Mais de metade de Portugal continental corre o risco extremo de desertificação, mas a resposta a este risco “não está a ser eficaz e eficiente”, segundo o Tribunal de Contas Europeu.
Num relatório especial para o Parlamento Europeu, o Tribunal de Contas aponta os efeitos nefastos da agricultura intensiva e da insistência em políticas desajustadas para o país, como a insistência no regadio num país onde a água vai ser cada vez mais escassa.
Portugal foi um de oito países membros da União Europeia visitados por uma auditoria do Tribunal de Contas Europeu para avaliar a resposta da União Europeia ao risco crescente de degradação e desertificação dos solos. “Embora a desertificação e a degradação dos solos representem uma ameaça crescente, as medidas tomadas para combater a desertificação carecem de coerência e não existe uma visão harmonizada”, diz a auditoria.
No caso concreto de Portugal, o Tribunal de Contas Europeu critica a falta de sustentabilidade dos projetos. Por exemplo, cita um caso em que as autoridades decidiram, sem avaliar possíveis alternativas, que o cultivo de arroz era a única solução adequada numa zona com elevada salinidade, mas com pouca água.
O tribunal refere ainda que o Programa de Ação Nacional de combate à desertificação, supostamente atualizado em 2014, ainda não foi publicado e mesmo os projetos nacionais que apresentam resultados positivos não são replicados ou minimamente integrados numa visão estratégica para combater esta grave ameaça.
Este relatório reforça o que a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) e outras organizações de ambiente têm vindo a dizer. “É preciso procurar verdadeiras soluções para evitar que grande parte do nosso país se torne num deserto, soluções que passam por práticas verdadeiramente responsáveis e sustentáveis, não pela insistência em medidas de curto prazo e desajustadas como o regadio e a agricultura intensiva”, diz Joaquim Teodósio, coordenador do Departamento Terrestre da SPEA.
Para a SPEA, Portugal tem de abandonar as monoculturas florestais e agrícolas intensivas. Tem de abandonar igualmente os regadios intensivos, “que geram receitas milionárias para os investidores nos primeiros anos, mas não trazem emprego, nem qualidade de vida, e geram destruição e um passivo ambiental que será pago pelas gerações futuras“. O país tem de investir na floresta nativa, na agricultura diversificada, no pastoreio extensivo, nas variedades de plantas e nas raças de gado nativas e valorizar a biodiversidade e o carácter único da sua paisagem. “Só assim será possível gerar emprego e rendimento económico no mundo rural nos anos próximos e no futuro“.