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O gigante (quase) adormecido

Um hipermercado nunca fecha as portas. Pelo menos, para todos aqueles que asseguram o seu correto funcionamento. As tarefas a desempenhar no período médio de oito horas em que uma grande superfície comercial está fechada ao público asseguram que tudo corre bem durante o dia, ao permitir a preparação de grande parte das operações de reposição e manutenção a executar. 400 colaboradores, divididos em quatro turnos, asseguram este importante trabalho no Continente de Cascais. A Grande Consumo acompanhou parte da operação logística noturna desta loja.

4:30 da manhã. Já parecia dia dentro do Continente de Cascais. Pessoas, caixas, empilhadores na zona exterior, massa a acabar de ser amassada, fornos ligados à espera de entrar em funções. Apenas a destoar a ausência de clientes e um estranho silêncio, próprio de quem executa tarefas que têm, necessariamente, de ser bem cumpridas.

Os frescos ocupam uma parte importante da logística, assim como nas vendas da loja, com o peixe oriundo de várias lotas à escala nacional a dar vida ao gelo entretanto picado e depositado na banca limpa e despida. Salmão, robalo, douradas, entre outros, vão dando cor ao gelo branco. As operadores da peixaria trabalham com afinco, a hora vai evoluindo e há quem vá às 8h30, hora de abertura da loja, comprar peixe, e não só, à loja de Cascais. Compromisso de frescura com os clientes, uma mensagem transmitida pelos colaboradores a quem aqui se dirige, onde não faltam, também, clientes habituais. “Acima de tudo é um compromisso com os nossos clientes, garantir a frescura diária do peixe. Manter esta banca bonita é uma responsabilidade, uma forma de confiarem no nosso trabalho e na loja. É essencial dar muita formação, estar muito presente e incutir isso nas colegas. Faz-nos sentir bem, abrir as portas e ver os clientes a entrar. Agrada-me bastante ver a reação dos clientes. Eu própria falo com eles de modo a poder ver as necessidades, o que podemos melhorar e o retorno é bom. A apresentação e a diversidade, além da qualidade e preço”, considera Tânia Cruz, responsável pela secção peixaria do Continente de Cascais.

Organização é, portanto, a palavra de ordem para toda a operação, neste e noutros negócios homólogos, com a loja a organizar-se, diariamente, assim que as portas fecham. No caso do Continente de Cascais, às 23 ou às 24 horas, mediante a altura do ano, com todo um enorme processo de reposição, manutenção e receção de bens perecíveis, entre outros, pela noite fora. “A loja organiza-se todos os dias e começa pela noite. O primeiro processo inicia logo quando o último cliente sai. As primeiras etapas daquilo que pode ser a abertura do dia seguinte começam, precisamente, ao fecho de loja. Temos tarefas que os últimos colaboradores a sair já começaram a desenvolver, para que os colaboradores que entram a meio da noite continuem e possibilitem o resultado final, na abertura às 8h30 da manhã”, explica João Nogueira Marques, diretor de loja Continente de Cascais.

Dos 400 colaboradores que ali trabalham, durante a noite, em média, encontram-se 20 a 30 pessoas. Com o raiar da aurora, pelas 4 ou 5 horas da manhã a trazer consigo outro turno complementar à abertura desta loja. “Estamos sempre a trabalhar em turno. É fundamental durante a noite existir trabalho, para que de manhã se possa dar continuidade”, acrescenta.

Os frescos, pela sua importância no ticket diário e nos hábitos de consumo dos portugueses, são a secção que possui uma operação mais específica. “É o coração de um supermercado, faz toda a diferença. Temos processos noturnos e diários que fazem com que sejam diferentes de outras áreas”, reforça João Nogueira Marques.

O que faz com que, em muitos casos, o Continente opte por um circuito curto de abastecimento, de modo a assegurar a tão ansiada frescura a baixos preços, logo sem o agravamento, no produto e no custo, de uma longa viagem, mesmo que em temperatura controlada, desde uma central de abastecimento, das várias que a Sonae detém à escala nacional. Opção que, no caso de Estévão Raposo, da Hortalmarguinho, produtor de Almargem do Bispo, permite entregar de forma regular alface lisa, roxa e frisada, couve lombarda, couve coração, grelo nabo, entre outros produtos hortícolas, que viajam desde esta localidade do concelho de Sintra até Cascais. Bem cedo pela manhã, são cerca de “sete e picos”. “É uma parceria importante, já tem 25 anos. Sempre correu bem, nunca houve chatices e os contratos foram sempre cumpridos, é um apoio muito importante para a empresa. Planto os produtos relacionados com os contratos”, explica. E quanto ao facto de ter a sua cara num cartaz na loja? “Tem a sua graça!”, comenta com um rasgado sorriso nos lábios.

Uma realidade que se estende a outras lojas Continente, como explica Ondina Afonso, presidente do Clube de Produtores Continente. “A rede de mais de 250 lojas Continente permite, de facto, ter uma oferta diferenciadora de produtos locais, que só podem ser encontrados nas nossas lojas, ao escoar praticamente o stock de alguns produtores, o que faz toda a diferença, e os nossos clientes são presenteados com aromas e sabores fantásticos. Estamos a falar não só na charcutaria, nas frutas e legumes, na entrega de alfaces frescas e muita fruta fresca colhida do pomar e entrega nas nossas lojas pela manhã. É uma mais-valia que o Continente tem a nível nacional”.

A hora vai evoluindo, já se ouviu o sinal sonoro a avisar os colaboradores de que faltam apenas 30 minutos para a loja abrir. Grande parte do trabalho já se encontra feito, faltam apenas pormenores e terminar a operação de limpeza. Pelo meio, e porque era quarta-feira, ainda houve tempo para entregar alguns bens essenciais – arroz, cereais, azeite, produtos de higiene, bolachas, iogurtes e outros produtos lácteos – ao Centro Social e Paroquial de São Pedro e São João do Estoril. Um parceria com a Missão Continente e que faz com que, uma vez por semana, este centro se dirija à loja de Cascais para fazer esta recolha que permite apoiar 330 famílias.

Parte invisível do trabalho noturno de um hipermercado. Deste e de outros. Uma rotina repetida diariamente, alternando protagonistas e necessidades. São 8h30. Ouve-se o sinal sonoro. Os primeiros clientes entram. Pelas 23 horas irá começar tudo de novo. Todos os dias.

Este artigo foi publicado na edição 46 da Grande Consumo, já disponível para consulta online e a chegar, muito em breve, na sua versão em papel.

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