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“A cereja no topo do bolo seria conquistar em Portugal o sucesso que temos obtido no estrangeiro”

Numa altura em que tanto se apela ao consumo do que é nosso, o consumidor português ainda não aprendeu a fazê-lo. É esta a “luta” da Nunex que, conquistado o mercado internacional, onde a sua qualidade é inequivocamente reconhecida e distinguida, quer replicar em Portugal esse mesmo sucesso e valorização. Em Viana do Castelo, são produzidas fraldas descartáveis que ganharam prémios internacionais pela sua qualidade e inovação. Distinções com as quais a Nunex não se contenta, apostada em fazer cada vez mais e melhor. Para tal, investiu fortemente e trouxe para Portugal a melhor tecnologia atualmente disponível no mercado. Em breve estarão disponíveis novos produtos fruto deste investimento, com os quais Marco Silva, diretor geral da empresa, espera de uma vez por todas conquistar o merecido reconhecimento por parte do consumidor português.

Grande Consumo – Como e quando nasceu a Nunex? O que motivou a criação de uma fábrica de fraldas descartáveis para crianças?
Marco Silva –
Embora idealizada e projetada anteriormente, a Nunex – Worldwide iniciou a sua atividade em 2012. Face à inexistência no mercado de uma marca de produção nacional e da estratégia de incrementar o potencial de “cross-selling” do grupo, que tem mais de 20 anos de experiência na área de produtos de higiene, decidiu-se pela criação de raiz de uma unidade de produção de fraldas descartáveis de produção nacional. A Nunex é, assim, a primeira e única empresa que produz fraldas 100% portuguesa, fornecendo produtos “private label”, para a grande distribuição, e produzindo as marcas Nunex (criança), Intimus (incontinência) e Lady + (higiene íntima feminina).

GC – Com que investimento inicial e capacidade de produção arrancou? Foi difícil esse arranque? Quais os principais obstáculos?
MS –
Arrancámos com um investimento que rondou os 10 milhões de euros e uma capacidade produtiva de 300 milhões de fraldas por ano. O arranque foi difícil, face à complexidade do processo, alta tecnologia envolvida e inexistência, em Portugal, de todos os “inputs” necessários ao desenvolvimento desta atividade (tecnologia, matérias-primas, know-how, mão-de-obra com experiência, etc.).
Por outro lado, a nossa aposta na investigação foi grande, queríamos uma fralda de qualidade comprovada e com performances superiores aos líderes de mercado, daí a demora na finalização do projeto. Só lançámos o produto no mercado quando todas as envolventes foram asseguradas.
Não é um mercado de fácil penetração. Há uma fidelização bastante elevada aos líderes e trata-se de um produto com processo de compra muito emocional, onde o poder da influência e do marketing é fundamental.

GC – O facto de estar integrada no grupo Ghost foi uma mais-valia e ajudou na divulgação da marca ao “trade”?
MS –
Sim, é uma vantagem integrar um grupo com experiência e credibilidade na área de higiene pessoal no mercado nacional e internacional. Também do ponto de vista competitivo é uma mais-valia. Em termos de eficiência logística, traduz-se sempre em sinergias de custos.

GC – Qual o posicionamento atual da empresa?
MS –
A Nunex é uma empresa inovadora que cria marcas de confiança para consumidores exigentes, produzindo produtos de higiene pessoal que garantam proteção e bem-estar.
O nosso posicionamento é manter a liderança no mercado nacional de “private label”, fortalecer a marca e assumir um lugar de destaque internacional como fornecedor global de produtos de higiene.
O foco é trabalhar sempre com os mais elevados padrões de qualidade, melhoria contínua dos processos e da competitividade e aposta constante na inovação.

GC – Quantas pessoas emprega a Nunex atualmente?
MS –
Até ao final do ano, a Nunex contará com 100 colaboradores.

GC – Qual o seu volume de negócios?
MS –
Em 2016, faturámos 14 milhões euros e o objetivo, para 2020, é de 50 milhões de euros.

GC – Que produtos são produzidos em Viana do Castelo? Há perspetivas para se vir a diversificar o portfólio? Com que produtos?
MS –
Neste momento, produz-se fraldas de criança e fraldas de adulto para incontinência. Ainda em 2017, vamos começar a produzir pensos higiénicos diários, protege slips, toalhitas para criança e adulto e, ainda, resguardos para camas. Em 2019, prevemos lançar uma gama de fralda cueca (pants) para adulto e criança e, ainda, uma gama de incontinência ligeira. Desta forma, fecharemos o ciclo de oferta nesta área de produtos de higiene, podendo alcançar a meta definida de nos tornarmos num fornecedor global.

GC – Qual a capacidade de produção atual? Há necessidade de se vir a aumentar essa capacidade?
MS –
Atualmente, temos uma capacidade instalada para produzir 300 milhões de fraldas de criança mais 100 milhões de fraldas de adulto.
Com o investimento de 17 milhões euros realizado em novas máquinas, a capacidade de produção, a partir do segundo semestre do corrente ano, será de mais 400 milhões de fraldas de criança, portanto 700 milhões no total, 500 milhões de pensos, 200 milhões de resguardos e 100 milhões de packs de toalhitas.

GC – Dessa produção, quanto é direcionado para exportação? A Nunex é uma empresa virada para o mercado nacional ou a aposta está na internacionalização?
MS –
Exportamos mais de 85% da nossa produção, sendo a exportação, sem dúvida, a nossa grande aposta. Exportamos para vários países, inclusivamente para os Estados Unidos da América, China e América Latina, sendo, no entanto, na Europa Ocidental (Espanha, França, Inglaterra) a nossa maior penetração. Estes mercados reconhecem a nossa qualidade e competitividade, dando-nos muitas vezes a sua preferência, situação que ocorre precisamente ao revés de Portugal, onde o mercado reconhece mais e melhor as marcas estrangeiras do que as nacionais. Temos que apostar em quem aposta em nós.
Contudo, não desistimos de tentar convencer o mercado nacional na nossa valia e conseguir servir os portugueses com produtos de qualidade igual, ou até mesmo superior, aos que habitualmente consomem, a preços mais competitivos.

GC – Quais os mercados para onde são exportados os produtos Nunex? Preveem entrar noutros destinos?
MS –
Exportamos para vários países. Para além dos já abordados, exportamos ainda para Angola, São Tomé e Príncipe, Marrocos, Moçambique, entre outros. Estamos a apostar forte nos Estados Unidos da América, Colômbia e Rússia.

GC – Há uma adaptação dos produtos aos mercados de destino?
MS –
A qualidade do nosso produto é a mais elevada para cada gama que comercializamos e essa é a exigência de todos os mercados.
Não há adaptação de produtos a mercados, mas sim de gamas, pois alguns países preferem uma gama standard, a um preço mais competitivo, e outros podem preferir uma gama mais premium, estando dispostos a pagar um preço adicional. Procuramos servir todas as necessidades.

GC – Que importância tem o fornecimento de “private label” na estratégia de exportação?
MS –
O “private label” ou marca branca tem assumido um crescimento constante na última década, continuando a seguir a tendência. Os grandes volumes estão aqui, logo esse é o caminho.
A exigência para produzir a marca de um grande retalhista internacional é enorme, daí a dificuldade de penetração, que está só ao nível de empresas extremamente bem organizadas e certificadas. E é aqui onde nós somos bons, eliminando bastante concorrência.

GC – De que argumentos se vale a Nunex para concorrer com as grandes marcas e multinacionais desta área de negócio?
MS –
Como já referimos, é muito difícil competir. Primeiro, porque o nosso país é pequeno em termos de escala, há escassez de matéria-prima nacional e o mercado não valoriza devidamente as marcas nacionais.
Depois, de facto, é um negócio de multinacionais com capital intensivo e com grande capacidade e dimensão.
Os nossos argumentos para contrariar estas adversidades são inovar sempre com produtos de qualidade superior aos dos nossos concorrentes, apostar nas mais modernas e avançadas tecnologias mundiais, focar na melhoria contínua, apostar na eficiência dos processos produtivos e no controlo de qualidade dos produtos finais, mão-de-obra especializada e prospeção comercial intensiva de todos os mercados.

GC – O consumidor conhece e reconhece a marca? O que está a ser feito para aumentar a sua notoriedade?
MS –
A nossa marca ainda não é reconhecida como queremos e é nisso que estamos empenhados agora. Nesta altura, estamos a fazer um “rebranding” e a redefinir a nossa estratégia de posicionamento e comunicação. Vamos aumentar a nossa presença no digital e já fechámos parcerias muito interessantes. Vêm aí novidades Nunex.

GC – Que importância teve o prémio recentemente recebido na Wabel?
MS –
Esta distinção significou o reconhecimento do empenho e espírito de sacrifício de todos, no desenvolvimento de novos produtos e no objetivo diário de fazer sempre mais e melhor. A Wabel reúne mais de 100 fornecedores e dezenas de compradores representados por decisores conceituados na área de marcas próprias, facto pelo qual ganhar este prémio em França, a concorrer com alguns dos maiores produtores da Europa neste sector, é ainda mais gratificante e prestigiante para nós.

GC – A tecnologia é fundamental neste negócio?
MS –
Sim, sem dúvida. A tecnologia utilizada na produção destes produtos é a mais sofisticada que existe a nível mundial. Para se perceber melhor a complexidade deste processo, podemos dar o exemplo da nova máquina de produção de fraldas de criança que comprámos recentemente. Só esta máquina custou sete milhões de euros e tem uma capacidade de produzir mil fraldas por minuto, ou seja, 16 fraldas por segundo. É uma velocidade tão elevada que é impossível visualizar as fraldas a passar. Tem um comprimento de 60 metros e tem dois andares, sendo abastecida com mais de 20 tipos de matérias-primas diferentes.
Adicionado a esta complexidade está o facto de todas as fraldas, sem exceção, serem analisadas por câmaras sofisticadas e scanners similares aos utilizados na tecnologia de TAC e ressonâncias magnéticas, que permitem verificar mais de 60 parâmetros e, assim, garantir que todas as fraldas que passam para dentro da embalagem estão perfeitas, caso contrário são rejeitadas automaticamente por circuito próprio.
É esta tecnologia que nos diferencia, pois há máquinas deste género que podem custar sete vezes menos, mas não asseguram a mesma garantia de qualidade nem eficiência. Preferimos investir mais, mas estar tranquilos e seguros da qualidade dos produtos que produzimos, pois a imagem é algo que demora a construir, mas é muito fácil de destruir. Não facilitamos.

GC – Qual vai ser o futuro destes produtos?
MS –
Tendencialmente, serão cada vez mais finos e absorventes, sem cair no exagero que algumas marcas já efetuaram e se viram forçadas a recuar.
Esta nova máquina que comprámos vai permitir produzir o produto que, no nosso entendimento, será a tendência dos próximos anos, um produto super fino, mas sem eliminar o “fluff” que confere propriedades fundamentais à performance e conforto do produto. Será uma fralda bastante absorvente e confortável, com uma tecnologia de produção em linha de uma capa interna super suave em 3D e que permitirá um conforto excecional ao bebé e uma maior secura da pele. É um produto fruto da nossa inovação e será lançado no segundo semestre de 2017.

GC – Como analisa o segmento de produtos onde estão inseridos em Portugal? As vendas têm aumentado? Quais os fatores determinantes para o consumidor? Que importância tem a marca e o preço?
MS –
Cada vez mais, o consumidor procura confiança, conforto e bons preços. O preço é sempre determinante. Mas, quando falamos da marca Nunex a competir com as marcas líderes, é sempre muito difícil e, nesta área de negócio, há marcas realmente muito fortes. Temos de ter sempre a mesma ou melhor qualidade, porque o cliente vai sempre assumir que é um produto de qualidade inferior, por não conhecer a marca.
Por outro lado, as marcas dos retalhistas são cada vez mais competitivas e de grande qualidade, sendo aqui a nossa grande aposta e fatia de mercado. O preço tem ganho, sem dúvida, cada vez mais protagonismo face à multiplicidade de oferta de qualidades semelhantes.

GC – O que seria um bom ano de 2017?
MS –
Um bom ano seria concluir, com sucesso, todos os investimentos que efetuámos, lançar todos os produtos que desenvolvemos e ocupar as novas capacidades produtivas instaladas. A cereja no topo do bolo seria conquistar em Portugal o sucesso que temos conquistado no estrangeiro.

Esta entrevista foi publicada na edição 43 da Grande Consumo.

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