuntos Institucionais da PMI. “As autoridades responsáveis pela aplicação da lei têm desempenhado um papel fundamental no desmantelamento de redes criminosas que operam na produção clandestina de cigarros em toda a Europa, bem como nas operações de contrabando transfronteiriças. No entanto, se quisermos reduzir completamente o comércio ilícito na região, precisamos de uma abordagem holística que complemente sanções severas e uma aplicação forte da lei com campanhas de sensibilização e educação sobre o impacto do comércio ilícito na vida real, um ambiente fiscal e regulamentar previsível, em que os fumadores adultos não sejam levados para o mercado negro, e a constituição de parcerias público-privadas coordenadas e empenhadas”, acrescenta.

 

Profissionalização do crime organizado

De acordo com as entrevistas conduzidas pela KPMG junto de autoridades policiais, no âmbito da elaboração deste estudo, percebe-se que a profissionalização do crime organizado transnacional aumentou e que tem papel relevante na cadeia de fornecimento de cigarros ilícitos. Segundo essas mesmas fontes de informação, artigos de imprensa disponíveis e estimativas da PMI, há mais fábricas ilegais de cigarros a operar na Europa: só em 2023, os dados das autoridades policiais mostram que, pelo menos, 113 locais clandestinos de fabrico de cigarros, em 22 países europeus, foram desmantelados pelas autoridades regionais e locais.

O aumento contínuo do consumo de cigarros contrafeitos, pelo quarto ano consecutivo em toda a Europa, impulsionado principalmente pelo Reino Unido e pela Ucrânia, está agora associado ao aumento de todas as outras categorias de comércio ilícito. Combinado com a recuperação contínua dos volumes legais transfronteiriços, depois do fim das restrições às viagens relacionadas com a Covid em 2022, o consumo não-doméstico total nos 38 países europeus analisados pelo estudo também atingiu o nível mais alto de sempre (15,5%), o equivalente a mais de um cigarro em cada seis.

 

Quota de consumo ilícito em queda

Apesar deste cenário, a KPMG revelou que em 26 países europeus a quota de consumo ilícito era inferior a 10% do consumo total. Destes, 16 mercados, onde se inclui Portugal, tinham uma quota de consumo ilícito inferior a 5%. E em 25 dos 38 países europeus incluídos no estudo, a percentagem de consumo ilícito de cigarros manteve-se estável ou em declínio, por comparação com 2022.

“É encorajador ver uma diminuição do consumo ilícito em países como Itália, Polónia, Roménia e Espanha. Temos de continuar a trabalhar em conjunto com as entidades policiais e os governos para garantir que o comércio ilícito não se torna um problema ainda maior em toda a União Europeia”, afirma Massimo Andolina, presidente da região Europa da PMI. “O comércio ilícito prejudica os esforços para reduzir a prevalência do tabagismo: é mau para a saúde pública e para os consumidores e cria prejuízos financeiros para os governos e os operadores legais. Os reguladores devem fazer desta luta uma prioridade máxima, enquanto permitem que os produtos sem fumo estejam disponíveis e sejam acessíveis a todos os fumadores adultos que não abandonaram os cigarros”, conclui.

“Para um eficaz combate ao comércio ilícito, os governos devem ser rigorosos na aplicação da lei contra os criminosos que lucram com o mercado negro. Isso provou ser bem-sucedido face à tributação excessiva sobre bens de consumo, ou mesmo a sua proibição”, acrescenta Christos Harpantidis. “Com vista à eliminação do tabagismo, as políticas tradicionais de controlo do tabaco devem ser complementadas com abordagens inovadoras. Os governos devem reconhecer que a adoção de alternativas aos cigarros para os adultos que, de outra forma, continuariam a fumar reduzirá os danos relacionados com o tabagismo muito mais rapidamente do que as medidas existentes isoladas”.

 

Relatório da KPMG alargou-se a 38 países europeus

Pela primeira vez desde a sua publicação, em 2006, o estudo anual da KPMG alargou o seu âmbito e incorporou todos os países dos Balcãs. Agora, o estudo abrange 38 países: os 27 Estados-membros da União Europeia e também a Albânia, Bósnia-Herzegovina, Kosovo, Moldávia, Montenegro, Macedónia do Norte, Noruega, Sérvia, Suíça, Ucrânia e Reino Unido.

A região dos Balcãs tem apresentado uma menor presença de cigarros ilícitos por comparação com alguns dos países da Europa Ocidental, como França ou Reino Unido. Por outro lado, a Ucrânia continua a ser o segundo país europeu com o maior volume de cigarros ilícitos consumidos: 8,4 mil milhões.

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Por Bruno Farias

Diretor na revista Grande Consumo. Um eterno sonhador, um resiliente trabalhador. Pai do Afonso e do José.

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