O mercado global de bens de luxo registou um abrandamento na maioria das regiões, durante o primeiro trimestre, afetado pela instabilidade macroeconómica, revela o relatório da Bain & Company, preparado em colaboração com a Altagamma.
No entanto, a consultora destaca também o crescimento contínuo da restauração de luxo (alta cozinha), impulsionado em grande parte pela recuperação do turismo, que se tem notado especialmente na Europa e no Japão. Especificamente no Japão, o afluxo de turistas excedeu os níveis pré-pandemia, devido ao valor do iene, que atingiu o seu nível mais baixo em relação ao dólar americano em duas décadas.
Clara Albuquerque, sócia da Bain & Company, destaca que, “no caso de Espanha, como de Itália e de França, observa-se um crescimento. O sector foi fortalecido especialmente pelo aumento do turismo. No entanto, vivemos tempos de incerteza e as marcas terão de investir em fatores de crescimento, proteger os pilares fundamentais do seu negócio e otimizar a gestão de stocks para garantir a eficiência e a capacidade de resposta à procura do mercado”.
“Luxury shame”
A China, por seu lado, está a ver os seus cidadãos começarem a reativar o turismo noutros países, o que enfraquece a procura local e a confiança dos consumidores da classe média. À semelhança do que aconteceu na América, durante a crise financeira de 2008, o país vive o fenómeno da “luxury shame”, que está a provocar atitudes mais discretas e austeras por parte das grandes fortunas.
Por outro lado, o relatório indica que as gerações mais jovens, confrontadas com o aumento dos níveis de desemprego e a deterioração das perspetivas futuras, estão a adiar os gastos em artigos de luxo. Pelo contrário, a Geração X e os Baby Boomers têm maior poder de compra e estão a aumentar os seus gastos com estes produtos.
Joalharia é dos segmentos de maior sucesso
Por sectores, o estudo acrescenta que a joalharia é um dos segmentos de maior sucesso no panorama atual, superando os relógios em crescimento. Da mesma forma, o vestuário superou os acessórios numa estratégia voltada para clientes de alto padrão. Em contrapartida, o calçado registou um abrandamento entre os clientes aspiracionais, que estão a redirecionar os seus gastos para maquilhagem, fragrâncias e óculos.
Para atrair clientes com maior poder de compra, muitas marcas optam por organizar eventos de grande dimensão e expandir a sua presença em novos sectores, como o desportivo (paddle ténis, corridas e futebol). A Bain & Company destaca que as marcas de luxo terão um papel relevante nos Jogos Olímpicos de 2024, em Paris.
Já Claudia D’Arpizio, sócia da Bain & Company e líder da prática global de Bens de Luxo e Moda, salienta que “as marcas de luxo devem reconsiderar a sua proposta de valor, concentrando-se na confiança e na ligação com os consumidores, especialmente num contexto de polarização e pressões económicas. Este é um momento crucial e representa uma oportunidade única para redefinir estratégias que fortaleçam o vínculo entre marcas e clientes”.