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“Não estamos no jogo para competir com outros kits de refeição”

A Venn chega ao mercado com uma caixa de alimentos para receitas 100% de origem vegetal. Uma oferta projetada para consumidores com gosto pela cozinha, mas também preocupados com os custos, focada em disponibilizar ingredientes produzidos de forma ética e sustentável. A Venn é uma empresa portuguesa “empenhada em fornecer refeições à base de vegetais aos cidadãos portugueses“, descreve o seu CEO, Snider Rodrigues, em entrevista à Grande Consumo, refletindo sobre a sua história, criação e posicionamento no mercado.

 

Grande Consumo – Como nasceu a marca Venn? Qual é a história por detrás desta marca e porquê o foco no “plant-based”?

Snider Rodrigues – Os três fundadores somos todos amigos. Eu e o Julian conhecemo-nos, há muitos anos, no Canadá, na escola, e conheci a Natacha, alguns anos depois, quando me mudei para o Porto. Cada um de nós tem paixões e pontos de vista diferentes, por isso, a conversa à mesa é sempre animada, cheia de paixão, humor e, até, alguns momentos de silêncio. Eu e a Natacha somos vegans e sempre encontrámos a necessidade de partilhar este estilo de vida com as gentes do Porto e de Portugal.

A Venn é o resultado de uma enorme vontade em criar um produto que seja sinónimo de mudança, para o bem das pessoas e do planeta. Saúde e sustentabilidade são as suas principais preocupações de, por isso, queremos que a Venn Box seja mais do que uma caixa: queremos que seja uma filosofia de vida. Pretendemos estreitar o laço entre a nossa comida e quem a produz, ambicionamos fazer parte da revolução alimentar e contribuir para um planeta mais feliz, com pessoas ainda mais felizes.

 

GC – Quanto tempo demoraram a preparar este projeto? Quais foram os principais desafios que tiveram que superar?

SR – Para a Venn, tudo começou no verão de 2020. Tínhamos uma ideia em que acreditávamos, mas o conceito era totalmente novo em Portugal, pelo que a maior dificuldade foi explicá-lo e obter financiamento. Juntamente com investimento pessoal, fomos capazes de iniciar o projeto e enfrentar o primeiro grande obstáculo.

Percebemos que, após explicarmos o nosso conceito, muitos entendem rapidamente o seu valor e força. Aprendemos também o quão importantes são as primeiras impressões e quão fundamental é lançar um conceito inovador.

 

Venn

 

GC – Com os consumidores confinados em casa, o mercado global de kit de refeições observou um “boom”, em 2020. A pandemia afetou os planos de expansão da marca?

SR – Sim, muito! O nosso produto é positivo para todos (para os nossos fornecedores, os nossos parceiros e os nossos consumidores) e, apesar de não termos avançado tão rápido como queríamos, a pandemia levou-nos também a dar o primeiro passo e a acreditar no lançamento de uma marca num mercado que não sabia o que eram kits de refeição.

Os nossos planos de expansão são lentos, mas estáveis, e esperamos que, nos próximos anos, as pessoas vejam valor em saber que a seleção de bons alimentos e fornecedores é importante para a saúde de alguém e que comprar produtos locais ajuda a nossa economia a crescer.

 

Os nossos planos de expansão são lentos, mas estáveis, e esperamos que, nos próximos anos, as pessoas vejam valor em saber que a seleção de bons alimentos e fornecedores é importante para a saúde de alguém e que comprar produtos locais ajuda a nossa economia a crescer.

 

GC – Como tem sido a recetividade do consumidor português, tendo em conta que se trata de um segmento ainda em crescimento no país?

SR – O interesse existe, mas, com a ausência de um diálogo individual, é muito difícil ganhar clientes. Os nossos primeiros clientes gostam de experimentar coisas novas e a comunidade vegan tem sido ótima, ajudando-nos a ter uma voz e partilhando a nossa mensagem. Queremos levar este produto a casa de muita gente e acredito que, uma vez que experimentem, verão todo o valor em ter uma caixa cheia de ingredientes deliciosos e com receitas incríveis entregues à sua porta.

 

GC – Como é o processo e, em geral, o que está envolvido em fazer-se kits de refeições?

SR – É algo muito simples: temos uma chef incrível, que trabalha com os ingredientes dos nossos
agricultores e fornecedores para fazer refeições de todo o mundo. Oferecemos, todas as semanas, no nosso site quatro receitas diferentes aos nossos consumidores e, uma vez selecionadas, recebemos o pedido, embalamos todos os ingredientes pré-doseados e entregamos a Venn Box à sua porta (ou pode ser levantada no nosso escritório). Cada receita vem com uma ficha de instruções que informa os nossos clientes sobre como recriar esta refeição na sua casa com apenas seis passos.

 

VennGC – Como são selecionados os ingredientes a serem incluídos e os fornecedores com quem trabalham?

SR – Procuramos sempre dar destaque à produção local. Os nossos produtos frescos, grãos e cereais são de pequenas empresas portuguesas que partilham os nossos valores e motivações. Se o fornecedor não for nacional, garantimos que preencha os nossos padrões éticos, além de estar também alinhado com nossos valores.

 

GC – Quais são os desafios de apresentarem um kit de refeição exclusivamente “plant-based”?

SR – Penso que o maior deles é dar a conhecer o seu sabor. As pessoas têm uma ideia errada de que as refeições de origem vegetal não são saborosas e que são aborrecidas ou sem graça. Por isso, decidimos ir buscar inspiração à Ásia, América Latina, África, Médio Oriente ou a vários países europeus para alcançarmos diferentes sabores e levarmos o mundo à mesa dos nossos consumidores, através da comida “plant-based”.

Em segundo lugar, penso que as pessoas, hoje em dia, têm dificuldade em tornar os vegetais ou a proteína vegetal o centro do prato. É normal porque são ingredientes novos e Portugal não cresceu com eles. Fazemos um trabalho difícil quando tentamos construir um hábito com cogumelos pleurotus, tofu ou grãos diferentes. Sabemos disso. Mas, da próxima vez que o nosso cliente estiver a planear um jantar ou estiver no supermercado, vai considerar esses alimentos porque já teve contacto com eles.

 

As pessoas têm uma ideia errada de que as refeições de origem vegetal não são saborosas e que são aborrecidas ou sem graça. Por isso, decidimos ir buscar inspiração à Ásia, América Latina, África, Médio Oriente ou a vários países europeus para alcançarmos diferentes sabores e levarmos o mundo à mesa dos nossos consumidores, através da comida “plant-based”

 

GC – Quais são os benefícios de uma alimentação “plant-based”?

SR – Durante anos, nutricionistas e cientistas alimentares elogiaram as vantagens da alimentação de origem vegetal e de cortar na carne. Uma dieta à base de plantas pode reduzir a pressão arterial, reduzindo, assim, o risco de desenvolver doenças nessa área. A carne contém gordura saturada, que contribui para, por exemplo, problemas cardíacos, quando ingerida em excesso. Assim sendo, ao cortar na carne e aumentando o consumo de alimentos vegetais, estamos a fazer um favor ao nosso coração e ao nosso corpo.

Mas não se trata apenas de limitar a carne – temos que nos certificar de que os alimentos à base de plantas que estamos a consumir são saudáveis. Isso significa ingerir grãos integrais, legumes, frutas, vegetais e óleos saudáveis, como o azeite, em vez de alimentos vegetais não saudáveis, como grãos refinados e bebidas açucaradas, que podem aumentar os mais variados riscos de problemas de saúde.

 

Venn

 

GC – Onde é que se pode encontrar a marca Venn em Portugal? 

SR – O nosso site é onde os consumidores podem adquirir o nosso produto. No entanto, como mencionado, tenho a opinião de que as pessoas gostam de provar essas receitas antes de se comprometerem a comprar. Por isso, realizamos também eventos pop-up, que nos permitem dar a provar a nossa comida e conversar com que nos visita. Sempre que temos um evento, publicitamos nas nossas newsletters semanais e em posts no Instagram. Inscrevam-se no site, sigam-nos nas redes e juntem-se ao nosso movimento.

 

GC – Em quantas cidades já vendem, no total? Como tem evoluído a marca e qual é a sua estratégia para o mercado nacional?

SR – Entregamos em todos os concelhos do distrito do Porto e em áreas selecionadas de Braga e Aveiro. Estamos ainda na fase inicial de operações, mas temos grandes ambições e estamos a estudar formas de entregar noutras cidades e localizações importantes. Mas, para já, o Porto é a nossa casa e a cidade em que mais apostamos.

 

GC – Há intenção de levar esta marca portuguesa para o mercado externo?

SR – Não tão cedo. Não temos pressa em expandir para o mercado externo. Existem kits de refeição em Espanha e diversos países europeus, mas Portugal parece ter sido evitado por ser considerado um mercado que não está pronto. Nós pensamos de outra forma.

Somos uma empresa portuguesa, empenhada em fornecer refeições à base de vegetais aos cidadãos portugueses. Não estamos no jogo para competir com outros kits de refeição. Temos como preocupação destacar os nossos agricultores e parceiros locais, enquanto entregamos refeições nutritivas e saborosas.

 

Somos uma empresa portuguesa, empenhada em fornecer refeições à base de vegetais aos cidadãos portugueses. Não estamos no jogo para competir com outros kits de refeição. Temos como preocupação destacar os nossos agricultores e parceiros locais, enquanto entregamos refeições nutritivas e saborosas

 

Venn

 

GC – Quais são os objetivos quantitativos e qualitativos da Venn para o segundo semestre de 2021?

SR – Sobreviver. Somos um bando de desajustados que se preocupa e pensa de forma diferente. Queremos ensinar as pessoas a comer conscientemente. Investimos muito neste projeto onde outros tentaram e falharam e, por isso, o nosso objetivo é chegar até o final do ano ainda em operações.

Os nossos funcionários são também uma das nossas maiores motivações. Eles arriscaram connosco por salários humildes, porque também acreditam no mesmo que nós. Portanto, a sobrevivência é o nosso objetivo e isso significa vender o máximo de Venn Boxes que pudermos, até ao fim do ano.

 

GC – Que previsões fazem para os próximos anos, tanto a respeito da marca como do universo de kits de refeição?

SR – Posso falar sobre previsão de receitas, mas isso é chato e é algo com que a nossa empresa se tem de preocupar. Por isso, gostaria de passar uma mensagem diferente. Estamos a construir algo novo e incrível. Queremos fazer as coisas de forma diferente, com uma forma distinta de nos promovemos, com receitas incomuns e maneiras de trabalhar que não vão de encontro ao paradigma. Queremos contratar mais jovens talentos e dar crédito a quem merece. Adoraríamos desenvolver um processo de cadeia de fornecimento, de forma a reduzir a pegada de carbono e o desperdício alimentar. Queremos grandes mentes a trabalhar numa solução para mudar a maneira como comemos e consumimos alimentos.

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