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Um novo estudo internacional do Grupo Cegos, representado em Portugal pela Cegoc, mostra que, apesar dos avanços na sensibilização e nas políticas de diversidade e inclusão (D&I), a discriminação no local de trabalho continua generalizada e, nalguns casos, em crescimento.
Realizado entre abril e maio em dez países da Europa, Ásia e América Latina — incluindo Portugal —, o inquérito envolveu mais de 5.500 colaboradores e cerca de 450 gestores e diretores de recursos humanos (RH).
Discriminação continua a marcar a vida profissional
Os resultados são claros: dois em cada três colaboradores afirmam já ter sido alvo de discriminação ao longo da sua carreira (63% em Portugal). As principais razões apontadas globalmente incluem a aparência física (29%), a idade (27%) e o estatuto socioeconómico ou opinião política (21%).
Em Portugal, os números são ainda mais expressivos, com a aparência física (75%), a origem socioeconómica (70%), a nacionalidade (65%) e o local de residência (65%) a liderarem as formas mais comuns de discriminação.
No total, 84% dos colaboradores e 98% dos profissionais de RH disseram já ter testemunhado situações discriminatórias, valores que em Portugal sobem para 90% e 100%, respetivamente.
Impactos no ambiente de trabalho
A discriminação reflete-se diretamente no clima organizacional: um em cada três colaboradores acredita que estas práticas prejudicam o ambiente de trabalho, opinião partilhada por nove em cada dez profissionais de RH. Estes últimos destacam particularmente os efeitos nocivos de comentários sexistas (53%), comportamentos racistas (47%) e da importância excessiva dada à aparência física (45%).
O estudo evidencia ainda que a capacitação de gestores para liderar equipas diversificadas e inclusivas permanece insuficiente. Apenas 59% recebeu formação sobre preconceitos inconscientes (45% em Portugal, o valor mais baixo entre os dez países analisados).
Consequentemente, só 42% dos colaboradores reconhece os seus gestores como aliados contra a discriminação — em Portugal, a perceção cai para 29%.
Portugal: consciência elevada, práticas frágeis
Apesar de os conceitos de diversidade e inclusão serem amplamente compreendidos — 95% dos colaboradores portugueses afirma estar familiarizado com D&I —, a sua aplicação nas organizações revela-se frágil. Apenas 34% refere existir comunicação dedicada ao tema e só 33% identifica um envolvimento visível da liderança, ambos os valores mais baixos entre os países analisados.
“Os resultados revelam um paradoxo em Portugal: apesar de a diversidade e a inclusão serem amplamente reconhecidas, a sua implementação prática continua a enfrentar fragilidades estruturais. A ausência de políticas consistentes, a fraca integração nos processos de gestão e a falta de formação de gestores traduzem-se numa discrepância entre intenções e práticas”, alerta Gonçalo Salis de Amaral, head of people & culture consulting da Cegoc.
D&I como fator de competitividade
O estudo sublinha que as políticas de D&I, quando bem implementadas, são um poderoso fator de inovação, atratividade e competitividade, reforçando a coesão das equipas e a capacidade de resposta das organizações aos desafios futuros.
Segundo a Cegoc, a liderança desempenha aqui um papel crucial, deixando de ser apenas transmissora de políticas para se assumir como aliada ativa e visível, traduzindo valores em comportamentos quotidianos que promovam ambientes de trabalho mais inclusivos.