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O renascimento da cerveja europeia

A Europa, berço da cerveja moderna, é casa de cerca de 80 estilos e 50 mil marcas de cerveja. Um imenso mercado que se difunde numa infinidade de estilos, sabores e inovações que, ainda hoje, continuam a evoluir. Os indícios de um renascimento para a paisagem cervejeira europeia são inegáveis. O aumento da microcervejaria, a proliferação de inovações em cervejas com baixo teor alcoólico e sem álcool e a maior diversificação de estilos e sabores são apenas algumas das tendências que se vão destacar nos próximos anos.

São 8.500 as cervejeiras as que estão localizadas na Europa, continente que produz mais de 40 mil milhões de litros de cerveja por ano. É o segundo maior produtor do mundo, depois da China, com culturas tradicionais de cerveja bem fortes, como a belga, a alemã e a checa.

Mas enquanto a tradição é importante para o sector, também é o a inovação e a indústria está a evoluir rapidamente. “Uma grande tendência nos países maduros produtores de cerveja é que os consumidores estão à procura de mais variações, diferentes sabores e aromas específicos“, defende Jan de Grave, diretor de comunicação da The Brewers of Europe, o organismo que congrega as cervejeiras europeias e que realizou, recentemente, o seu fórum em Bruxelas. “O aumento no consumo de cervejas especiais foi observado em toda a Europa por fabricantes de cerveja e associações nacionais, no último inquérito da União Europeia. A proposta de valor para os consumidores dessa diversidade também está a aumentar. A crescente variedade de estilos de cerveja inclui um número crescente de versões com baixo teor alcoólico e sem álcool. A cerveja também é única entre as principais categorias de bebidas alcoólicas pela sua variedade de qualidades alcoólicas. Dentro do rico espetro de escolha que o sector oferece aos consumidores, o mercado de cervejas sem álcool e com baixo teor alcoólico dobrou de 2000 a 2015. Cervejas com menos de 3% representam agora cerca de 6% do mercado europeu de cerveja, chegando a 14% em alguns países”.

Cerveja artesanal
A categoria de cerveja artesanal europeia é, às vezes, ofuscada pelo sucesso das cervejas artesanais nos Estados Unidos da América. Mas, segundo Jan de Grave, desenvolvimento similares estão a ocorrer na Europa. “A microcervejaria está mais popular e as pessoas querem essas cervejas. O volume não está a crescer da mesma forma, por isso, atualmente, o ‘bolo’ tem que ser dividido entre mais partes”.

Mas quando se trata deste tipo de negócio, maior nem sempre é melhor e a maximização do lucro nem sempre é o objetivo final. “Se tem uma empresa de capital aberto ou uma grande empresa com pessoas e acionistas, a única forma de gerir o negócio é maximizar os lucros“, afirma Sam Holloway, que se especializa em estudar o negócio de cervejas artesanais. “Mas os cervejeiros artesanais transferem parte da riqueza que poderia ser lucro para melhores benefícios para os funcionários, melhores salários e reinvestem em salas de degustação para uma melhor experiência para os consumidores. Assim, o artesanal não necessariamente maximiza as economias de escala, mas encontra a escala apropriada dadas as suas ambições”.

O cenário da cerveja artesanal mostrou que ser pequeno pode ser muito mais adequado ao mercado atual. Os consumidores valorizam os produtos locais e querem apoiar as empresas locais. Afinal, hoje, são os consumidores que estão a impulsionar o mercado, não as empresas. Os fabricantes de cerveja de todas as formas e dimensão precisam de responder a isso. “Julgo que o mais desafiador para as cervejeiras é que os consumidores estão a ditar as condições de mercado mais do que as empresas”, acrescenta Sam Holloway. “Tradicionalmente, as empresas competiam umas com as outras, havia poucas escolhas, o consumidor apenas consumia o que estava na frente dele. Agora, os consumidores estão a impulsionar o cálculo de decisão das empresas e as empresas estão a ter que responder e isso é realmente difícil”.

Propósito
Apesar da forte herança cultural, os fabricantes de cerveja vão precisar de se concentrar cada vez mais nas principais tendências valorizadas pelos Millennials, a fim de obter sucesso contínuo, diz o CEO da Carlsberg, Cees Hart. “Ter muito orgulho no nosso passado não significa que temos um grande futuro. O que nos trouxe até aqui não nos levará ao futuro”. Em vez disso, o sector terá que se concentrar em três principais tendências particularmente valorizadas pelos Millennials para ter sucesso: propósito, saúde e sustentabilidade.

Tradicionalmente, a Carlsberg aplicou o seu “triângulo dourado” de volume, lucro operacional e margens de crescimento ao seu negócio, equilibrando todas as decisões nesses indicadores. Mas são os três novos elementos chave que vão realmente definir o futuro da categoria. Os Millennials procuram marcas e empresas que tenham um propósito e valores claros e querem trabalhar para empresas que tenham uma direção clara, sublinha Cees Hart. “Os Millennials pedem um propósito: isso é muito diferente do passado. Há 30 anos ninguém estava a pedir um propósito, mas os Millennials articulam muito bem o que querem de uma empresa. Penso que, para nós, é muito importante nos envolvermos com esta geração, entendê-los e garantir que as nossas empresas tenham um propósito”.

Naturalidade
A indústria precisa de enfatizar a naturalidade dos ingredientes da cerveja para atrair os consumidores de hoje, reforça o CEO da AB InBev, Carlos Brito. Fabricada a partir de quatro materiais básicos – lúpulo, cevada (ou outros cereais), levedura e água -, a cerveja pode ser geralmente considerada um produto de “rótulo limpo”, livre do açúcar adicionado, aditivos, sabores ou outros ingredientes adicionais encontrados noutras categorias de bebidas.

A atração do “natural” tem vindo a ganhar espaço em toda a indústria de alimentos e bebidas, impulsionada pelo aumento do foco na saúde e bem-estar, com os consumidores a afastarem-se dos ingredientes artificiais e a procurar produtos com listas de ingredientes reconhecíveis.

Um dos principais desafios para a cerveja sempre foi a sua imagem altamente calórica, mas a simples lista de ingredientes significa que tem o potencial de se posicionar como um produto natural. “Uma das principais tendências – e eu penso que a cerveja tem um grande papel a desempenhar – é o natural“, defende Carlos Brito. “Muitos consumidores querem produtos naturais e cerveja é só ingredientes naturais e um processo natural. Temos que jogar mais essa cartada”.

Este artigo foi publicado na edição n.º 51 da Grande Consumo.

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