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Poderá o porco sofrer com o coronavírus?

preço do porco
Pedro Matos, consultor

Os negócios, como a vida, são muito efémeros. O que hoje é uma realidade insofismável amanhã pode ser completamente discutível. As variáveis são inúmeras e ninguém controla tudo.

 

Como podemos ver pelo quadro acima, o porco vivo, em Lérida, após uma descida no início do ano, devido aos feriados de final de ano (Natal e Ano Novo), voltou a subir nas últimas semanas em Espanha.

Apesar dos recentes acordos comerciais estabelecidos com os EUA (onde a China concordou em taxar menos as importações da carne de porco oriundas dos EUA) e com as compras ao Brasil, a China terá que voltar a comprar carne na União Europeia. Não só pela quantidade, mas também pela qualidade e segurança alimentar.

E isto poderá dizer-nos que se perspetiva um ano de 2020 em alta. É verdade que os importadores chineses não estarão dispostos a pagar o mesmo que em 2019 pelo porco, mas que terão necessidade de comprar, terão! E quando a procura é maior que oferta… os porcos são menos e mais magros!

É certo que a PSA (peste suína africana) no sudeste asiático despoletou esta situação. É certo que há já provas que a PSA está à beira da Europa de Leste (Polónia, Ucrânia). Mas esta variável está, mais ou menos, controlada. No entanto, surge-nos agora outra que pode alterar todo este raciocínio: o coronavírus.

 

 

Pelo mapa acima (26/2/2020; 15h53 ET), vemos que a situação poderá ser muito mais grave do que as autoridades chinesas nos contam. E que o vírus se está a espalhar muito rapidamente por várias latitudes no mundo. Já chegou à Europa, ao continente americano, à Oceânia.

Se, por um lado, não sabemos toda a dimensão da tragédia (estará a China a passar a informação total?), por outro, creio agora que somente a China não chega para tomar todas as medidas necessárias para conter a propagação do vírus. Só uma ação concertada a nível mundial poderá efetivamente debelar esta situação.

Segundo a Business Insider, a China lançou a maior quarentena da história da humanidade: 50 milhões de pessoas em 16 cidades! Mas as quarentenas estão longe de ser infalíveis (como se tem visto), pelo que o risco de propagação mundial é real.

E as quarentenas chegaram à Europa. Estão a duas horas de Portugal! E tudo isto leva a uma preocupação maior, afinal ,uma coisa é o vírus a 9.000 quilómetros outra é a 1.000 quilómetros. E como estará Portugal preparado para isto? Calculo que nem social nem economicamente tenhamos os mínimos preparativos para combater o que se adivinha.

Sabemos, hoje, que o período de incubação do vírus é de 14 dias, pelo que o pico de casos de contaminação está ainda para chegar. Estima-se que, apesar das medidas de contenção aplicadas e nível mundial, apenas em março/abril se saiba realmente a dimensão do coronavírus. Veremos, pois, o que está a chegar.

 

E que impacto pode ter esta questão no negócio do porco a nível mundial?

Pensemos que muitos serviços públicos, escolas, empresas estão já fechados na China. Vejamos o exemplo das lojas da Apple, que estão encerradas até novas ordens. Atentemos nos aeroportos encerrados, viagens canceladas e muitas limitações à circulação de passageiros em território chinês. Ora, se há limitação de circulação de pessoas, automaticamente haverá também de mercadorias.

Os portos marítimos ainda não estão fechados, mas é uma hipótese a considerar. Os contentores acumulam-se nos portos. Os custos aumentam. O consumo diminui, pois a carne não chega a todos os consumidores. Todas estas condicionantes a jusante terão implicações graves a montante, principalmente na Europa, que está a produzir porcos para a China, bem acima das suas necessidades reais. O que faz todo o sentido, pois os chineses mantêm a sua posição de compradores e têm deficit da sua principal fonte de proteína animal.

Mas se os portos fecham e os chineses cancelam as suas encomendas, a Europa fica atolada de porco. E a oferta facilmente ultrapassará a procura. Os preços, invariavelmente, cairão e os stocks pesarão e muito nos ativos das empresas, que se verão obrigadas e diminuir ritmo de matança e obrigatoriamente o produto congelado nas suas câmaras frigoríficas, seja a que preço for.

Relembro que já há situações dramáticas no país vizinho (e que, ou sim ou sim, nos chegarão):

. contentores que não são despejados no destino;

. pagamentos que não se fazem;

. contentores que não voltam (gravíssimo problema de supply chain);

. arcas frigoríficas cheias na origem;

. produção de porcos não para;

. quebra de relação comercial com parceiros no mercado interno por aumento de preços;

. necessidade do mesmo é agora premente.

Como resolver estes factos acima?

Não sendo mágico, nem querendo ser o arauto da desgraça, é bom que as empresas portuguesas tenham um plano B, pois a situação acima descrita é real. No final de março/abril veremos.

Para finalizar, sabemos que o impacto estimado na economia global é de 33.000 milhões de euros de prejuízos. E o porco será seguramente um dos negócios afetados, mesmo sem sofrer do coronavírus.

 

Pedro Matos, diretor comercial da Primor

*o presente artigo reflete a posição individual do seu autor

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