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Administração do Grupo DIA reforça que pode ver-se forçada a declarar insolvência

Prejuízos ascendem a 144,4 milhões de euros

Se algum dos elementos requeridos para estabilizar a estrutura de capital e liquidez da companhia, no muito curto prazo, não sucederem no seu devido tempo, a situação poderá deteriorar-se rapidamente e a companhia poderá ver-se forçada a declarar insolvência e/ou iniciar o processo de liquidação“.

O alerta é deixado pela administração do Grupo DIA no comunicado referente aos resultados do primeiro trimestre de 2019, que confirma, tal como o grupo tinha indicado preliminarmente, no final de abril, um agudizar da situação financeira. Entre janeiro e março, as vendas tornaram a cair, os prejuízos líquidos acumularam até 144,4 milhões de euros e a dívida financeira líquida aumentou, totalizando, no final do trimestre, 1.702 milhões de euros, o que representa um aumento de 251 milhões de euros face ao final do exercício de 2018. O balanço consolidado conta com fundos próprios negativos de 308,5 milhões de euros, o que compara com os 99 milhões de euros negativos reportados a 31 de dezembro.

No primeiro trimestre, as vendas brutas sob insígnia caíram 14%, para os 2.028 milhões de euros. Excluindo o impacto das divisas, a queda foi de 2,3%. Em termos comparáveis, as vendas desceram 4,3%, refletindo uma tendência ainda mais negativa que a que o grupo vinha a apresentar. Em termos líquidos, as vendas diminuíram 7,2%, para os 1.665 milhões de euros, embora tenham aumentado 6,1% em moeda local.

O EBITDA ajustado foi de 12 milhões de euros, 85,8% menos que no mesmo período do ano anterior, “como resultado do impacto negativo nos lucros da descida das vendas, do volume incremental dos custos laborais, rendas e custos de abastecimento no período, assim como uma nova definição mais conservadora usada em 2019, a qual não exclui determinados custos“.

O grupo indica que os resultados espelham uma progressiva deterioração, que atribui à incerteza que rodeia a situação financeira da companhia e ao impacto que esta teve nos fornecedores. “A publicação das contas anuais da companhia, a 8 de fevereiro de 2019, mostrando um património líquido negativo e desencadeando uma ameaça de dissolução a curto prazo, juntamente com outros fatores, como vencimentos de dívida próximos e risco de refinanciamento, incerteza quanto ao resultado da, então, próxima Reunião Geral de Acionistas, levada a cabo a 20 de março de 2019, comentários das agências de rating e o ruído geral provocado pelas notícias, levaram a uma perceção pública negativa da companhia que, ampliada com fortes decisões de redução do risco tomadas pelas companhias de seguros comerciais, resultaram num endurecimento das condições dos fornecedores, que começaram a impactar negativamente a cadeia de abastecimento, conduzindo a um substancial incremento dos níveis de falta de produto nas nossas lojas e armazéns, o que, em última instância, se traduziu em menores vendas“, indica o grupo em comunicado.

A administração da DIA sublinha que o atual contexto dos resultados e a diminuição das vendas é “extremamente desafiante” para as operações e sustentabilidade da empresa, o que, combinado com a data limite próxima para resolver a situação do património negativo, já na próxima semana, a 20 de maio, e do vencimento do empréstimo sindicado, a 31 de maio, “expõe a companhia a uma frágil posição“.

A solução passará pela “eventual combinação, no curto prazo, da tomada de controlo da companhia pela LetterOne, após a finalização da OPA, cujo período de aceitação concluiu a 13 de maio de 2019; um acordo entre a LetterOne e os credores sobre o refinanciamento a longo prazo do empréstimo sindicado e a execução da ampliação de capital por 500 milhões de euros aprovada na última Reunião geral de Acionistas”, o que “deveria mitigar a incerteza existente, eliminar a inquietude dos fornecedores e dotar as bases necessárias para a bem-sucedida mudança comercial da companhia“.

Vendas caem 5,6% em Portugal

Em Portugal, as vendas brutas sob insígnia desceram 3,2%, para os 181 milhões de euros, enquanto que as vendas líquidas caíram 5,6%, para os 139 milhões de euros. “Este rendimento negativo está relacionado com o dado de -3,9% das vendas comparáveis e a contração do espaço comercial de venda em 1,4%“, diz o grupo. No primeiro trimestre, o número total de lojas em Portugal desceu de 532 para 528 e o número de franquias diminuiu de 309 para 299. O EBITDA ajustado contraiu 68,2%, para os 2,4 milhões de euros, o que reflete uma erosão das margens em 340 pontos base até 1,8%.

Em Espanha, as vendas brutas diminuíram 3,5%, para os 1.166 milhões de euros, enquanto que as vendas líquidas encolheram na mesma proporção. Uma vez que a área de venda manteve-se relativamente estável, este desempenho ficou a dever-se a uma má evolução das vendas comparáveis, que diminuíram 4,4%. La Plaza e Dia&Go aumentaram vendas, mas os outros formatos desceram em termos de volume, sobretudo as lojas operadas fora dos centros urbanos. O EBITDA ajustado desceu 73,8%, para os 14,7 milhões de euros, refletindo a erosão das margens em 400 pontos base até 1,5%. Nota positiva para as vendas brutas online, que aumentaram 10,2% e já representam 1,7% do total de vendas brutas em Espanha.

Na Argentina, as vendas brutas sob insígnia contraíram 45,9%, para os 304 milhões de euros, mas, considerando a moeda local, a descida foi de apenas 1,1%. As vendas líquidas caíram 18,3%, para os 236 milhões de euros, antes da aplicação da norma IAS 29, e 22,6% após a aplicação dessa norma. Finalmente, no Brasil, as vendas brutas sob insígnia sofreram uma queda de 6,4%, para os 378 milhões de euros, mas, excluindo o efeito da moeda, aumentaram 0,4%.

Por Carina Rodrigues

Responsável pela redacção da revista e site Grande Consumo.

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