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Um ano de guerra: preço dos alimentos em ascensão contínua, mesmo com o índice da inflação a descer

Foto Shutterstock

A DECO PROTESTE, a maior organização portuguesa de defesa do consumidor, fez as contas a quanto subiu o preço dos alimentos desde o início da guerra. Em fevereiro de 2022, um cabaz de bens alimentares custava 184 euros. Embora se comecem já a verificar ligeiras descidas na taxa de inflação, o preço dos bens alimentares continua em rota ascendente.

A 23 de fevereiro de 2022, um dia antes da guerra na Ucrânia ter início, um cabaz com 63 alimentos essenciais custava 183,63 euros. Quase um ano depois, a 16 de fevereiro de 2023, o mesmo cabaz custa 228,66, ou seja, mais 45,03 euros (mais 24,52%). Este é o valor mais elevado desde que a DECO PROTESTE começou a monitorizar os preços do cabaz alimentar, a 5 de janeiro do ano passado.

Evolução dos preços nos últimos 12 meses

Ir ao talho e comprar carne custava, a 23 de fevereiro de 2022, 32,24 euros; uma seleção de alguns produtos congelados ficava em 13,85 euros; as frutas e legumes essenciais para uma família custavam 23,60 euros; os lacticínios custavam 11,48 euros; as mercearias representavam uma despesa de 42,15 euros e o peixe custava 60,31 euros. No entanto, no último ano, todos estes produtos ficaram mais caros.

O peixe e os lacticínios são as categorias alimentares com os maiores aumentos percentuais, entre 23 de fevereiro de 2022 e 15 de fevereiro de 2023. Só o peixe pode agora pesar 76,59 euros na fatura total do supermercado, enquanto os lacticínios representam uma despesa de 14,61 euros num cabaz de alimentos essenciais.

Já numa análise mais detalhada aos produtos cujos preços mais aumentaram ao longo do último ano, a DECO PROTESTE revela que a polpa de tomate, o arroz carolino e o carapau foram aqueles que mais viram o seu preço subir. No top dos que mais aumentaram encontram-se, ainda, a couve-coração, a alface frisada, a pescada fresca, o açúcar branco, o azeite virgem extra, a cebola e a cenoura.

Carne: aumentos acima de 20% na maioria dos produtos analisados

Comprar um cabaz com diferentes variedades de carne pode agora custar 39,60 euros, um aumento de 22,81% face há um ano. Na véspera do início da guerra na Ucrânia, os mesmos produtos custavam, em média, 32,25 euros.

Em sete das variedades de carne incluídas no cabaz alimentar da DECO PROTESTE, cinco registaram aumentos acima dos 20%. A análise aos preços registados no último ano mostra que o custo total dos produtos desta categoria sofreu um aumento abrupto entre o início de março e meados de maio de 2022, logo depois do início da guerra, estabilizando depois até ao final de julho. Desde então, a tendência tem sido de subida contínua, com a categoria a registar o seu preço mais elevado a 18 de janeiro deste ano: 39,62 euros.

O bife de peru, as costeletas de porco e o frango inteiro são os três produtos que mais viram o seu preço subir, custando agora 7,86 euros por quilo, 5,67 euros por quilo e 2,84 euros por quilo, respetivamente.

 

Congelados com subida de mais de 14%

Já entre douradinhos de peixe, medalhões de pescada e ervilhas ultracongeladas, o custo pode ser agora de 15,73 euros, mais 1,88 euros do que há um ano. Nesta categoria, os douradinhos foram o produto que mais viu o seu preço aumentar (mais 28,18% face a 23 de fevereiro de 2022), custando agora 6,10 euros por embalagem.

 

Frutas e legumes: cesta típica já custa mais de 29 euros

Uma cesta típica com 14 frutas e legumes representava, a 23 de fevereiro de 2022, uma despesa de 23,60 euros. E se entre março e o final de abril do ano passado os aumentos nesta categoria foram, quase todas as semanas, tímidos (cerca de 8%), no início de 2023, as frutas e legumes ainda não pararam de aumentar. O valor mais alto foi atingido esta semana, a 15 de fevereiro, com o custo total da cesta de compras desta categoria a subir para 29,43 euros, mais 24,67% (mais 5,82 euros) do que há um ano.

No período em análise, a couve-coração e a alface foram os legumes que mais aumentaram: os preços subiram 66,59% e 64,25%, respetivamente. Já nas frutas, os maiores incrementos registaram-se na laranja, que subiu mais de 34%, e na banana, que custa agora mais 25% do que há um ano.

Lacticínios: em sete produtos, quatro aumentaram mais de 28%

Antes da guerra começar, um litro de leite meio-gordo custava 68 cêntimos. Um ano depois, custa quase um euro (97 cêntimos), uma subida de 43%. Seis ovos, por sua vez, custam agora 1,62 euros. A 23 de fevereiro do ano passado custavam 1,20 euros.

De acordo com a análise da DECO PROTESTE, os lacticínios aumentaram 27,34% no último ano. Nesta categoria, os preços começaram a subir, sobretudo, a partir do início de abril de 2022. Porém, foi a partir de 12 de outubro de 2022 que o aumento do custo total destes produtos foi mais acentuado. Já a 1 de fevereiro deste ano foi atingido o valor mais elevado da categoria, desde que a guerra começou: 14,82 euros.

Mercearias 22% mais caras do que há um ano

Nunca, durante o período em análise, as mercearias estiveram tão caras como agora. A 15 de fevereiro deste ano, esta categoria alimentar atingiu o valor mais alto do último ano: 52,70 euros, ou seja, mais 25,03% (mais 10,55 euros) do que há um ano.

A polpa de tomate, o arroz carolino e o açúcar branco formam o pódio dos produtos da categoria cujo preço mais aumentou desde que a guerra começou. No caso da polpa de tomate, a subida é de mais de 61%, no arroz carolino já chegou aos 59% e no açúcar branco atingiu os 49%.

 

Peixe já custa um terço do preço total do cabaz

O peixe é uma das categorias cuja subida foi mais acentuada, em termos percentuais, desde que a guerra começou. De forma global, a categoria já registou um aumento de 26,99%, ou seja, de 16,28 euros. Comprar um quilo de salmão, pescada, carapau, peixe-espada-preto, robalo, dourada, perca e bacalhau pode agora custar 76,59 euros.

Na pescada e no carapau, as subidas são acima de 63% e um quilo destes produtos pode custar 9,83 euros e 5,42 euros, respetivamente. Já o salmão aumentou 32,42% e custa agora 13,75 euros por quilo.

Preços dos alimentos não acompanham descida da taxa de inflação

No início da guerra na Ucrânia, sucederam-se vários acontecimentos em cadeia que podem ter contribuído para os preços que agora vemos nas prateleiras dos supermercados. A Ucrânia e a Rússia eram considerados os celeiros da União Europeia e era de lá que era proveniente grande parte dos cereais consumidos na região. Com as exportações de cereais destes dois países interrompidas, os mercados reagiram com preocupação.

Além disso, nas semanas que se seguiram, o impacto da guerra começou a refletir-se também nos preços da energia. A limitação na oferta de matérias-primas e o aumento dos custos com o gás natural, a eletricidade e os combustíveis, necessários a toda a cadeia de produção agroalimentar, traduziram-se num incremento dos preços nos mercados internacionais e, consequentemente, nos preços ao consumidor.

Estes aumentos consecutivos contribuíram para a subida da taxa de inflação em Portugal e no resto da zona euro. No entanto, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), há já três meses que se registam ligeiras descidas na taxa de inflação, com esta a atingir em janeiro de 2023 uma percentagem de 8,4%, depois de um pico de 10,6% registado em outubro de 2022.

Esta quebra, contudo, tarda em chegar aos preços dos alimentos, que, como revelam os dados da DECO PROTESTE, continuaram em rota ascendente nas primeiras semanas de 2023. Segundo o relatório de índice de preços no consumidor do INE, mais de metade (4,5%) dos 8,4% de taxa de inflação registada em janeiro deste ano, em Portugal, é consequência da subida dos preços da categoria produtos alimentares e bebidas não alcoólicas.

“A DECO PROTESTE pede, por isso, maior transparência na cadeia de abastecimento para que os consumidores entendam qual a justificação para o aumento dos preços de determinados produtos alimentares. A organização de defesa do consumidor defende, ainda, que o Governo deve adotar um papel mais ativo no acompanhamento da evolução dos preços da alimentação, seja em termos legislativos, seja através da ASAE, para exigir maior transparência quer à produção agroalimentar quer ao sector da distribuição”, indica o comunicado.

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