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Levantamento de medidas de confinamento não acaba com a solidão

Mais de metade dos portugueses referiram que a tecnologia os ajudou a sentirem-se próximos dos seus amigos e familiares

Foto Shutterstock

O novo estudo da Kaspersky, conduzido pela Arlington Research, revela que os europeus já sofriam de solidão muito antes da entrada em vigor das medidas de confinamento impostas pela Covid-19.

De acordo com os dados apurados, também os portugueses já se sentiam sozinhos antes da pandemia. Para alguns, o período de quarentena veio acentuar esta solidão. Com a crise pandémica ainda sem um fim previsto, as pessoas recorrem cada vez mais à tecnologia para se manterem ligadas aos seus ente-queridos e combaterem a solidão.

 

Maior uso da tecnologia

De modo a cumprirem as orientações do Governo no que respeita ao distanciamento social, muitas pessoas passaram a dar mais uso à tecnologia, uma vez que passam grande parte do seu tempo em casa. Em Portugal, cerca de 79% dos inquiridos pela Kaspersky admitem que os dispositivos tecnológicos os ajudaram a sentirem-se ligados a amigos ou familiares que vivem longe. Um número que está muito próximo da média europeia: 71%.

Por outro lado, cerca de 40% dos portugueses que participaram na investigação concordam que as restrições sociais resultantes da Covid-19 os fizeram sentirem-se mais confortáveis na utilização da tecnologia do que antes. Na Europa, 43% dos Millennials inquiridos e 53% das pessoas que vivem em agregados familiares com várias gerações afirmaram experienciar a mesma situação, o que mostra como o aumento do tempo em casa levou a uma maior dependência da tecnologia.

A psicoterapeuta e fundadora do conjunto de programas de desenvolvimento “Psyched”, Kathleen Saxton, acredita que, embora a tecnologia seja uma ferramenta que está a ajudar as pessoas durante a pandemia, a solidão é a maior epidemia que se abate sobre os seres humanos e que continuará a existir, mesmo quando ultrapassada a crise atual. “Durante o confinamento obrigatório, a Internet e as tecnologias digitais, como os smartphones, os notebooks e os computadores, foram um suporte fundamental. Foram estas que nos permitiram estar em contacto e sentirmo-nos mais próximos da família, dos amigos e de todas as pessoas que nos são significativas. A generalização da videoconferência teve também um papel decisivo nesta aproximação, de quem não podia estar
próximo fisicamente, ao permitir ver o rosto e, com isso, as emoções que, por essa via, se
expressam. A imagem e a visualização do rosto permitem um contacto humano muito mais
profundo. A ‘humanização’ da tecnologia será cada vez mais uma tendência no futuro”, comenta a psicóloga Rita Salazar Dias.

 

Geração Z, a mais solitária

O isolamento resultante da pandemia afetou ainda mais a saúde mental das pessoas e exerceu uma pressão adicional em todas as áreas da sociedade. De facto, mais de metade dos europeus (53%) que admitiram sentirem-se sozinhos durante a crise provocada pela Covid-19 revelaram que este sentimento de solidão foi mais intenso que no período pré-Covid. Em Portugal, a percentagem destas pessoas foi de 42,6%, valor muito próximo dos 41,8% de inquiridos que responderam terem sentido o mesmo nível de solidão durante e antes da pandemia.

Além disso, a Geração Z foi considerada a geração mais solitária da época. Nesse sentido, 68% dos europeus desta faixa etária admitiram sentirem-se sozinhos durante o confinamento, pelo menos numa parte do tempo (entre abril e maio), em comparação com apenas 37% da Geração Silenciosa (pessoas nascidas antes de 1946). Enquanto as gerações mais velhas são frequentemente consideradas prioritárias pelos governos e pela própria comunidade, de forma a garantir que não ficam isoladas, corre-se o risco de as pessoas mais jovens e em idade ativa estarem a perder o apoio que também precisam.

No entanto, embora a tecnologia esteja claramente a revelar-se um benefício, nem todos são peritos na sua utilização. Cerca de 36% dos portugueses afirmaram que desejariam ter mais conhecimentos de tecnologia, pois isso, ajudá-los-ia a sentirem-se menos sozinhos. “Penso que nunca tínhamos visto uma adesão em massa tão rápida à tecnologia. Normalmente, a tecnologia tende a entrelaçar-se mais gradualmente nas nossas vidas, mas a atual situação de pandemia forçou as pessoas que antes se afastavam da tecnologia a adotá-la. Alguns serviços, como as videochamadas ou as compras online, que em tempos foram utilizados ocasionalmente, tornaram-se agora essenciais. Embora seja uma boa notícia que aqueles que outrora receavam ou desprezavam, algumas tecnologias estão agora a recolher os benefícios, é importante estar ciente de que a consciência dos utilizadores em relação aos riscos online podem ficar muito aquém da sua compreensão sobre a forma de utilizar a tecnologia. Temos de garantir que se mantêm ligados em segurança. As ferramentas online e digitais que temos à nossa disposição, quando utilizadas em segurança, podem funcionar como um grande ‘medicamento’ para a solidão“, comenta David Emm, investigador principal de segurança da Kaspersky. “Temos a sorte de poder permanecer ligados online durante este período e o mais provável é que estes hábitos se mantenham, mesmo depois de terem sido levantadas quaisquer medidas de distanciamento social. É importante criar hábitos seguros online desde o início, para garantir que não somos vítimas de cibercrime, numa altura em que o coronavírus nos torna mais dependentes da tecnologia“, acrescenta.

 

Algumas conclusões

52% dos europeus que se sentem “sozinhos a toda a hora” desejariam ter mais conhecimentos de tecnologia.

41% dos europeus admitem que já se sentiram sozinhos antes de serem estabelecidas as regras de distanciamento social.

-68% da Geração Z sentiu-se “sozinha uma parte do tempo” entre abril e maio.

– 36% dos europeus sentem-se mais confortáveis a utilizar a tecnologia do que antes do surto do coronavírus.

– 71% dos europeus referiram que a tecnologia os ajudou a sentirem-se próximos dos seus amigos e familiares que vivem longe.

– 40% dos inquiridos afirmam que utilizarão mais tecnologia quando a pandemia terminar.

Por Carina Rodrigues

Responsável pela redacção da revista e site Grande Consumo.

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