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Um novo relatório da Changing Markets Foundation e da Mighty Earth lança um alerta sobre a falta de ação dos maiores grupos retalhistas mundiais na luta contra as alterações climáticas.
O estudo revela que os 20 maiores retalhistas alimentares globais, entre os quais nomes como Walmart, Carrefour, Lidl, Tesco, Ahold Delhaize, Rewe e Mercadona, estão a falhar gravemente na redução das emissões de metano associadas às suas cadeias de fornecimento de carne e lacticínios.
De acordo com os dados, nenhum destes retalhistas definiu metas concretas de redução de metano nem reporta publicamente essas emissões, apesar de representarem, em média, um terço do total das emissões da distribuição alimentar.
Resultados muito abaixo das expectativas
O estudo avaliou os retalhistas com base em 18 indicadores através do novo Methane Action Tracker e os resultados foram preocupantes: 19 em 20 obtiveram menos de 50% da pontuação total possível. Apenas a Tesco ultrapassou o limiar, com 51 pontos em 100.
A pontuação média global situou-se nos 20 em 100, refletindo “uma falta gritante de ação” por parte de empresas que lideram o sistema alimentar global.
As chamadas emissões de Escopo 3, aquelas geradas ao longo da cadeia de abastecimento, representam mais de 90% da pegada de carbono dos retalhistas europeus. No entanto, apenas seis empresas entre as avaliadas reportam atualmente estes dados. Nos Estados Unidos, a Costco é a única a divulgar este tipo de emissões.
Metano é ignorado
O metano é um gás com efeito de estufa 80 vezes mais potente que o CO₂ a curto prazo, sendo responsável por cerca de 25% do aquecimento global já registado. Ao contrário do CO₂, o metano permanece menos tempo na atmosfera, pelo que a sua redução rápida pode ter efeitos imediatos no controlo da temperatura global.
“Os supermercados estão a ignorar o problema de metano escondido nos corredores da carne e dos lacticínios e arriscam-se a perder a confiança dos consumidores”, alerta Gemma Hoskins, responsável global na Mighty Earth. “Trata-se de uma bomba-relógio climática e os retalhistas estão em posição única para pressionar mudanças na produção agrícola”.
Mudança para proteínas vegetais é promissora, mas pouco concretizada
Entre os indicadores analisados está a transição para proteínas vegetais. Segundo o relatório, se apenas seis grandes retalhistas realizassem uma mudança de 50% para proteínas de origem vegetal, isso teria um impacto equivalente a retirar 25 milhões de automóveis das estradas europeias.
Apesar disso, apenas Tesco, Carrefour, Schwarz Group (Lidl) e Ahold Delhaize definiram objetivos para aumentar a venda de alternativas vegetais. Grupos como Casino, Costco, Kroger e Migros mencionam o tema, mas sem metas mensuráveis, indica o estudo.
A Mighty Earth e a Changing Markets Foundation apelam à definição de metas alinhadas com o Global Methane Pledge, que preconiza uma redução de 30% das emissões de metano até 2030. A meta da Organização das Nações Unidas, ainda mais ambiciosa, aponta para cortes de 40% a 45% no mesmo horizonte temporal, para limitar o aquecimento global a 1,5 °C. “Cortar o metano nesta década é o nosso travão de emergência para evitar o colapso climático”, alerta Maddy Haughton-Boakes, da Changing Markets. “Mas os retalhistas estão a falhar redondamente”.
Para uma análise aprofundada sobre a crescente tendência de consumo de alimentos de base vegetal e o seu impacto no mercado, sugerimos a leitura do artigo “A revolução (alimentar) é verde?”, publicado na edição nº 91 da Grande Consumo, que explora as mudanças nos hábitos alimentares dos portugueses e como retalhistas e fabricantes estão a adaptar os seus portefólios a esta nova realidade.