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Mais de metade das importações alimentares da União Europeia provém de países vulneráveis ao clima

Café, cacau, arroz, soja, milho e trigo no centro da exposição climática

Foto Shutterstock

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A segurança alimentar da União Europeia poderá estar em risco se não forem adotadas medidas urgentes para mitigar os efeitos das alterações climáticas nos países de origem de muitos dos alimentos que entram no mercado comunitário. Esta é a principal conclusão do estudo conduzido pela consultora britânica Foresight Transitions, que analisa seis produtos estratégicos para o abastecimento alimentar europeu: café, cacau, arroz, soja, milho e trigo.

Segundo os autores, mais de 50% das importações europeias destes produtos vem de países com alta vulnerabilidade climática, o que significa que eventos extremos, como secas, inundações, pragas, degradação de solos e perda de biodiversidade, podem comprometer seriamente a estabilidade do aprovisionamento.

 

Exposição da Europa à instabilidade externa

O relatório identifica a elevada dependência da União Europeia de mercados externos e de rotas logísticas longas e frágeis como um ponto crítico. O arroz, por exemplo, é um dos produtos mais afetados: cerca de um terço do arroz importado pela União Europeia, num valor superior a 1.500 milhões de euros por ano, está ameaçado por alterações climáticas nos países produtores.

Além disso, produtos como o café e o cacau, dos quais a União Europeia é um dos maiores mercados consumidores, são fortemente impactados por variações de temperatura e disponibilidade de água, com consequências diretas na produção, na qualidade e nos preços. No caso da soja, utilizada massivamente na alimentação animal, a vulnerabilidade climática pode traduzir-se em desequilíbrios na cadeia alimentar mais alargada, com impacto nos preços da carne, do leite e dos ovos.

 

“Garantir a resiliência é uma questão de segurança alimentar”

O relatório apela a uma revisão urgente das políticas de comércio externo da União Europeia. Uma das recomendações é o reforço do apoio técnico e financeiro à adaptação climática nos países produtores, de forma a aumentar a capacidade de resposta a fenómenos extremos, melhorar práticas agrícolas sustentáveis e garantir a continuidade do fornecimento.

“Garantir a resiliência climática e da biodiversidade dos países parceiros é uma questão de segurança para a Europa, pois repercute diretamente na sua segurança alimentar”, sublinha a consultora Foresight Transitions.

Além da resiliência agrícola, o estudo aponta ainda a infraestrutura logística e portuária como áreas de vulnerabilidade, recomendando investimentos europeus em corredores logísticos mais robustos e sustentáveis para mitigar riscos de disrupção.

 

Crise alimentar global em pano de fundo

O alerta da consultora britânica surge num contexto de crise alimentar global, agravada por guerras, desastres climáticos e instabilidade económica. De acordo com o relatório anual da Rede Global contra as Crises Alimentares, publicado em maio, cerca de 295,3 milhões de pessoas em 59 países sofreram de insegurança alimentar aguda em 2024, mais 13,7 milhões do que no ano anterior.

Em estados como Gaza, Sudão e Sudão do Sul, mais de dois milhões de pessoas estão em situação catastrófica, enfrentando fome extrema, sem acesso a alimentos, água potável ou serviços básicos.

A análise reforça a necessidade de a União Europeia considerar a segurança alimentar como parte integrante da sua política climática, agrícola e de comércio externo. A longo prazo, sem uma resposta estratégica, os consumidores europeus poderão enfrentar aumentos de preços, escassez pontual de produtos e maior instabilidade nos mercados.

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Por Carina Rodrigues

Responsável pela redacção da revista e site Grande Consumo.

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