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“O futuro da NVG passará pelo tissue e este passa por continuarmos a crescer em todos os canais”

É uma das empresas portuguesas que mais exporta e com maior valor acrescentado nacional. Controlada pelo empresário Pedro Queiroz Pereira, cujo avô materno foi um dos pioneiros da indústria de pasta de papel em Portugal, a The Navigator Company está de baterias apontadas ao sector do tissue, que entende como uma das avenidas futuras para o seu crescimento. No segundo semestre deste ano, inaugura uma nova unidade de produção em Cacia, que lhe vai permitir duplicar a atual capacidade instalada. Com as vendas desta área de negócio em crescimento, em cinco anos, construiu já uma sólida quota de mercado em Portugal e Espanha, mas ambiciona muito mais. Conseguir a confiança de novos clientes e mercados é o grande objetivo, como nos conta Nuno Anjo e Silva, diretor comercial e marketing Tissue da The Navigator Company.

Grande Consumo – A The Navigator Company decidiu, em 2015, diversificar a sua atividade e entrar na área do tissue, cuja aposta tem vindo a reforçar. Porquê esta opção estratégica e porquê naquele “timing”?
Nuno Anjo e Silva –
A entrada da The Navigator Company (NVG) no sector tissue faz parte da nossa estratégia de diversificação de negócio de uma forma sustentada na fileira do papel. Foi adquirida a unidade industrial dedicada à produção de papel tissue em Vila Velha de Ródão, antiga AMS, pelas suas valências competitivas, dotada de moderna e sofisticada tecnologia. Estamos a falar de uma das fábricas de tissue mais eficientes da Europa, explorando uma receita ainda muito pouco comum na indústria do tissue, mas perfeitamente central ao sucesso do grupo NVG: a receita da integração vertical.
Vimos em Vila Velha de Rodão muitos dos elementos da receita de integração NVG e, por isso, antecipámos o mesmo sucesso. Integrámos produção de papel tissue, a jusante, com a conversão em múltiplos formatos (papel higiénico, rolos de cozinha, guardanapos, etc.) e, a montante, com o abastecimento de pasta de papel por pipeline. Este modus operandi tem uma importante redução dos impactos ambientais e ganhos de economia e eficácia do processo produtivo.

GC – Como tem sido a contribuição do tissue para as vossas vendas?
NAS –
Em 2016 e 2017, as vendas apresentaram um crescimento saudável acima dos 2% a 3% do mercado. Em cinco anos, construímos uma sólida quota de mercado em Portugal e Espanha, reforçando a convicção na unidade de negócio tissue como avenida de crescimento mais importante para a The Navigator Company.

GC – Participaram recentemente numa das maiores feiras do sector em Espanha, na convicção de que podem vir a liderar o mercado espanhol nesta área. É um objetivo cuja concretização está bem encaminhada? Que ações têm vindo a implementar para o alcançar?
NAS –
A Feira Higyenalia é um dos principais eventos do sector, eminentemente focada no canal dito Away from Home, onde se incluem todos os produtos para utilização profissional. Sendo esse um segmento onde a NVG já detém uma forte presença em Espanha, com uma das carteiras de clientes mais importantes, não poderíamos deixar de estar presentes.
A feira permitiu-nos, sobretudo, apresentar o nosso plano de crescimento e algumas das novas soluções viabilizadas pela abertura da nossa segunda unidade fabril em Cacia. Claro que estes fóruns acabam por reforçar parcerias existentes e projetar novas, sobretudo num momento de expansão de volumes e carteira de clientes.

GC – E em Portugal, como se posiciona a The Navigator Company neste mercado, dominado por um “player” fortíssimo?
NAS –
A The Navigator Company é uma empresa com grande notoriedade e reconhecimento em Portugal e a unidade de negócio do tissue beneficia muito dessa imagem, algo que, todavia, pode ser ainda muito mais alavancado em termos de construção de marcas. No entanto, o nosso posicionamento e estratégia são diferentes do “player” que entendo que refere, sendo que felizmente existe espaço e procura para ambos. Quem ganha é o mercado e os nossos clientes, pela sã concorrência.

GC – Quais os objetivos concretos que têm para esta unidade de negócio? Retirar a liderança à Renova faz parte dos mesmos?
NAS –
Os nossos objetivos são claros: primeiro, consolidar a nossa operação a partir de Vila Velha de Rodão, servindo cada vez melhor todos os clientes; segundo, acelerar curva de crescimento a partir da nossa nova fábrica em Cacia, que arranca no segundo semestre deste ano. Para além da consolidação da nossa posição em Portugal, temos um objetivo muito significativo de crescer “fora de portas”, no mercado internacional.

GC – Atualmente, qual a capacidade de produção da The Navigator Company neste domínio? A segunda unidade de tissue em Cacia vai permitir que ganhos de capacidade de produção?
NAS –
A nossa capacidade atual em Vila Velha de Rodão é de cerca de 65 mil toneladas anuais. Com duas unidades fabris, acrescentaremos cerca de 70 mil toneladas de produção anual, mais do que duplicando a atual capacidade instalada e assumindo a segunda ou terceira posição no ranking dos maiores produtores de tissue na Ibéria.
A nossa nova fábrica situar-se-á no Complexo Industrial de Cacia, localizado em Aveiro, onde já possuímos uma unidade de produção de pasta de papel com capacidade de 350 mil toneladas ao ano. Recorrendo a pasta de papel própria, este projeto apresenta múltiplas vantagens, reforçando a aposta do tissue na receita da integração desde a floresta até ao produto acabado, vetor de sucesso da companhia.

GC – Qual o investimento em Cacia? Produzirá que tipo de produtos e para que mercados?
NAS –
Cacia representa um investimento de 121 milhões de euros. O projeto consiste na construção de uma fábrica altamente evoluída tecnologicamente, quer do ponto de vista industrial quer ambiental, onde será implementada uma nova máquina de produção de papel tissue e respetiva transformação em produto acabado.
Iremos produzir para distribuir em Portugal, Espanha, Reino Unido, França e Benelux.

GC – Que vantagens apresenta a The Navigator Company face a outros produtores de papel tissue?
NAS –
Esta nova unidade fabril de tissue será a única com um sistema de produção completamente integrado: florestas próprias, produção de pasta (350 mil toneladas ao ano), fabricação de papel e produto acabado. Este modelo integrado permite-nos competitividade (eficiência operacional e economias de escala), sustentabilidade (floresta certificada), diferenciação (desenvolvimento pasta de papel para distintos propósitos) e qualidade sustentada do produto final, derivada das modernas máquinas que vamos instalar e da qualidade da nossa madeira (Eucalipto Globulus).

GC – Como pensa a The Navigator Company continuar a crescer neste sector? As aquisições, nomeadamente em Espanha, fazem parte da agenda?
NAS –
O futuro da The Navigator Company passará também pelo tissue e este passa, particularmente, por continuarmos a crescer em todos os canais, no canal profissional e no canal de consumo, com principal foco no mercado espanhol.
Estamos focados no crescimento orgânico e sustentado, seja ele através de novos clientes, novos mercados, reforço de quota por cliente/mercado ou valorização da oferta Navigator com produtos diferenciados.

GC – O papel tissue é, e vai continuar a ser, um dos motores da procura de pasta de papel a nível global? É uma área de negócio que aporta mais margem?
NAS –
A área de tissue tem inúmeros desafios e oportunidades de crescimento, na Península Ibérica, mas também nos mercados emergentes. É um sector mais atrativo pelo potencial de crescimento do que pela rentabilidade, sendo que operadores integrados e eficientes como a Navigator deverão assumir um papel preponderante, otimizando custos, acrescentando valor e, como tal, reforçando rentabilidades médias.
O tissue é, por isso, uma aposta estratégica da companhia e uma parte importante do plano de crescimento do grupo, quer em faturação quer em lucros.

GC – Que importância têm as componentes da inovação e do marketing para vingar neste mercado?
NAS –
Acreditamos na inovação e no marketing como estratégicos em todos os mercados e, porventura, ainda mais naqueles onde menos pessoas acreditam neles. O crescimento da companhia no papel de impressão tem seguido com sucesso uma estratégia assente na inovação, culminando na superioridade do produto Navigator para as funcionalidades modernas de impressão, as quais antecipámos.
No que concerne ao tissue, julgamos que a última grande inovação neste mercado foi a invenção do rolo. Há um universo de possibilidades de diferenciação que não foi explorado, nem por nós nem por ninguém. Pode haver oportunidades de nicho que aumentem o valor médio por rolo, digamos assim. Começámos a trabalhar em ideias nessa área e esperamos encontrar uma ou duas ideias com um poder transformacional forte.

GC – Como analisa o atual momento do mercado dos produtos de tissue a nível europeu e, de forma particular, em Portugal?
NAS –
O mercado europeu está entre os mais maduros e, neste momento, sujeito a importantes desafios, o maior dos quais o da subida do preço da matéria-prima – pasta de papel – que representa a maior parte dos custos de produção.
Acreditamos que uma das tendências na Europa será a da integração de negócios para explorar economias de escala e de integração entre produção de papel e pasta. A Navigator posiciona-se como pioneira europeia desta tendência e exclusiva na Ibéria.
Outro desafio é, naturalmente, o da sustentabilidade do sourcing, área central de atenção da Navigator. Insistimos numa lógica de reflorestação e de economia circular que acreditamos ser ambientalmente tão ou mais credível e responsável do que a reciclagem.

GC – O que seria um bom ano para esta área de negócio da The Navigator Company?
NAS –
Como dito, servir bem os clientes atuais, reforçando base de negócio e as quotas atuais em Espanha e Portugal, e conseguir a confiança de novos clientes e mercados para assegurar um bom arranque da fábrica de Cacia.

Este artigo foi publicado na edição n.º 49 da Grande Consumo.

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